Foi uma (muito longa) introdução para dizer algo de que há semanas toda a gente já suspeitava: Pedro Marques vai ser o cabeça de lista do PS às eleições europeias. Porque, justificou António Costa, o ainda ministro deu “contribuições relevantes” e tem uma “visão estratégica do futuro”, porque “conhece bem o país do ponto de vista social e do território”, porque personifica a “renovação” de quadros do PS.
Numa intervenção em que passou em revista os argumentos para a escolha do atual ministro do Planeamento e das Infraestruturas para a corrida às europeias, António Costa defendeu — na linha do que tinha feito no último congresso do partido — que “é a altura de o PS apostar na excelente qualidade de quadros” do partido. Quadros que “asseguram a renovação” de rostos do PS nos lugares de destaque, dentro e fora do país.
Costa lembrou Maria de Lurdes Pintassilgo, Mário Soares, António Vitorino e outros socialistas que lideraram as listas do PS a Bruxelas em eleições anteriores. “Escolhi alguém que, creio, está em excelentes condições para dar continuidade a essa tradição“, disse o secretário-geral do PS. Pedro Marques “conhece profundamente o país” e “conheceu como ninguém as [diferentes] realidades sociais”. O agora cabeça-de-lista — e, pelo menos até segunda-feira, ministro — tem uma “grande proximidade com todo o território” nacional”, porque “foi a 2/3 dos concelhos”. “Não há autarca com quem não tenha falado”, assegura Costa.
O líder do PS falou durante mais de 40 minutos. Pediu um “PS forte” e defendeu é ao PS que se deve a quadratura do círculo na Europa. “Sozinhos, contra tudo e contra todos”, os socialistas mostraram que “era possível estar na União Europeia, estar no euro e romper com a austeridade”.
“Não queremos passar do complexo do bom aluno para a arrogância de querermos ser bons professores”, diz o líder do PS. Mas Costa também não quer uma “falsa humildade”. E, por isso, arrisca: “Somos um bom exemplo para a Europa.”
Europeias vão penalizar “cassandras da direita” com discurso negativo
Pedro Marques deixa o Governo e está de malas aviadas para Bruxelas. O recém-anunciado cabeça de lista do PS lança já um trunfo, ao afirmar que o Governo que integra foi o responsável por colocar Portugal “no primeiro lugar a nível europeu na execução de fundos comunitários dos países com envelopes financeiros relevantes”.
Mais trunfos na manga: “fim do corte de salários e pensões”, “criação e mais de 350 mil empregos, “regresso ao investimento”, nomeadamente na ferrovia e nos aeroportos (os dossiês que liderou), além da “redução da pobreza” e das “contas certas”. Pedro Marques deixa de estar na linha da frente do Governo, mas promete continuar ao seu lado, para continuar a cumprir “o contrato de confiança” assumido para com os portugueses, e “levá-lo para a Europa”. “Se foi possível em Portugal, também tem de ser possível na Europa”.
Reforçar o compromisso com os jovens e a luta pela igualdade de género são outras das propostas do cabeça de lista do PS. Com um pé no Parlamento Europeu, o socialista aponta baterias aos adversários de sempre: “As cassandras da direita, a dificultar a tarefa, anunciando o Diabo” protagonizadas por Manfred Weber, o candidato do Partido Popular Europeu à Comissão Europeia, que defendeu a aplicação de sanções a Portugal, e que criticou por ter vindo ao Porto, pedir o voto dos portugueses, num passeio conjunto com Rui Rio e Paulo Rangel, que também não escapou às farpas. O cabeça de lista do PSD nestas europeias foi criticado por Pedro Marques pelo anúncio, em 2016, de um temido “novo resgate” e por dito que o “futuro de Portugal é uma parede”.
O cabeça de lista do PS afirma que a “Europa está numa encruzilhada” e que o futuro depende da escolha “entre a Europa dos populistas ou a Europa dos progressistas. Dos nacionalistas ou dos europeístas”.
O PS não tem dúvidas e Pedro Marques também não. A escolha recai num novo contrato social que nega a “Europa da troika” e a “Europa do Brexit”, e que defende uma Europa “unida e solidária, que não se fragmenta e não embarca em aventureirismos”, juntamente com António Costa e os amigos socialistas europeus.
A escolha dos eleitores vai fazer-se entre a “Europa da troika” e a “Europa Social”. Nesse embate, Pedro Marques pede “uma grande vitória para o PS”.
Santos Silva critica “as mesmas caras” nas listas às europeias
Minutos antes de António Costa subir ao palco, Augusto Santos Silva já tinha lançado o tom da campanha. Numa intervenção que antecedeu o encerramento do congresso, defendeu que a tarefa do PS estava facilitada para eleições de maio: da direita à esquerda, todos os partidos escolheram “as mesmas caras” para encabeçar as listas para o Parlamento Europeu. “Como é possível ser portador do futuro com as mesmas caras?”, questionou a sala. Com uma pergunta, Santos Silva varreu toda a oposição.
Augusto Santos Silva defende que o povo português apenas pode confiar no PS para “erguer a bandeira do futuro de Portugal”. E atira críticas da esquerda à direita, sem poupar parceiros nem adversários políticos.
À esquerda, Santos Silva critica as caras que duvidam da construção do projeto europeu, e que “sugeriam que o único caminho era sair da zona euro, abandonar moeda única” e “reestruturar nossa divida unilateralmente”. “Dúvidas, resistências e críticas” que atirou à esquerda mas que também estavam reservadas para direita.
Dizendo que os adversários facilitaram a vida ao PS nesta corrida europeia, o ministro dos negócios estrangeiros, criticou PSD e CDS PP que quiseram “ir além da troika” por serem “responsáveis, quer os que ainda lá estão, quer os que saíram para formar novos partidos, eles todos são cara do passado, e são responsáveis pelo maior ataque aos direitos sociais que a alguma vez democracia portuguesa conheceu”.
Para Santos Silva, os socialistas “os únicos capazes” de reforçar a Europa progressista, e Portugal é um exemplo, porque “virou a página da asutesridade”, e porque “contribuiu para reinvintar positivamente o futuro da europa depois da crise”.
António Costa chegou com meia de atraso, mas veio acompanhado de Pedro Marques, no dia em que é esperado o anúncio do ministro do Planeamento como cabeça de lista às europeias. Vinham também Eduardo Ferro Rodrigues, Carlos César, além do presidente da Câmara Municipal de Gaia e do presidente da distrital do PS/Porto, Manuel Pizarro, um dos nomes em cima da mesa para as eleições de maio.
Foi ele quem teve a primeira palavra. No palco da convenção que serve de tiro de partido para as europeias, Pizarro não fez qualquer referência ao seu futuro pessoal. Mas lá foi apostando no tom de campanha, ao pedir “força ao PS” e a pedir “uma grande vitória nas eleições de maio“. O presidente da maior distrital socialista continua em jogo, mas está à cautela. Pizarro defende que ” é com o PS e com António Costa que ultrapassamos os anos de chumbo da troika e recuperamos o prestígio para Portugal na Europa”. E “é o PS quem melhor defende Portugal na Europa”, sublinha.
Ser pró-europeu é hoje, cada vez mais, ser-se de esquerda. É ser-se de esquerda nos valores, na solidariedade, na visão humanista da sociedade, na proteção daqueles que mais precisam. E pode ser-se isso tudo sem transigir no rigor nas contas públicas, sem medo de exigir a conclusão da união económica e monetária”, defendeu Pizarro.
O adversário é evidente. Mas, se restassem dúvidas, Manuel Pizarro ainda acertou contas com o passado. Apontou à “atitude cúmplice do PSD e do CDS” que ficaram na “dúvida, a ver para onde soprava”, quando a Europa quis castigar Lisboa. “E, até posso perdoar, mas não consigo esquecer que foi o candidato da direita a Presidente da Comissão Europeia que tentou, em 2016, que a Comissão aplicasse sanções a Portugal”, recordou.
Perante os desafios no horizonte — Brexit, a ascensão da extrema-direita, o populismo —, Pizarro lembrou que a campanha até maio deve apostar em ideias “credíveis”. O caminho, diz, passa por “mais democracia, maior coesão”.
Assis não volta para Bruxelas. Mas quer estar na rua para as legislativas
Francisco Assis subiu ao palco da convenção do Partido Socialista para confirmar que não se vai recandidatar ao lugar de eurodeputado, depois de ter sido o cabeça de lista socialista nas últimas eleições.
Fazendo um balanço muito positivo dos cinco anos no parlamento europeu, o socialista afirmou que a decisão de não avançar surgiu depois de “uma conversa séria e civilizada” com António Costa. À entrada para o Pavilhão Municipal de Gaia, Assis — que há semanas se tinha posicionado para voltar a integrar a lista às europeias afastou quaisquer ressentimentos por ser carta fora do baralho.
Sempre disse que o secretário-geral tinha toda a legitimidade para fazer as escolhas que muito bem entendesse”, lembrou. “Não podemos estar agarrados aos cargos nem deixar de dizer o que pensamos com o objetivo de garantirmos a nossa permanência, seja em que função política for”, sublinhou ainda.
Francisco Assis não se exclui do dever de contribuir para a vitória do PS, nestas eleições, mas também nas próximas, nas legislativas. Assis, que chegou a disputar a liderança do Partido Socialista, promete participar ativamente nesta campanha europeia mas, reforçou, também na próxima.
Crítico das opções tomadas pela liderança de António Costa no Partido Socialista e no Governo, Assis relembrou a preocupação que expressou no último Congresso do PS: o preço que o partido teria que pagar com a governação da “geringonça”, com a perda dos valores europeus.
“Felizmente, isso não aconteceu”, reconheceu o eurodeputado, que valorizou a atuação do primeiro-ministro e secretário-geral socialista, já que PCP e BE foram “impelidos a aprovar orçamentos de Estado, que incluíam opções europeístas”.
“Há momentos para dizer que o meu caminho não é vosso. Não mudei em aspetos essenciais, mas este é o momento para convergir.”
Ferro Rodrigues apelou à mobilização e ao voto contra os “nacionalistas encapotados”
O presidente da Assembleia da República teme que o projeto europeu “se transforme num breve intervalo da história”, e anunciou aquela que diz ser a “carta de missão” dos eurodeputados portugueses: lutar pela “sobrevivência e renovação do projeto europeu que tínhamos por adquirido”, mas que está ameaçado.
Ferro Rodrigues citou François Mitterrand para afirmar que o “nacionalismo é a guerra”, e essa é a principal ameaça da Europa.
Para o socialista, “os movimentos populistas”, como no caso do Brexit, “não são mais do que as novas vestes da velha extrema-direita racista, autoritária e violenta”. Ferro Rodrigues exaltou os valores europeus e recusou “divisões simplistas que os populistas querem criar, algumas vezes com sucesso”.
O presidente da Assembleia da República ressalva que “a Europa deve considerar o papel próprio dos parlamentos nacionais”, mas alerta para os nacionalistas encapotados, aqueles “que que se dizem europeístas”, mas que em simultâneo querem um maior poder decisório e de veto nos seus parlamentos nacionais.
Ferro apela aos socialistas e aos portugueses para que não encarem estas eleições como tantas outras. “Não se trata de cumprir calendário”, muito menos de fazer avaliações da atuação do governo ou da oposição. O presidente da Assembleia da República diz que “as legislativas surgirão a seu tempo”.
Centeno levantou a convenção com uma rosa
Já tinham falado Manuel Pizarro, Carlos César e Ferro Rodrigues. Também ja tinham passado pelo palco Pedro Silva Pereira, Constança Urbano de Sousa e outros socialistas. Francisco Assis aqueceu a sala, mas foi Mário Centeno a levantar os socialistas da convenção. Bastou uma rosa.
O discurso durou uns bons 20 minutos. Mário Centeno fez o elogio do Governo, atirou aos movimentos populistas, defendeu o euro como “um dos símbolos mais fortes do trajeto comum” europeu. A sala foi aplaudindo. Mas, depois, mostrou a rosa que tinha trazido consigo. “Não preciso de mais nada”. E a sala levantou-se.
Logo de início, Mário Centeno quis ser “muito claro”: “O futuro de Portugal é na Europa e o futuro da Europa passa inevitavelmente por Portugal.” Porquê? Porque Portugal estava numa “encruzilhada política” mas tem hoje “um Governo que cumpre, cresce mais, mas cresce melhor, porque ganhou batalha contra o desemprego e a desigualdade”.
Como todos os que falaram antes de si, o ministro das Finanças, homem do leme do Eurogrupo, acenou com o fantasma do populismo. O “discurso político” não pode ficar nas mãos daqueles que “exploram espaço da abstenção”.
E lembra que “não foi a austeridade que fez a Europa, foi a solidariedade, a partilha de sonhos, foram as conquistas sociais”. Mas essa não é uma batalha ganha. “Se há lição que não temos de esquecer é a que não podemos dar nada por garantido”, avisou.
A intervenção estava a acabar. Centeno ainda disso que “o Governo do PS é obreiro deste percurso inigualável” de reposição de direitos e que “a presidência do Eurogrupo é um reconhecimento desse trabalho”. Antes do cair do pano, levantou o que tinha pousado à sua frente. “Uma rosa vermelha, não preciso de mais nada.”
[Em atualização]