O governo moçambicano anunciou esta quarta-feira que pondera encerrar as operações de busca e salvamento, considerando que o número de pessoas que precisam ser retiradas dos pontos mais afetados reduziu consideravelmente.

Nós diminuímos muito as operações de busca e salvamento e neste momento não podemos chamar de busca e salvamento. À medida que vamos tendo contacto com pontos isolados, apercebemo-nos que há pessoas que não estão em condições de ficar nestes pontos e nessas situações pontuais nós temos resgatado essas pessoas”, disse a diretora-geral do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades Naturais (INGC), Augusta Maita.

Aquela responsável falava durante uma conferência de imprensa no Aeroporto Internacional da Beira, centro de Moçambique.

De acordo com Augusta Maita, as autoridades moçambicanas não têm neste momento indicações de que haja pontos em que existam pessoas que precisam ser resgatadas, considerando, no entanto, que a assistência direta às populações afetadas continuará.

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“As águas estão a baixar e nós temos estado a fazer assistência direta. Temos estado a registar diariamente duas ou três pessoas que querem ser resgatadas”, acrescentou a diretora geral do INGC, observando que a prioridade continuará a ser as mulheres grávidas e pessoas em más condições de saúde.

A passagem do ciclone Idai em Moçambique, no Zimbabué e no Maláui fez pelo menos 786 mortos e afetou 2,9 milhões de pessoas nos três países, segundo dados das agências das Nações Unidas.

[Vídeo: exército português apoia aldeias isoladas de Moçambique:]

Moçambique foi o país mais afetado, com 468 mortos e 1.522 feridos já contabilizados pelas autoridades moçambicanas, que dão ainda conta de mais de 127 mil pessoas a viverem em 154 centros de acolhimento, sobretudo na região da Beira, a mais atingida.

As autoridades moçambicanas adiantaram que o ciclone afetou cerca de 800 mil pessoas no país, mas as Nações Unidas estimam que 1,8 milhões precisam de assistência humanitária urgente.

O número de pessoas salvas subiu de 127.626, registado na terça-feira, para 135.827, que estão em 161 centros de acolhimento.

Os abrigos e bens não alimentares chegam a 28.146 famílias, um aumento de cerca de 3.700 famílias beneficiadas.

Renamo questiona falta de previsão e atraso no socorro às vítimas

A deputa moçambicana do principal partido da oposição moçambicana, Renamo, Angelina Inoque criticou esta quarta-feira a falta de previsão e o atraso no socorro às vítimas do ciclone Idai, considerando que a resposta foi de “correr atrás do prejuízo”.

A tragédia que se abateu sobre a zona centro do país é um problema de todos os moçambicanos. O mais triste é o atraso no atendimento e socorro às vítimas do ciclone. Os problemas repetem-se de ciclone em ciclone, de tragédia em tragédia, de tempestade em tempestade”, disse Angelina Inoque.

A deputada, que falava durante uma sessão no parlamento moçambicano, em Maputo, lembrou que a chegada do ciclone era conhecida e questionou quais as medidas tomadas pelas autoridades para lhe fazer frente e minimizar os seus impactos nas populações.

“Acompanhamos o anúncio da chegada do ciclone. O que foi feito de concreto em relação aos moçambicanos nas zonas abrangidas? Como é que quem de direito se posicionou? Que meios foram alocados à espera do que já se previa? A Força Aérea onde esteve posicionada? Desde quando? Com que meios? A Marinha onde estava? Todos correram e correm atrás do prejuízo”, considerou.

Por outro lado, Angelina Inoque defendeu a necessidade de “repensar a qualidade” das vias de comunicação que são construídas no país.

Mais vale construir 20 quilómetros de estrada que sobreviva a qualquer intempérie do que mil quilómetros de estrada descartável…] Não podemos travar a passagem destes temporais, mas podemos minimizar os seus efeitos”, afirmou.

Apontando que a tragédia afetou algumas das zonas mais pobres de Moçambique, a parlamentar manifestou preocupação com a destruição e inundação das terras, num país em que grande parte da população “vive e sobrevive” da agricultura e onde 50% da população vive na pobreza.

A deputada da Renamo felicitou, por outro lado, os moçambicanos pela solidariedade manifestada com os compatriotas afetados pelo ciclone e agradeceu à comunidade internacional pelo apoio na resposta de emergência à catástrofe.