Para quem fez da lealdade a base firme de uma carreira de 40 anos como assessor de imprensa do PSD, não era fácil responder a uma das questões que mais curiosidade suscitava aos jornalistas: de todos os líderes com quem trabalhou (e foram 17), de quem se sentia mais próximo? A resposta era conhecida, se fosse alguma coisa, Zeca era “marcelista” e acabou por assumi-lo quando no final de 2017 saiu da São Caetano à Lapa e trocou a sede do PSD pela Presidência da República.

Morreu Zeca Mendonça, histórico assessor do PSD

Seria uma experiência surpreendentemente curta, não mais que um ano e meio passado em Belém, a assessorar o homem com quem porventura teve uma das últimas conversas, menos de dois dias antes de morrer.

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É sobre esses momentos e o que eles significaram de “constância” de uma vida marcada pela “simpatia e delicadeza” no tratamento dos outros, e sobre o que no fim ainda “fazia brilhar os seus olhos”, que fala Marcelo Rebelo de Sousa num texto de homenagem a Zeca Mendonça partilhado com o Observador:

“O impressionante na vida de Zeca Mendonça, tal como ele era conhecido por toda a gente, foi a sua constância do princípio ao fim.

Nas duas últimas vezes em que estive com ele, no domingo durante a noite do seu aniversário e, de novo, na terça-feira, ao começo da noite, aquilo que ainda fazia brilhar os seus olhos era exatamente o mesmo que tinha presidido à sua vida de mais de quarenta anos no PSD e de quase um ano e meio na Presidência da República: saber como ia a situação política nacional, acompanhar cada pormenor das últimas deslocações e a programação para o futuro próximo. E, ainda mais do que tudo, apurar como iam as sondagens do PSD.

Sempre com a mesma simpatia, delicadeza no tratamento de companheiros e adversários, o mesmo cuidado com o funcionamento dos serviços em que tinha trabalhado, a mesma humildade e compreensão com que lidara com tudo e todos ao longo da vida.

No domingo, ainda acompanhando com esforço a conversa e tentando mostrar-se animado. Na terça, ouvindo, concordando com gestos, naquela que foi talvez a última conversa verdadeiramente interessada naquilo que se passava à sua volta. Sempre com a lucidez de quem tinha a certeza do carinho que tinha deixado no percurso agitado e praticamente único na vida partidária portuguesa em termos de convívio com tantos líderes e tantos militantes e tantos eleitores do PSD, mas também com tantos dos demais partidos portugueses”.