Mário Centeno reconhece, numa reportagem escrita pelo correspondente do Financial Times em Lisboa, que não houve uma “dramática” viragem da austeridade na governação liderada pelo Partido Socialista, apoiada pelos partidos da esquerda. O ministro diz que o governo em que é figura-chave fez, de facto, “mudanças”, mas “não foram grandes mudanças” em relação à trajetória que estava a ser seguida pela governação anterior, diz o ministro das Finanças.
As declarações surgem num longo artigo que o diário financeiro britânico dedica, esta quarta-feira, à situação da economia portuguesa. Uma economia que, segundo Centeno, estava a registar um crescimento “muito fraco” e “em desaceleração” em 2015.
“Era preciso fazer uma mudança, mas não uma mudança grande“, afirma Centeno.
O ministro das Finanças diz que o “truque” foi “comprometer-se com um caminho e manter-se fiel a ele”, o que, na sua opinião, proporcionou “um salto tremendo na confiança e na atividade económica” a partir da segunda metade de 2016.
Olho sempre com desconfiança para visionários que pensam que sabem mexer em grandes máquinas. Eu tenho medo de grandes máquinas”, refere Centeno, citado pelo FT.
O artigo do FT tem, como título, a questão: “Portugal, um caminho europeu para sair da austeridade”. Além das palavras de Centeno, António Costa também aparece no artigo a lembrar que “as pessoas olhavam para as nossas políticas económicas com ceticismo, mas mostrámos que é possível aumentar os rendimentos das pessoas, aumentar o investimento privado, baixar o desemprego e, mesmo assim, ter finanças públicas saudáveis”.
Os dotes de “comunicador” de António Costa são elogiados por um deputado italiano, ex-ministro, Ivan Scalfarotto. Na leitura que é feita por este deputado italiano, em Portugal “a despesa pública tem-se mantido sob controlo, os custos unitários do trabalho baixaram e, assim, têm conseguido atrair mais investimento estrangeiro e aumentar as exportações” — e António Costa é “um bom comunicador, sublinhando a ideia de que os sacrifícios tinham terminado ao mesmo tempo que mantinha a coligação intacta”.
Mas o jornal assinala, baseando-se na conversa que teve com Mário Centeno, a importância que teve a queda dos juros pagos na dívida pública. Os programas de estímulo do BCE baixaram as taxas de juro absolutas de todos os países europeus e Portugal, algo que foi decisivo para a redução mais rápida do que o previsto no défice, reconheceu o ministro das Finanças.