A administração de Donald Trump está atualmente a estudar a hipótese de responder ao abate de um drone norte-americano por forças iranianas, mas de forma “comedida”. A informação foi avançada pelo líder republicano no Senado, Mitch McConnell, que esteve presente num “briefing” na Casa Branca esta quinta-feira, 20 de junho.

Mitch McConnell foi convocado para a reunião desta quinta-feira, assim com outros líderes dos dois principais partidos no Congresso e no Senado. O objetivo do encontro, inicialmente revelado pela imprensa norte-americana citando fontes não identificadas, seria avaliar a evolução da escalada de tensão entre Estados Unidos da América e Irão e discutir eventuais respostas do Pentágono à ofensiva iraniana, que teve como alvo um drone norte-americano.

Um “colaborador sénior” (isto é, com experiência e relevância hierárquica) da presidência começou por revelar à CNN que a reunião decorreria na “Situation Room”, a histórica sala da Casa Branca cujo nome em português significa algo como “Sala de Crise”. É nesta “Situation Room”, que funciona como sala de conferências e centro de comando militar, que são habitualmente discutidos e avaliados os conflitos diplomáticos e as ameaças à segurança nacional.

No final do encontro, o líder da minoria democrata no Senado, Chuck Schumer, também falou — e com um tom menos tranquilizador do que o de Mitch McConnell. Schumer afirmou ter dito a Trump que “estes conflitos têm a sua forma própria de escalar” e avisou: “O Presidente pode não ter a intenção de entrar numa guerra, mas estamos preocupados que ele e a sua administração possam cair nela acidentalmente”.

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Dissemos que a posição dos Democratas é que a aprovação do Congresso é necessária antes de se financiar qualquer tipo de conflito no Irão. Uma das melhores formas de evitar cair acidentalmente numa guerra, uma guerra que ninguém quer, é ter um debate robusto e aberto, é o Congresso ter verdadeiramente uma palavra a dizer. Aprendemos essa lição com o período que antecedeu o Iraque [a guerra no Iraque]”, apontou ainda.

A reação de Trump: “Grande erro”

Ao início do dia, forças iranianas abateram um drone militar norte-americano no estreito de Ormuz. A notícia foi inicialmente avançada pela televisão estatal iraniana Press TV e depois confirmada por responsáveis norte-americanos. Teerão reconheceu a ação mas justificou-a dizendo que o aparelho violou espaço aéreo iraniano. Os norte-americanos, por sua vez, negaram essa acusação.

No Twitter, Donald Trump começou por dizer que o “Irão cometeu um grande erro”, sem adiantar para já que consequências poderão resultar desse erro. Já questionado pelos jornalistas sobre se o país irá retaliar, afirmou apenas: “Em breve saberão”. O presidente norte-americano afirmou ainda que os EUA “não vão tolerar” erros destes, mas não dramatizou demasiado o tom, lembrando: “Não tínhamos ninguém no drone. Teria sido muito, muito diferente se ele estivesse a ser pilotado”. E até admitiu que o ato tenha sido um erro humano, o de um “oficial iraniano estúpido ou descuidado”.

Apesar dos receios que decorrem da continuação da escalada de tensão entre os dois países, a CNN lembra que Donald Trump “afirmou em privado nas últimas semanas não estar interessado em avançar para outro conflito internacional”. O presidente dos EUA terá aliás expressado a sua frustração, em privado, com o discurso mais duro veiculado pelos seus conselheiros e apoiantes, garantindo ainda assim que isso não o faz querer avançar para mais “guerras intermináveis”.

Putin avisa: uso de força dos EUA desencadearia “uma catástrofe”

O presidente russo Vladimir Putin já reagiu à notícia do abate de um drone norte-americano por autoridades iranianas. Citado pela agência de notícias Associated Press, Putin avisou que uma resposta com uso de força dos Estados Unidos da América desencadearia “uma catástrofe na região, no mínimo”.

Já o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, enviou uma mensagem de apoio a Donald Trump e aos Estados Unidos da América. Numa declaração citada pela agência Reuters, o atual governante de Israel afirmou: “Nas últimas 24 horas, o Irão intensificou a sua agressão contra os Estados Unidos da América e contra todos nós. Reitero o meu apelo a todos os países que amam a paz para apoiarem os Estados Unidos nos seus esforços para parar as agressões iranianas. Israel apoia os EUA nisto”.

A União Europeia, por sua vez, informou que altos dirigentes da França, Alemanha, Reino Unido, mas também da China e da Rússia, vão encontrar-se com responsáveis iranianos no dia 28 de junho em Viena. Em cima da mesa estão discussões que tentam salvar o acordo nuclear assinado com Teerão em 2015 e que Donald Trump denunciou pouco depois de ter achado à presidência dos Estados Unidos. A reunião vai lidar com os desafios que resultam da imposição de sanções americanas que afetam também as empresas dos outros países subscritores do acordo que fizerem negócios com o Irão.

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Irão quer provar à ONU que EUA mentem: “Estão a invadir o nosso território”

“É difícil de acreditar que tenha sido intencional”. A frase foi proferida por Donald Trump, que optou por não deitar publicamente lenha para a fogueira que é a relação diplomática entre os dois países. A versão, contudo, acabou contrariada pelas autoridades iranianas, que não só assumiram a intencionalidade da ação como a defenderam, face a uma alegada “invasão” do espaço aéreo iraniano que imputam aos norte-americanos.

A Guarda Revolucionária Iraniana afirmou mesmo ter abatido um “drone espião americano”, na província costeira de Hormozgan, como começou por relatar a Press TV. O incidente serviu de aviso: foi “uma mensagem clara [enviada] à América”, declarou o comandante Major-General Hossein Salami, segundo a BBC.

Posteriormente, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Mohammad Javad Zarif, afirmou: “Vamos levar esta nova agressão perante a ONU e mostrar que os Estados Unidos mentem quando dizem que o drone estava sobre águas internacionais. Os Estados Unidos sujeitaram o Irão ao seu terrorismo económico, realizaram ações clandestinas contra nós e agora estão a invadir o nosso território”.

O representante de Teerão concluiu a mensagem afirmando que as autoridades iranianas “não procuram a guerra”, ressalvando, no entanto, que irão “defender até ao fim” o céu, a terra e as águas territoriais do país.

A província iraniana de Hormozgan (capital Bandar Abbas) fica perto do estreito de Ormuz

A versão irana foi negada com contundência por um responsável militar norte-americano à CNN, que assegurou que o drone circulava no espaço aéreo internacional e não na zona de soberania iraniana. À agência Reuters, o porta-voz militar dos EUA Bill Urban sublinhou que nenhum equipamento militar do país sobrevoou o Irão.

A divergência também surge sobre o tipo de equipamento em causa. A agência de notícias iraniana IRNA identificou o drone em causa domo um RQ-4 Global Hawk, mas uma fonte norte-americana disse à Reuters tratar-se de um MQ-4C Triton.

Os antecedentes desta escalada de violência

O presidente do Conselho Supremo de Segurança Nacional Iraniano, Ali Shamkhani, tinha avisado na véspera (quarta-feira, 19 de junho) que o espaço aéreo iraniano é “a linha vermelha” de Teerão. “O Irão sempre respondeu e continuará a responder fortemente a qualquer país que viole o nosso espaço aéreo”, declarou.

Na semana passada já tinha havido um incidente semelhante, com os EUA a acusaram o Irão de ter tentado abater um drone norte-americano que fazia vigilância no golfo de Omã. A 6 de junho um destes equipamentos dos EUA já tinha sido abatido no Iémen pelas tropas Houthis, apoiadas pelo Irão.

Os incidentes acontecem num período de extrema tensão entre os dois países. Na semana passada dois petroleiros norte-americanos foram atacados em Ormuz. Washington acusa o Irão de ser responsável pelo ataque. Como resposta, Teerão declarou estar preparado para aumentar a sua produção nuclear. Os EUA reagiram anunciando o envio de mil tropas para o Médio Oriente.

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