O processo foi penoso e exigiu muitos flic flacs à retaguarda do PS de António Costa no ambiente pré-eleitoral de 2015. O líder socialista chamou um grupo de 12 economistas (seis dos quais chegaram depois ao Governo) liderado por Mário Centeno para lhe preparar as bases económicas do programa eleitoral e calcular o impacto das medidas pretendidas, ou o cenário macroeconómico para os anos que se seguiriam. Foi avançado um conjunto de medidas que rapidamente se tornaram polémicas — como por exemplo a dupla redução da Taxa Social Única — e algumas tiveram de ser deixadas para trás. Apesar de tudo, o PS prepara-se para repetir a estratégia de 2015 e vai voltar a apresentar um cenário.
Centeno chegou a perder-se nos números na apresentação do programa, na sede nacional do PS em abril 2015, pouco habituado que estava aos holofotes políticos. Na altura era só uma suspeita de que seria o preferido de Costa para ocupar o cargo nas Finanças caso o socialista chegasse mesmo a primeiro-ministro. Meses depois, perante essa realidade, Centeno foi mesmo o homem escolhido. Não se sabe ainda se lhe caberá agora a apresentação do cenário macroeconómico em que o PS fundará o seu novo programa eleitoral, na repetição de estratégia que Costa se prepara para fazer.
Quem o assumiu ao Observador foi João Tiago Silveira, justificando desta forma que ainda não seja possível detalhar as medidas que o PS alinha no esboço de programa eleitoral que está a levar, por partes, a discussão pública. “Faremos o cenário macroeconómio que garanta a sustentabilidade das medidas, como fizemos no último programa eleitoral. Daremos essa garantia”, sublinhou o coordenador do gabinete de estudos do PS. “Não vai ser diferente”, assegurou o socialista que considera que a estratégia de 2015 “deu bons resultados”.
João Tiago Silveira explica que a discussão do que agora está a ser apresentado já “leva meses a ser feita por todo o país”. E que, no final, “com todo o programa em cima da mesa, calibraremos todas as medidas e possibilidades”. As medidas que o PS apresentar serão “testadas do ponto de vista económico e financeiro, num cenário macroeconómico que terá por base o Programa de Estabilidade e Crescimento” entregue em Bruxelas em abril passado.
O socialista só se fecha em copas sobre por quem e como será articulado esse cenário que, em 2015, Costa usou para “credibilizar as principais medidas do programa eleitoral e evitar, a prazo, situações de bloqueio entre as promessas e a realidade do país”.
A equipa de então era chefiada por Mário Centeno, e constituída por Manuel Caldeira Cabral (que foi ministro da Economia do Governo que se seguiu), Francisca Guedes de Oliveira, João Leão (secretário de Estado do Orçamento), João Nuno Mendes (presidente da Águas de Portugal nomeado por este Governo), Paulo Trigo Pereira (deputado que entretanto abandonou o grupo parlamentar do PS e passou a não inscrito), Vítor Escária (que seguiu para conselheiro no gabinete do primeiro-ministro saindo depois da polémica das viagens da Galp no Euro 2016), Sérgio Ávila, Vieira da Silva (ministro do Trabalho), João Galamba (secretário de Estado da Energia), Fernando Rocha Andrade (secretário de Estado dos Assuntos Fiscais até ao Galpgate) e Elisa Ferreira (que deixou de ser eurodeputada e passou a vice-governadora do Banco de Portugal em 2017).
Esta segunda-feira, o líder do PSD, Rui Rio, também recorreu à mesma estratégia apresentando o cenário macroeconómico subjacente ao seu programa eleitoral, com as metas que pretende alcançar e as folgas que antevê para aplicar as medidas que entende prioritárias. Nestas inclui-se a promessa de reduzir a carga fiscal no valor total de 3,7 mil milhões de euros até 2023.