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Rui Tavares foi o primeiro a falar de um acordo de esquerda, ainda antes de Costa inventar a “geringonça”. Em 2015, o seu Livre não teve força para entrar nem na Assembleia nem na geringonça, mas agora quer estar em ambas. O fundador do Livre acredita que “o partido pode ter um grupo parlamentar”. No programa Vichyssoise da rádio Observador, Rui Tavares disse esta sexta-feira que “a grande novidade” das próximas eleições é precisamente saber se o país “vai ter o Livre na maioria de esquerda na Assembleia da República ou não“. Apesar de acumular desilusões eleitorais, Rui Tavares diz estar ainda mais “otimista” do que antes das Europeias de maio.
Para Rui Tavares o facto do Livre poder integrar a chamada geringonça é uma “novidade decisiva”, uma vez que Portugal passa a ter “um partido ecologista livre independente” a fazer parte de uma solução de governação. E apontou baterias a PEV e PAN, ao dizer que seria o primeiro partido “não enfeudado a uma coligação” (farpa para Os Verdes) e que não vem de “uma agenda restritiva animalista” (farpa para o PAN).
O fundador do Livre não nega ser uma espécie de pai da “geringonça”, já que antes desta solução havia em Portugal um “carro emperrado que virava sempre para o mesmo lado” e ele começou a acreditar que era possível um entendimento entre PS, PCP e BE. No entanto, há defeitos nesta primeira versão da “geringonça” que Rui Tavares quer mudar: “Foi mais remendo do que remédio. Não foi solução para os problemas estruturais [do país], porque o Livre não está lá”.
Segundo Rui Tavares, o Livre diz que é diferente pois ocupa o espaço de uma “esquerda verde, anti-austeritária, pró-europeia”. O Livre defende ainda uma “profunda democratização da União Europeia “, que diz o que nenhum outro partido defende por diferentes razões (PS,PSD E CDS porque estão confortáveis; PCP e BE porque são eurocéticos). Para Rui Tavares, a “União Europeia deve ser a maior democracia transnacional do mundo” e pode ser a única “hipótese de ter uma palavra a dizer na globalização, no combate à crise económica”.
Quanto ao salário mínimo nos 900 euros, algo que o programa do Livre defende, Rui Tavares diz que é essencial o salário mínimo português acompanhar o espanhol, que subiu para 1050 euros.
Apesar de acumular alguns desaires eleitorais (que não são lidos assim pelo fundador do Livre), Rui Tavares acredita ainda que o “Livre pode ter um grupo parlamentar, ter mais de um deputado. É possível eleger a Joacine Katar Moreira, e Carlos Teixeira número dois por Lisboa e eventualmente o Jorge Pinto pelo Porto.”
“O vídeo tornou-se viral, porque a Joacine gagueja”
Rui Tavares falou ainda sobre a entrevista — que se tornou viral, de Joacine Katar Moreira na rádio Observador. O fundador do Livre quis, no imediato, “pôr em cima da mesa porque se tornou viral” o vídeo: “Tornou-se viral porque a Joacine gagueja. E nessa entrevista ela gaguejou mais, muito mais do que é habitual”.
Rui Tavares quis depois contribuir para “descontaminar o ar” em relação a esse assunto e recusou-se a “entrar numa espécie de argumentação que faria de alguém que gagueja um cidadão menor, um cidadão de segunda, em Portugal”. O fundador do Livre convidou depois “as pessoas a irem à Internet e verem as intervenções públicas da Joacine, e verem como elas são consistentes, como elas são coerentes e como temos ali uma candidata que traz uma agenda nova, que vem do ativismo anti-racismo, do ativismo feminista”.
Enquanto historiador, Rui Tavares explica que a sua “função não é ver um facto histórico e fazer de conta que não o vejo”. Neste caso diz que está perante um. “Ser uma mulher negra pela primeira vez a protagonizar uma candidatura à Assembleia da República como a cabeça de lista em Lisboa e ser uma eventual deputada eleita nessas condições é histórico. É um facto histórico num país que tem negado o seu racismo estrutural e, portanto, vamos assumi-lo”. Rui Tavares rejeita ainda “fazer de conta” que Joacine não é mulher nem negra, já que “isso seria indigno em relação à própria candidata.” Além disso, o cabeça de lista do Livre às Europeias destaca que Joacine tem “um discurso muitíssimo mobilizador”. Lembrou ainda que, quando esteve em Bruxelas, um dos eurodeputados mais importantes e influentes era Andrew Duff, que “gaguejava muito mais que a Joacine”. E isso nunca o impediu de exercer essa influência.
“Jantava com Louçã para lhe dizer umas verdades”
Na fase de “Carne ou Peixe”, em que os entrevistados têm de escolher uma das duas opções apresentadas, o fundador do Livre recusou dizer se aceitaria mais facilmente ser eurodeputado pelo Bloco ou ministro num governo liderado pelo PS. Já sobre se preferia jantar com Pedro Passos Coelho ou Francisco Louçã, Rui Tavares não fugiu à questão e disse que “preferia jantar com Louçã para lhe dizer umas verdades que ele precisa de ouvir“.
Quanto ao maior sapo que teria que engolir — entre votar no Bloco e no PCP — Rui Tavares disse que “em nenhum dos casos seria engolir um sapo”, já que “se não existisse Livre” os votos nestes partidos seriam “votos que não desonram”.
Quanto a se tem mais orgulho no seu talento para a dança ou para tocar trombone, Rui Tavares diz que é mesmo da sua veia de dançarino que mais se orgulha: “Eu aprendi a dançar em Cabo Verde, o jogo de pés é muito bom, mas não se vê no vídeo [de apresentação da cabeça de lista do Livre por Lisboa]”.