Dois smartphones topo de gama, um smartwatch e uma televisão. Durante a tarde desta quinta-feira, foi isto que a Huawei apresentou em Munique, na Alemanha. Apesar das notícias recentes — a Huawei está numa “lista negra” dos EUA e, se tudo continuar como está, vai ficar proibida de negociar com empresas como o Facebook ou a Google –, não houve referências ao embargo norte-americano nem certezas quanto à forma como os utilizadores poderão desfrutar do sistema operativo do novo Mate 30 e Mate 30 Pro. Por enquanto, sabe-se que têm por base o Android, da Google, e que não vêm com as apps ou serviços da gigante norte-americana já instaladas, mas não foram adiantados mais detalhes sobre as alterativas ou modos de funcionamento.
Se quiser rever a apresentação, clique no vídeo abaixo.
https://www.youtube.com/watch?v=BMd7ZX-eXY4
Richard Yu, o presidente executivo da Huawei Consumer BG, começou por afirmar que a marca cresceu nas vendas de todos os segmentos de produtos desde janeiro e que o Mate 20, o último smartphone da gama Mate, vendeu “16 milhões de unidades”, realçando as qualidades da câmara fotográficas. Depois dos auto-elogios introdutórios, deu a primeira novidade: o Mate X, o primeiro smarphone dobrável da Huawei vai ser vendido na China já em outubro. Houve tempo para novos relógios e novidades sobre a loja de aplicações da empresa, mas o foco principal foram os smartphones Mate 30 e Mate 30 Pro.
Há perguntas que ficaram o ar. Como vão poder — se é que vão poder — os consumidores instalar aplicações da Google nos novos smartphones da Huawei? Ou: quando é que estes equipamentos vão chegar ao mercado? O smartphone pode vir a receber o sistema operativo próprio da Huawei? Ao Observador, a Huawei esclareceu mais detalhadamente alguns destes pontos. “O Android é o sistema operativo de eleição para os nossos smartphones”, mas que — por agora — não tem Google, mas já lá vamos. Primeiro, a gama Mate 30.
Quais são os novos smartphones da Huawei que mantém um Android base, mas sem apps da Google?
A Huawei apresentou no evento o EMUI 10, o sistema operativo que construiu por cima de uma versão aberta do Android 10, da Google. Como é que faz isto estando sob um embargo que não deixa a empresa negociar com a Google? Pouco ainda foi explicado. Contudo, a versão da Huawei baseada no Android traz a maioria das novas funcionalidades do sistema operativo móvel da Google. Como tem sido noticiado, é possível que a marca esteja a utilizar apenas a versão base do Android. Ou seja, não vem instalado com aplicações como a loja de apps da Google, o Gmail ou o Google Maps, ficando o consumidor dependente da loja de aplicações interna da Huawei (as imagens dos smartphones mostradas no evento não mostram nenhuma aplicação da Google).
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A principal característica da nova série Mate continua a câmara fotográfica traseira
Apesar de utilizar como base a versão livre do Android, o EMUI 10 tem especificações próprias da gigante chinesa. Entre as principais novidades está um sistema que permite seguir a cara do utilizador e dar ordens ao smartphone com gestos. Ou seja, mexer no telemóvel sem tocar no ecrã e este sabe sempre qual é a posição da cara.
Os smartphones Mate 30 e Mate 30 Pro têm ecrãs de 6,62 e 6,53 polegadas, respetivamente. Já a bateria, tem grande autonomia: 4200 miliamperes e 4500 miliampéres. O design mantém a tendência introduzida com o Mate 20 e utiliza um entalhe — “notch” — que têm uma câmara para selfies com três lentes (para um efeito 3D nas fotografias). Há ainda dois sensores para gestos e para reconhecer a luz ambiente.
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O Mate 30 Pro tem um ecrã de canto a canto com um entalhe à semelhança do Mate 20 (no P30 Pro é mais pequeno)
Há outras novidades, como a ausência de botões físicos laterais para volume. Como vai funcionar? O ecrã inclinado tátil permite controlar de lado estas funcionalidades. Quanto à resistência, a Huawei afirma que os novos equipamentos cumprem os requisitos máximos no mercado, tendo certificado IP68. Quanto à velocidade, os equipamentos utilizam o processador kirin 990 5g, apresentado na IFA. Segundo a marca, a performance é bastante superior à dos modelos anteriores, que já eram dos mais rápidos. Ao todo, há 21 antenas nestes equipamentos para garantir que a cobertura de rede é sempre fiável — seja em 4G, ou em 5G (a próxima infraestrutura de rede).
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A Huawei afirma que este é “o entalhe [notch] mais sofisticado]”
Um dos principais focos da apresentação foram as características do vídeo dos equipamentos: 4K, muitos frames por segundos e possibilidade de filmar em câmara lenta. Com os Mate 30, a Huawei quer continuar a tentar destacar-se da concorrência. À semelhança dos outros eventos não faltaram comparações diretas a modelos das Samsung, como o Note 10+, ou da Apple, como o iPhone 11 Pro Max.
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Os novos Mate 30 não vão ter pré-instaladas as aplicações da Google
Relativamente a cores, há seis, incluindo uma versão com “cabedal vegan”. Os equipamentos vão manter funcionalidades como o carregamento sem fios e a possibilidade de os próprios dispositivos serem um carregador sem fios. O Mate 30 vai custar 799 euros, o Mate 30 Pro custa 1.099 euros, concorrendo nos preços diretamente com os iPhone 11 e e o 11 Pro, anunciados na semana passada. A versão do Mate 30 Pro com 5G custa 1.199 euros.
Os novos equipamentos Mate 30 ainda não têm data de lançamento. A empresa afirmou no evento que está a investir mil milhões de dólares no serviço de aplicações “Huawei Mobile Services (HMS)” que, para já, conta com 45 mil aplicações. Sem apps da Google e com um HMS em desenvolvimento, espera-se, para já, que o equipamento saia “em 2019”. Ou seja, quando, em novembro, a questão do embargo com os EUA já tiver uma resposta definitiva.
“Vamos disponibilizar a Huawei Mobile Services (…) como solução alternativa à Google”
Ao Observador, a empresa explicou que o sistema operativo da nova gama Mate 30 “utilizará a versão mais recente do EMUI, a EMUI10, baseado em Android open source [de acesso aberto]”.
Criámos um dos melhores smartphones do mundo e os consumidores vão adorar o hardware e o software oferecidos na série Mate 30. Temos estado a trabalhar com os nossos parceiros e as nossas equipas internas de software para garantir que a experiência seja tão consistente com os nossos equipamentos anteriores o quanto possível. A nova Série Mate 30 vai utilizar a versão open source do Android, pois o Android é o sistema operativo de eleição para os nossos smartphones. Vamos disponibilizar a Huawei Mobile Services, na qual se insere a nossa Huawei AppGallery como solução alternativa à Google Mobile Services”, diz a Huawei
Quanto a poder descarregar para o telemóvel aplicações da Google, a Huawei é pouco clara e diz: “Os consumidores poderão continuar a descarregar gratuitamente as aplicações que desejam da Huawei App Gallery ou de qualquer outro lugar na Internet”. Isto pode significar que o utilizador pode instalar aplicações da Google. Contudo, não será de uma maneira fácil. Como diz a empresa: “Há muitas escolhas para os consumidores no que toca a que apps que usam no seu dia a dia, incluindo uma variedade de serviços de mapas, email e conteúdos de vídeo. Adicionalmente, os consumidores são livres de descarregar online qualquer app que desejem”.
Relativamente ao HarmonyOS, o sistema operativo que a Huawei tem estado a desenvolver e que pode vir a substituir o Android, a empresa diz apenas que “continua a trabalhar” neste sistema.
Além de um novo smartwatch, a Huawei quer vender também televisões
Num evento sem pontos altos, a gigante tecnológica chinesa apresentou ainda, à semelhança de outras apresentações, duas modelos dos Mate 30 mais caro mas com design “Porsche”, um smartwatch — o Watch GT 2 — e uma televisão. Depois de ter apresentado a Honor Vision, em agosto, a gigante chinesa anunciou agora a Huawei Vision. Este televisor 4K vai estar disponível em vários tamanhos — 55, 65 e 75 polegadas — e utiliza um software próprio da empresa para ser controlado.
Não há informação sobre se as televisões da Huawei vão ser vendidas em Portugal. Já o relógio Watch GT 46mm e 42mm vão ficar disponíveis em outubro e novembro, respetivamente.
A Huawei anunciou recentemente que vai lançar o seu próprio sistema operativo, que poderá vir a concorrer com o Android (utilizado como base destes smartphones). A medida foi encarada como um dos planos da Huawei para mostrar que pode não vir a depender tanto de empresas norte-americanas. Apesar de já se saber o nome deste sistema operativo, este pode não ser, para já, utilizado nos topos de gama da empresa. Recentemente, na IFA, a maior feira de tecnologia da Europa, a empresa mostrou uma nova versão de um dos smartphones P30 e afirmou que ainda iria utilizar como base o software da Google.
Huawei na IFA: há um novo smartphone, mas “lista negra” dos EUA foi tabu
Com o prolongamento da suspensão do embargo até novembro, as empresas norte-americanas podem continuar a negociar com a tecnológica chinesa. Contudo, será apenas até novembro — o que pode ser entendido como um passo intermédio para mudar o rumo do conflito económico. Mas, mesmo com prorrogação, a Huawei pode ficar definitivamente impedida de negociar com a empresas dos EUA. Porquê? Segundo os EUA a empresa é “uma ameaça” e utiliza os seus produtos para espiar para o governo chinês, algo que a Huawei tem negado veemente.
Huawei e EUA. Suspensão do embargo prorrogada por mais 90 dias
Em 2018, a Huawei gastou cerca de 10 mil milhões de euros a comprar componentes a empresas norte-americanas. A empresa chinesa depende de ligação a empresas dos EUA para continuar a fabricar produtos como tem feito até à data. Além do software Android, a tecnológica precisa de utilizar chips e ter licenças para fabricar vários dos produtos.
*Artigo atualizado às 19h28 com declarações da Huawei.