Markus Schäfer, o responsável máximo do Desenvolvimento de Motores da Daimler, que é como quem diz da Mercedes (uma vez que o grupo alemão vendeu 50% da Smart aos chineses da Geely, simultaneamente o maior accionista da Daimler), afirmou à Auto Motor und Sport (AMS), durante uma entrevista, que o desenvolvimento de motores a combustão terminou. É claro que vão continuar a ser fabricados, pelo menos até o mercado os aceitar, seja exclusivamente como motores a gasolina ou a gasóleo, ou híbridos e híbridos plug-in, acoplados a unidades eléctricas alimentadas por bateria. Mas a concepção de novas unidades, segundo Schäfer, parou.

Num construtor que tanto depende das mecânicas, como a Mercedes, a quem os clientes exigem que possua alguns dos melhores motores do mercado, Markus Schäfer tem de não só ser um engenheiro competente, como estar em sintonia com a administração, a quem responde. A informação que avançou à AMS não constitui, em si, uma surpresa. Ola Källenius, o novo CEO da Daimler afirmou em Maio, quando tomou posse, que “todos os modelos da marca vão ser eléctricos ou híbridos nos próximos 20 anos, para os motores a combustão a serem abandonados até 2039”.

Após a publicação da entrevista à AMS, a que demos eco, a Daimler divulgou um documento para esclarecer a sua posição. Perante o artigo da AMS, o grupo proprietário da Mercedes podia negar as afirmações de Shäfer à revista alemã. Poderia desmenti-lo, o que equivaleria a afastá-lo da empresa, o que se imporia caso tivesse existido um erro ou um abuso por parte do director de Desenvolvimento. Porém, a Daimler não fez nada disso.

Aquilo que pretende ser a reposição da verdade acaba por não ser mais que um texto dúbio. Dividida em vários pontos, a comunicação começa por afirmar que “a Daimler AG ainda não tomou qualquer decisão de abandonar o desenvolvimento de motores de combustão interna”. Segue-se uma série de considerações que pouco têm a ver com o tema central, durante as quais a Daimler recorda que “a actual família de motores (Fame) é recente e ainda está a ser introduzida no mercado, pelo que é demasiado cedo para se falar sequer em substitutos”, aproveitando para recordar o compromisso do fabricante na aposta na electrificação, bem como o desejo de em breve ter toda a sua gama neutra em CO2.

Ficámos, contudo, sem saber aquilo que mais interessava: afinal Schäfer afirmou, ou não, que o desenvolvimento de motores de combustão foi descontinuado?

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