Diagnóstico: O nível de produtividade relativamente à Alemanha em 2017 estava ainda próximo do nível de 1995 (56%), e o mais dramático, é que depois de ter crescido durante o programa de ajustamento, está em declínio contínuo desde 2013 (Figura 6). Em contraste, a Eslováquia registou uma subida quase ininterrupta, tendo o nível de produtividade subido de 35,7 em 1995 para 60,2 em 2017, um salto de 24,5 pontos percentuais. A Polónia registou também um progresso de 21,1 p.p., aproximando-se do nível de Portugal. No período de 1995 a 2018, a taxa de crescimento médio anual da produtividade do trabalho foi de apenas de 1% em Portugal, enquanto que foi de 3,7 na Eslováquia e de 2,7% na Polónia.
É indiscutível que temos baixos salários em Portugal, comparados com a EU, mas o problema é que estes estão condicionados pelos baixos níveis de produtividade da mão-de-obra. Se subirmos os salários, sem aumento da produtividade, perdemos competitividade, acentuam-se os desequilíbrios externos, e entramos numa nova crise económica. Por isso, a pré-condição para os salários subirem é a subida da produtividade (e a solução não é continuar a subir o salário mínimo, pois já temos o rácio entre o salário mínimo e o salário médio, ou mediano, dos mais elevados da EU). E a subida da produtividade está acompanhada da criação de empregos com maior valor acrescentado, e que permite reduzir a precaridade do emprego.
E a subida da produtividade só se consegue com políticas vigorosas de melhoria da qualificação da mão-de-obra, investimento em equipamentos mais produtivos, tecnologias mais avançadas, gestão mais eficiente e inovação constante. Vários documentos de associações empresariais têm reclamado políticas para redução dos custos de contexto, como os custos com a burocracia (por exemplo, os atrasos nos licenciamentos), os elevados custos energéticos e os custos fiscais, assim como a necessidade de formação dos jovens ou os apoios à I&D (a CIP fez um conjunto de propostas em “Portugal a crescer mais”, 2019, que abarcam uma grande parte dos temas aqui abordados).
Quesitos:
- Que políticas ou medidas concretas se propõe para acelerar a melhoria da produtividade nas empresas, por exemplo, pela constituição de clusters e apoio na tecnologia e design?
- Que propostas se fazem para desenvolver a investigação aplicada pública e empresarial, à indústria, serviços e agricultura portuguesas?
- Quais as propostas de intensificação da formação profissional de qualidade?
- Quais as propostas para intensificar o investimento direto estrangeiro produtivo e a transferência de tecnologia?
- Quais as propostas para recapitalização das empresas e redução do endividamento?
- Que propostas se fazem para facilitar o acesso das empresas portuguesas aos mercados externos e a intensificação das exportações?
- Que medidas se propõem para que o país não se atrase na quarta revolução industrial que está já a acontecer, com elevado conteúdo de automação, investigação e integração global?
Conclusões: Dada a importância desta questão para o crescimento e competitividade da economia portuguesa, estes temas mereceriam maior desenvolvimento das políticas e medidas propostas pelos partidos.
O PS, PSD e CDS propõem um conjunto de medidas para a agricultura, indústria e turismo, de apoio à formação profissional, ao desenvolvimento tecnológico e I&D e de apoio financeiro, sobretudo no quadro dos fundos comunitários. O mesmo se propõe a Aliança e Iniciativa Liberal. Bloco, PCP e PAN são contra ou pelo menos não reconhecem a economia de mercado, propondo nacionalizações e subidas de impostos sobre as empresas.
O PS apresenta um PE em que faz referência em grande parte aos programas já existentes. O CDS propõe uma “revolução” na formação profissional. Tanto PSD como o CDS reconhecem a importância do investimento direto estrangeiro, ao contrário do PS. O PSD dá prioridade a este tipo de investimento que promova a transferência de tecnologia e para setores de exportação.
O CDS e, em menor grau, o PSD reconhecem a importância da regulação num Estado moderno.
PS
Resumo: A secção IV do PE aborda a questão da “sociedade digital, da criatividade e da inovação”, especificando centenas de políticas e medidas, sem hierarquia, das quais é difícil extrair uma estratégia industrial (por exemplo, como se consegue “garantir que Portugal se encontra na linha da frente da execução do Programa Europa Digital”? “promover… o aumento de escala dos projetos de base industrial e tecnológica”? “apostar na formação dos territórios inteligentes”? — p. 121). Em particular dá-se relevo à formação profissional e a alguns programas de subsídios e apoio já existentes para I&D, ou financiamentos no quadro comunitário.
Respostas aos quesitos:
- Que políticas ou medidas concretas se propõe para acelerar a melhoria da produtividade nas empresas, por exemplo, pela constituição de clusters e apoio na tecnologia e design?
“Prosseguir e intensificar a articulação e cooperação entre as entidades públicas e os setores empresariais portugueses, concretizando os Pactos Setoriais para a Competitividade e Internacionalização celebrados com os clusters” (pág. 31 da CIP) é reproduzido no PE “Continuar o trabalho de interação e de aproximação aos setores empresariais portugueses, concretizando os Pactos Setoriais para a Competitividade e Internacionalização firmados com os clusters.” (pág. 114). Também se fala dos Gabinetes de Transferência de Tecnologia das universidades. Contudo, falta ainda especificar o modelo de sucesso que deve ser aplicado. - Que propostas se fazem para desenvolver a investigação aplicada pública e empresarial, à indústria, serviços e agricultura portuguesas?
Não Não tem propostas específicas (a proposta da CIP é de “Reorientar a vocação dos laboratórios do Estado para a investigação dirigida ao tecido empresarial, em estreita ligação com os centros tecnológicos”, e “Valorizar como critério de progressão nas carreiras académicas a contribuição efetiva dos investigadores para os resultados da inovação empresarial, através de experiências de cooperação com as empresas ou criação de startups” — pág. 32). Fazem-se algumas referências no caso do mar e agricultura. - Quais as propostas de intensificação da formação profissional de qualidade?
Apesar de reconhecer a sua importância, não tem propostas concretas. - Quais as propostas para intensificar o investimento direto estrangeiro produtivo e a transferência de tecnologia?
Este assunto é ignorado. - Quais as propostas para recapitalização das empresas e redução do endividamento?
Refere-se a necessidade de adequar o quadro fiscal à capitalização das empresas, mas de forma genérica, assim como se faz uma referência à Instituição Financeira de Desenvolvimento. - Que propostas se fazem para facilitar o acesso das empresas portuguesas aos mercados externos e a intensificação das exportações?
Faz-se referência a programas de apoio à internacionalização das empresas e chega-se a apontar o objetivo de promover as exportações para que estas atinjam 50% do PIB, mas sem especificar medidas. - Que medidas se propõem para que o país não se atrase na quarta revolução industrial que está já a acontecer, com elevado conteúdo de automação, investigação e integração global?
Esta é uma das áreas em que o PE dá mais ênfase, na secção IV, e do apoio à Economia Digital, embora seja necessário melhor especificar os programas.
PSD
Resumo: “Tendo em conta o elevado endividamento nacional (famílias, empresas e Estado), o esforço de investimento depende criticamente da capacidade de aumento da poupança das famílias e do Estado e de atração de IDE, sobretudo em setores de elevado valor acrescentado e de criação de empregos com elevadas qualificações.” (pág.3 1) “A evolução para produtos e serviços de maior valor acrescentado só é possível pela maior incorporação de conhecimento através de inovação radical.” (pág. 35).
Respostas aos quesitos:
- Que políticas ou medidas concretas se propõe para acelerar a melhoria da produtividade nas empresas, por exemplo, pela constituição de clusters e apoio na tecnologia e design?
Reconhece a necessidade de criação de clusters de base tecnológica, mas não define medidas de apoio a nível de desenvolvimento da tecnologia e design. - Que propostas se fazem para desenvolver a investigação aplicada pública e empresarial, à indústria, serviços e agricultura portuguesas?
Refere necessidade de dinamizar as atuais unidades de interface universidade-empresa, através de contratos-programa sobretudo para doutoramentos, das ligações dos politécnicos e empresas no interior e concentrar o Portugal-2020 em projetos que incluam uma elevada componente de inovação radical. - Quais as propostas de intensificação da formação profissional de qualidade?
Apesar de reconhecer a importância, faltam propostas concretas. - Quais as propostas para intensificar o investimento direto estrangeiro produtivo e a transferência de tecnologia?
Reconhece a importância do IDE e a necessidade de privilegiar nos contratos individuais de atracão de investimento estrangeiro, empresas de base tecnológica, da área dos produtos transacionáveis, com uma componente exportadora relevante. - Quais as propostas para recapitalização das empresas e redução do endividamento?
Não faz propostas específicas. - Que propostas se fazem para facilitar o acesso das empresas portuguesas aos mercados externos e a intensificação das exportações?
Apesar de reconhecer a importância, carece de propostas concretas. - Que medidas se propõem para que o país não se atrase na quarta revolução industrial que está já a acontecer, com elevado conteúdo de automação, investigação e integração global?
Apenas se faz referência genérica.
CDS
Resumo: “No âmbito do Estado de direito, pugnaremos pelo reforço radical dos direitos de propriedade, pela criação de mecanismos ágeis de justiça e cumprimento de contratos … No âmbito da carga fiscal e da despesa, asseguraremos uma carga fiscal pensada para o crescimento da economia e uma reforma na fiscalidade dos agentes económicos … e adaptaremos toda a regulação aos riscos e oportunidades da economia global, num intenso programa de desburocratização. E no âmbito do funcionamento dos mercados, removeremos as barreiras à entrada das atividades económicas e asseguraremos uma regulação independente e atuante.” (pág. 15).
Respostas aos quesitos:
- Que políticas ou medidas concretas se propõe para acelerar a melhoria da produtividade nas empresas, por exemplo, pela constituição de clusters e apoio na tecnologia e design?
As principais propostas referem-se à redução da carga fiscal, ao reforço dos direitos de propriedade, modernização da regulação e desburocratização. Não tem propostas sobre clusters e centros tecnológicos
- Que propostas se fazem para desenvolver a investigação aplicada pública e empresarial, à indústria, serviços e agricultura portuguesas?
Refere a necessidade de intensificar a investigação em benefício das empresas.
- Quais as propostas de intensificação da formação profissional de qualidade?
Propõe uma “revolução” na formação profissional, orientando a formação para as necessidades de concorrer na economia global, criar a via digital, privilegiar os centros de formação em parceria com o setor privado, melhorar os centros de formação do IEFP e criar o cheque-formação.
- Quais as propostas para intensificar o investimento direto estrangeiro produtivo e a transferência de tecnologia?
Não tem medidas específicas para além do investimento no tema dos mares.
-
Quais as propostas para recapitalização das empresas e redução do endividamento?
Apenas no quadro de incentivos fiscais. - Que propostas se fazem para facilitar o acesso das empresas portuguesas aos mercados externos e a intensificação das exportações?
Várias medidas como transformar a Instituição Financeira para o Desenvolvimento em banco de apoio às exportações, reestruturar a AICEP e reforçar os seguros de crédito. (págs. 122-23).
- Que medidas se propõem para que o país não se atrase na quarta revolução industrial que está já a acontecer, com elevado conteúdo de automação, investigação e integração global?
Acento na via digital, mas carece de maior especificação.
BLOCO
Resumo: O BE expressa uma menorização ou mesmo oposição à economia de mercado, propondo a nacionalização de setores estratégicos da economia e forte expansão do setor público, impor leques salariais ou aumentar a tributação das grandes empresas, pelo que não existem medidas específicas para apoio e desenvolvimento da atividade empresarial.
PCP
Resumo: Opondo-se à economia de mercado, e em especial às grandes empresas, apenas tem medidas de apoio às PMEs. Propõe a nacionalização das empresas privadas em setores estratégicos e está contra o IDE por reduzir a soberania.
PAN
Resumo: Tem uma postura contrária à economia de mercado.
ALIANÇA
Resumo: “Um Estado comprometido com o crescimento económico, transparente e exemplarmente eficiente que crie condições favoráveis às Empresas eliminando os constrangimentos de natureza administrativa que constituem a maior força de bloqueio da iniciativa privada.” (pág. 25)
1 a 7 — “Promover a dinamização do tecido empresarial sobretudo nas indústrias de bens transacionáveis, com intensidade tecnológica, através de uma forte ligação entre as PME e os centros de investigação e universidades, concorrendo massivamente aos Fundos e Instrumentos Financeiros da União Europeia (política interna), que historicamente são pouco aproveitados pela nossa Economia.” (pág. 25)
INICIATIVA LIBERAL
Resumo: “Aumentar a competitividade atraindo capital e libertando os contribuintes dos prejuízos das empresas públicas ineficientes”, privatizando-as. Acabar com o benefício fiscal ao endividamento.
Análise aos programas eleitorais dos partidos
Abel Mateus