O relógio marcava 13h58 quando a polícia londrina foi chamada para responder a um esfaqueamento na ponte de Londres, a London Brigde, no centro da cidade. Ao fim do dia, quando a capital britânica começava a regressar ao normal, noutro país, a polícia holandesa foi mobilizada por razão idêntica: um esfaqueamento na zona comercial de Grote Marktstraat, em Haia. Nenhum grupo terrorista reivindicou ainda os ataques, mas já se sabe que o atacante de Londres tinha sido preso anteriormente por terrorismo. Aomo tudo se passou nas duas cidades persistem, mas o que é certo é que, em apenas cinco horas, o terror voltou a assolar a Europa.

O ataque em Haia aconteceu na zona comercial de Grote Marktstraat (SARA MAGNIETTE/AFP via Getty Images)

E ainda não se foi embora. Apesar de o atacante de Londres ter sido abatido, o responsável pelos esfaqueamentos em Haia continua em fuga. A polícia holandesa usou o Twitter para tentar encontrá-lo. Num tweet, descreveu o suspeito na esperança de que alguém o tenha visto.

Estamos à procura de um homem entre os 45 e os 50 anos de cabelo preto encaracolado, de cachecol e um fato de treino cinzento. Viu este homem?“, lê-se na publicação.

Já em relação ao ataque de Londres, todos puderam ver o atacante — ou não tivesse a sua fotografia circulado nas redes sociais e nos meios de comunicação. Na imagem, vê-se o suspeito estendido no chão da London Bridge e com um colete de explosivos — que deixou em pânico as pessoas que ali se encontravam, mas que a polícia confirmou que era falso.

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A informação sobre o atacante vai saindo a conta-gotas. O jornal The Guardian avançou que o homem já tinha sido condenado por terrorismo e que tinha ligações a grupos terroristas islâmicos. Aliás, o atacante usava, no momento do ataque, uma pulseira eletrónica — uma medida aplicada depois de ter sido libertado da prisão — e estava referenciado pelas autoridades, incluindo pelo MI5, os serviços secretos britânicos.

O guia turístico que tirou a faca da mão do atacante

Foram precisos apenas cinco minutos para imobilizar o suspeito do ataque na London Bridge. Às 14h03, a polícia já disparado um tiro que viria, mais tarde, a provocar a sua morte. A rapidez e talvez a razão pela qual não houve mais vítimas deveu-se em parte a Stevie Hurst, um guia turístico que arrancou a faca da mão do atacante. “Vimos um tipo a ser agarrado e as pessoas a tentarem mandá-lo ao chão, a gritarem que ele tinha esfaqueado duas mulheres”, contou à BBC, adiantando: “Apercebemo-nos de que ele ainda tinha a faca na mão. Pus um pé na mão dele e pontapeei-o na cabeça”.

O objetivo de Stevie Hurst era desarmar o mais rapidamente possível o atacante “para que ele não pudesse magoar mais ninguém”. E conseguiu. O guia turístico é, por isso, a pessoa que aparece com a faca na mão, nas imagens e vídeos captados nos momentos do ataque. Stevie Hurst não se considera o único herói. “As pessoas que estavam comigo foram absolutamente fantásticas. Verdadeiros heróis“, disse.

“Escondi a minha bebé atrás de umas escadas.” Os relatos de quem estava na London Bridge

Foi a estes “heróis” que a polícia londrina — e também o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, através do Twitter — agradeceu logo na primeira conferência de imprensa dada pouco depois das 16h00, na sequência do ataque. Na conferência em que a polícia admitiu que as circunstâncias do ataque eram “pouco claras”, mas que confirmou que se tratava de um “incidente terrorista”, apelando à união dos britânicos: “Devemos sair desta tragédia ainda mais fortes. Fazendo isso asseguramos que os poucos que procuram dividir-nos nunca terão sucesso”.

Peritos forenses analisam o local onde o atacante de Londres foi abatido (Kirsty O’Connor/PA Images via Getty Images)

Já depois de Stevie Hurst ter tirado a faca, começou a correr e abanar os braços e a gesticular para que as pessoas que ainda se encontravam junto do atacante fugissem também dali. O autor do ataque, vestido de preto, ainda se tentou levantar antes de a polícia disparar dois tiros que o acabariam por matar. A morte do atacante está a ser investigada — por lei, todos os tiroteios da polícia têm de ser investigados.

Dois mortos em Londres e três menores de idade esfaqueados em Haia

Apesar dos atos heroicos, duas pessoas acabaram por morrer no hospital. Três permanecem feridas e em estado grave. A confirmação veio ao final da noite, numa nova conferência de imprensa da polícia londrina. Noutro país, na Holanda, embora não haja para já registo de mortes, três menores ficaram feridos na sequência de um esfaqueamento, embora a polícia não indique a sua idade.

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O ataque aconteceu na zona comercial de Grote Marktstraat que, em plena Black Friday, estava mais movimentada do que o normal. Pouco se sabe sobre o que aconteceu exatamente. O suspeito está em fuga e a investigação continua. Fonte ligada à mesma disse à imprensa holandesa que o autor do ataque parece ter escolhido as vítimas aleatoriamente. Uma testemunha recordou ao De Telegraaf os momentos após o esfaqueamento:

“Ninguém sabia o que estava a acontecer. No início, as pessoas começaram a dizer que era um tiro”.

Quando questionado se o ataque foi terrorismo, um porta-voz disse ao De Telegraaf que “todos os cenários ainda estão em abertos”. A dúvida sobre se é terrorismo ou não — até porque nenhum grupo terrorista reivindicou ainda os esfaqueamentos — persiste. Certo é que os dois ataques, com cerca de cinco horas de diferença, trouxeram de volta o terror à Europa.