Na manhã desta terça-feira, a Huawei afirmou que, em 2019, “um terço dos smartphones vendidos” em Portugal] eram da marca chinesa. As declarações foram feitas por Tiago Flores, diretor de vendas de produto da marca em Portugal, num encontro com jornalistas.

Estes números [um terço dos smartphones vendidos em Portugal em 2019] são as nossas estimativas com base naquilo que temos dos dados auditados, aos quais acrescemos a nossa estimativa de mercado. Utilizamos os dados de mercado com base na informação que temos oficial da GFK e da nossa extrapolação do mercado”, diz Tiago Flores.

Os condicionamentos externos que a empresa atravessa — está numa “lista negra” dos EUA porque, segundo este país, espia a favor do governo chinês — praticamente não foram temas. Só quando questionado diretamente pelo Observador sobre esta questão é que Tiago Flores refere, sem rodeios, o impacto que o assunto está a ter em Portugal: “Não considero que existam condicionantes, porque estamos a fazer o nosso trabalho de forma normal. Continuamos muito focados naquilo que é o consumidor”, responde.

No ano em que a Huawei quer lançar mais smartphones e computadores no mercado, a AppGallery, a loja de aplicações digitais da empresa, vai ser crucial. Sem a loja de apps da Google — devido ao embargo dos EUA, a Google Play Store já não está disponível nos novos telemóveis da Huawei –, a AppGallery é “o portal de acesso ao mundo das aplicações em equipamentos com [software] Huawei Mobile Services”, como conta o responsável português na Huawei.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Para já, a empresa adianta que já tem “68 aplicações portuguesas” na sua loja de apps. Em março, o “objetivo é ter uma cobertura de 98% de utilização dos consumidores em Portugal, cerca de 175 [apps]”. De privados e entidades públicas, a loja já conta atualmente com “aplicações da RTP, da Media Capital ou da Agência para a Modernização Administrativa, como o ID Gov e o Cartão de cidadão digital”, diz Tiago Flores.

Atualmente, a Huawei ao lançar no mercado novos smartphones (por exemplo, que não sejam revisões de modelos anteriores) tem de fazê-lo apenas com o sistema operativo Android base. Ou seja, que não podem aceder aos serviços da Google, como foi o caso do Mate 30 Pro. Contudo, os futuros computadores portáteis MateBook, que a marca vai lançar já em março este ano, com o sistema operativo Windows, da Microsoft, não há condicionantes.

A Microsoft foi a primeira marca americana a estar na App Gallery (…), é dos nossos principais parceiros”, refere Tiago Flores. Enquanto o embargo dos EUA continua suspenso, algumas empresas americanas, como a Microsoft, têm tido autorização para continuar certo tipo de relações comerciais com a Huawei.

Com a desconfiança instalada, a Huawei tem uma missão de desenvolver cada vez mais produtos próprios para não depender tanto de entidades externas. De novos equipamentos a wearables (tecnologia que se veste, como auriculares sem fios), a Huawei diz que a sua “estratégia vai englobar muito mais do que smartphones” e que 2020 “vai ter muitas novidades”.

O que se passa entre a Huawei e os EUA

Além de ser uma empresa de dispositivos móveis como smartphones, a Huawei é uma das principais fabricantes mundiais de componentes para infraestruturas de telecomunicações. A empresa chinesa afirma que celebrou, em todo o mundo, mais de 60 contratos para as redes 5G, a próxima geração para as telecomunicações que vai substituir o 4G.

Os avisos dos EUA, e de outros países como a Austrália ou a Nova Zelândia, têm levado entidades como a Comissão Europeia a afirmar que é necessário haver cautela com as permissões a esta tecnológica. Com os avisos, países como o Reino Unido têm permitido que a Huawei possa ser fornecedora de equipamentos, mas com severas limitações (como não poder vender equipamentos para infraestruturas críticas).

Reino Unido desafia Trump e aceita Huawei no 5G, mas com limitações

No final de maio de 2019, os EUA emitiram um decreto executivo por motivos de segurança nacional no qual proibiram negócios de empresas norte-americanas com a Huawei, incluíndo-a numa “lista negra” na qual também está a ZTE, outra tecnológica chinesa.

Rapidamente, e depois do alvoroço criado pela cessação de parcerias com a maioria das empresas tecnológicas norte-americanas — como a Google, que detém o Android, ou a fabricante de chips Qualcomm —, houve uma suspensão dos efeitos do embargo até agosto e, nesse mês, foi adiado para dezembro de 2019. Em dezembro, o embargo foi novamente suspenso até fevereiro, não tendo havido, no entretanto, autorizações para empresas norte-americanas poderem trabalhar com a Huawei.

A Huawei tem negado de forma veemente as acusações dos EUA. O país, por outro lado, tem deixado alertas a todos os aliados, como Portugal, dizendo que, se aceitarem que a Huawei forneça equipamentos para as estruturas de redes, as relações entre os estados serão afetadas. Segundo os EUA, a partilha de informação secreta mudará automaticamente assim que a Huawei tenha permissão para ser fornecedora de equipamentos.

*Artigo alterado às 14h45 com clarificação de que alguns modelos de smartphones da Huawei ainda são lançados no mercado com acesso a todos os serviços Google.