Ao ouvirem Emmanuel Macron a dizer “estamos em guerra” e a sublinhar que “é preciso ficar em casa”, milhares de parisienses decidiram sair da capital francesa e partir para outras zonas do país, muitas delas enchendo estações de comboio sem respeitar as regras de distância social e correndo o risco de alastrar o vírus a zonas sem casos registados — algo que já se confirmou em Itália, no início do surto.
“A partir do meio-dia, durante quinze dias pelo menos, as deslocações serão fortemente reduzidas”, anunciou na segunda-feira o Presidente de França, com esta terça-feira, 17 de março, em vista.
Em consequência, vários parisienses fizeram malas e partiram para outras zonas do país.
Camille, uma jornalista de educação, conta à Reuters que decidiu sair de Paris juntamente com o marido para a casa da sua mãe, no Norte de França. “Preferimos estar num ambiente mais aberto, numa casa maior com jardim, do que num apartamento parisiense”, diz.
Ao Le Monde, Claire, jovem de 27 anos, faz um relato semelhante, dizendo que na capital francesa “o ambiente é opressivo” e que, por isso, decidiu rapidamente sair de Paris em direção à ilha de Belle-Ile, local que recebeu no último dia “dezenas” de pessoas fugidas da região continental do país. “Sabíamos que era preciso sermos rápidos”, disse aquela jovem de 27 anos ao Le Monde, que saiu de Paris na tarde de segunda-feira com o namorado e três amigos.
Também àquele jornal francês, Théo conta que se vai isolar “numa aldeia em Vendée”, no Oeste do país, que só conta com nove habitantes e onde a família da sua mulher tem uma casa. “Entre estar no campo ou dentro de um apartamento estúdio, a escolha fez-se rapidamente”, disse.
Também em Madrid, fugiu-se para o campo: “Ficamos menos agoniados”
Em Espanha, também já havia relatos de uma reação semelhante por parte de alguns madrilenos.
“Ficamos os quatro menos agoniados por estarmos o tempo todo juntos e, como temos internet, podemos trabalhar sem problemas e as miúdas podem fazer os trabalhos de casa que lhes mandarem”, disse Alberto, marido de Belén, com quem tem duas filhas (11 e 12 anos). O relato deste madrileno foi feito à agência EFE, num artigo publicado a 12 de março.
“Vou para a casa que tenho na Galiza”, disse Juan, num artigo do Voz Pópuli também de 12 de março. “Estou bem, mas já tenho alguma idade, o que é um fator de risco, e ali posso passar uma semana mais calma.”
Outros, porém, não o fizeram apenas com medo de dificilmente conseguirem voltar a Madrid. É o caso de Mar, jornalista de 43 anos citada pela EFE, mãe de três crianças: “A nossa ideia era irmos mas no final de contas tive medo de que cortassem as estrada e à última hora assustei-me”.
Fuga de Milão ajudou a propagar vírus no resto de Itália
Em Itália, o novo coronavírus instalou-se ao início da região da Lombardia, no Norte do país, onde se destaca a cidade de Milão. Quando se percebeu que aquela zona do país era a mais afetada e que noutras ainda não havia quaisquer casos registados de Covid-19, houve vários milaneses a sair da cidade, muitos deles concentrando-se em estações de comboio para partir para zonas menos populosas do país.
A fuga de milhares de milaneses aconteceu depois de terem saído as primeiras notícias de que a região da Lombardia poderia vir a ser colocada em quarentena. À altura, o epidemiologista italiano Roberto Burioni criticava esse tipo de movimentos no Twitter.
“Pura loucura”, escreveu. “Uma fuga de informação de um decreto muito estrito causa o pânico em pessoas na hipotética zona vermelha, que levam a infeção com eles”, continuou.
“No final de contas, o único efeito será o de ajudar a difundir o vírus. Não tenho palavras”, concluiu.
Follia pura. Si lascia filtrare la bozza di un decreto severissimo che manda nel panico la gente che prova a scappare dalla ipotetica zona rossa, portando con sè il contagio. Alla fine l'unico effetto è quello di aiutare il virus a diffondersi. Non ho parole. pic.twitter.com/ZazcDnYFej
— Roberto Burioni (@RobertoBurioni) March 7, 2020