Testar, testar, testar. Os três conselhos da Organização Mundial da Saúde para todos os países a braços com a pandemia da Covid-19 e que nem todos estão a conseguir executar. Seja por falta de testes, seja por limitações laboratoriais ou ainda na recolha das amostras, a maioria dos países com um número significativo de casos está a optar por testar apenas os casos mais graves do novo coronavírus. A Islândia é a exceção, mas o facto de ter apenas 360 mil habitantes também ajuda no objetivo de testar todos os habitantes, todos.
Números redondos, com a capacidade de testes admitida pela Direção-geral da Saúde em Portugal — nove mil de capacidade instalada — seriam necessários 40 dias para testar toda a população islandesa, enquanto para os 10 milhões de portugueses seriam necessários mais de mil dias, uma diferença significativa que, em caso de pandemia, é preponderante.
Na Islândia estão a ser feitos testes a todos, tenham sintomas ou não. E aqui está a principal diferença: testando todos, mesmo os cidadãos assintomáticos (e que estão infetados) podem tomar imediatamente medidas para evitar infetar outras pessoas, isolando-se em casa e mesmo aí mantendo a distância em relação ao restante agregado familiar. Não tendo qualquer sintoma e desconhecendo ser portador da Covid-19, o risco de infetar mais pessoas aumenta.
Até ao momento foram realizados 9.768 testes. 4.197 das amostras foram diagnosticadas através do sistema nacional de saúde e 425 testaram positivo para a Covid-19. Dos 425 casos, 34% foram importados, a maior parte deles das zonas dos Alpes, na Europa. Mais de 32% são casos de transmissão já na Islândia e nos restantes 33% não foi possível identificar um link epidemiológico, informou o governo.
Coreia do Sul faz cerca de 15 mil testes por dia
Um dos exemplos de sucesso na luta contra a pandemia da Covid-19 é a Coreia do Sul. O país implementou uma estratégia de testes em massa, testando também os cidadãos que estão assintomáticos, numa média de 15 mil testes por dia e que permitiu controlar a disseminação do vírus no país.
Sempre que um teste dá positivo a pessoa é isolada e todos os contactos que manteve são também testados permitindo identificar imediatamente possíveis novos focos de contágio que serão, também eles, isolados.
Um dos casos identificados pelas autoridades sul-coreanas, o de uma mulher infetada que tinha participado num culto da Igreja de Jesus, em Daegu, permitiu conter a disseminação do vírus que teria sido ainda mais alargada caso a “paciente 31” — como ficou conhecida — não tivesse sido identificada. Ainda assim, Daegu concentra dois terços dos casos positivos registados em todo o país.
A determinado momento as autoridades sul-coreanas identificavam mais de 900 novas casos diariamente, mas o país conseguiu conter o aumento de infetados através dos milhares de testes que realizou e ao identificar infetados assintomáticos que eram colocados em isolamento.
Habituados a lidar com vírus como o Sars, em 2002, e a Síndrome Respiratória do Médio Oriente (MERS), em 2015, as autoridades do país mostram-se agora muito críticas das opções tomadas noutros países: “Bloquear certas áreas e parar os movimentos é o mesmo que se fazia na Idade Média quando se lidava com a Peste Negra”, afirmou o médico Roh Hyoung-Ho do hospital Ilsan.