Espanha, Itália e França parecem estar a atravessar um planalto da curva, Donald Trump garante que os Estados Unidos já ultrapassaram o pico, mas Brasil, Índia e Turquia têm ainda situações algo descontroladas. Os espanhóis congratulam-se pelos os aumentos diários limitados nos novos casos, os italianos e os franceses olham com otimismo para a diminuição de pessoas em unidades de cuidados intensivos. Os norte-americanos continuam a ter em Nova Iorque a situação mais preocupante, na Índia e na Turquia, que ultrapassou o Irão em infetados, há o receio de não serem conhecidos os números reais da pandemia e no Brasil, que mudou de ministro da Saúde esta semana, a taxa de mortalidade é superior a 6%.
Estes são os países que parecem estar a inverter a tendência da curva de contágios e aqueles que ainda estão longe de controlar a situação pandémica.
Espanha: uma evolução “claramente positiva”
Ainda que Itália continue a ser o país europeu onde o novo coronavírus foi mais mortífero, é em Espanha que se verifica o maior número de infetados da Europa. Com os números atualizados deste sábado, são agora 192.920 os casos confirmados desde o início da pandemia e 20.043 as vítimas mortais. Este fim de semana, a comunicação social espanhola dá conta de uma “estagnação” da curva e de um adiar de uma queda prolongada dos números diários.
Este sábado, registaram-se em Espanha mais 565 mortes, um número que apesar de ser inferior ao do dia anterior está em linha com os valores apresentados desde dia 11 de abril. Ainda assim, um número que está longe, por exemplo, das 950 pessoas que morreram entre 1 e 2 de abril e que representam até agora o aumento diário mais elevado desde o início da pandemia.
Como alguns países europeus estão (com muitos cuidados) a tentar reabrir as portas
Apesar de a quebra registada na semana passada ter sofrido uma travagem ligeira durante esta semana, Fernando Simón, epidemiologista e diretor do centro de coordenação de alertas e emergência do Ministério da Saúde espanhol, garante que a evolução é “claramente positiva”. Durante a apresentação dos dados deste sábado, Simón sustenta essa conclusão ao olhar para os números dos últimos 14 dias, por ser esse o tempo que decorre entre a infeção, o desenvolvimento de sintomas, o teste e a entrada nas estatísticas oficiais. “Hoje sabemos que a transmissão é muito mais baixa”, explicou.
Pedro Sánchez prolongou este sábado o estado de emergência até ao dia 9 de maio mas a verdade é que, esta segunda-feira, quase dois milhões de espanhóis regressaram ao trabalho. Fernando Simón garantiu que as medidas de restrição em Espanha ainda vão durar “várias semanas” e não podem ser levantadas “de uma vez”. “Vão poder ser relaxadas à medida que possamos comprovar que a transmissão está controlada ou que se possam controlar os casos. E que o sistema de saúde possa responder sem chegar aos limites que sofreu, em cenário de um possível ressurgimento”, concluiu.
Espanha tem nesta altura 191.726 casos positivos e 20.639 vítimas mortais.
Itália: subida de novos casos não passa dos 2%
A última semana de março foi a pior desde que a pandemia chegou a Itália. No dia 21 de março, o país atingiu o número mais alto de novos contagiados, 6.557 em 24 horas, e foi também nessa altura que se registou o valor mais elevado de óbitos num único dia, 919. De lá para cá, Itália tem-se afastado do pico da pandemia — ainda que sempre de forma muito pouco linear e com oscilações.
O país tem menos casos do que Espanha mas nas vítimas mortais só é superado pelos Estados Unidos. Já morreram mais de 23.200 pessoas desde que a pandemia chegou e os números, embora progressivamente mais positivos, continuam a ser dramáticos: nas últimas 24 horas, registaram-se 482 óbitos e 3.491 novos casos. Em termos percentuais, porém, estes valores não vão além dos 2,1% e dos 2%, respetivamente, números que são representativos da inversão de tendência no país.
Queda nos casos e subida nas mortes. Há 24 dias que Itália se afasta do pico da pandemia
Outro detalhe que tem merecido atenção nos boletins diários italianos é a diminuição dos casos hospitalizados em unidades de cuidados intensivos. Há mais de duas semanas que este indicador sofre quedas diárias: começou por descer menos de 1% durante vários dias e na última semana chegou a decrescer em 3%. Atualmente, há 2.733 pessoas internadas nestas unidades em Itália, menos 79 do que esta sexta-feira e menos 203 do que quinta-feira.
Ainda assim, Itália atravessa uma estagnação nos números há cerca de 12 dias, sem registar grandes subidas ou grandes quedas nos principais indicadores. O pico já terá sido ultrapassado, provavelmente naquela última semana de março, mas a tão esperada quebra progressiva está a revelar-se mais lenta do que o expectável num país que está de quarentena há seis semanas. Não obstante, o país reabriu esta semana algumas lojas pequenas, como estabelecimentos de reparação de computadores, de roupa de bebé, lavandarias ou livrarias, onde a utilização de máscara por parte dos funcionários é obrigatória. Os restantes serviços, como cafés ou restaurantes, permanecem encerrados pelo menos até dia 4 de maio.
Itália tem nesta altura 175.925 casos positivos e 23.227 vítimas mortais.
França: casos nos cuidados intensivos a cair há dez dias
França é nesta altura o quarto país do mundo em número de casos e número de vítimas mortais — este último indicador aproxima-se já dos 20 mil óbitos, tendo este sábado chegado aos 19.323. Tal como em Itália, a grande esperança francesa tem partido da diminuição de pessoas internadas em unidades de cuidados intensivos. Este fim de semana, esse número caiu pelo décimo dia consecutivo e 1.563 infetados saíram dos hospitais nas últimas 24 horas, entre cuidados intensivos e hospitalização.
Na linha de Espanha e Itália, França atravessa uma espécie de planalto — ainda que algumas semanas atrás das situações dos outros dois países, com números ainda elevados face à realidade francesa desde o início da pandemia. O pico já terá sido alcançado, provavelmente durante a primeira semana de abril, mas os valores ainda não caíram de forma a que seja possível indicar que a curva francesa está a cair.
Esta semana, Emmanuel Macron anunciou o prolongamento das medidas de confinamento até dia 11 de maio, ainda que “as pessoas mais vulneráveis, idosas, com doenças crónicas ou deficiência severa” devam ficar em casa mais tempo. As escolas e as creches devem reabrir nessa altura mas não as universidades, os bares, os restaurantes e as salas de espetáculo.
França tem nesta altura 151.793 casos positivos e 19.323 vítimas mortais.
Reino Unido: evolução será em formato “capacete de bombeiro” e não “sombrero”
Se Espanha, Itália e França estão nessa espécie de planalto, e se o Reino Unido também parece estar a atravessar uma fase mais estável no que toca a novos casos e vítimas mortais, a verdade é que o país liderado por Boris Johnson está ainda numa zona embrionária dessa estabilização. Desde dia 6 de abril que o Reino Unido não regista menos de 700 óbitos diários e os novos casos de infeção têm oscilados entre subidas e descidas, constantemente acima dos três mil todos os dias.
Minorias étnicas estão a ser mas atingidas pelo Covid-19 no Reino Unido que está a investigar causas
Os especialistas britânicos, numa análise mais original, indicaram esta semana que a evolução da curva pandémica não será em formato “sombrero” mas sim em formato “capacete de bombeiro” — ou seja, não irá começar a cair de um dia para o outro e essa quebra, tal como está a acontecer em Espanha, em Itália e em França, irá ser demorada e prolongada no tempo. Prova disso é que, ao contrário daquilo que começa a acontecer em vários países europeus, o Reino Unido ainda não anunciou um relaxamento das medidas de distanciamento social e Boris Johnson já garantiu que as restrições terão de continuar em vigor.
O Reino Unido tem nesta altura 114.217 casos positivos e 15.464 vítimas mortais.
Estados Unidos: Trump garante que pico “já passou”
Com algumas semanas de distância face ao alastrar comunitário da pandemia na Europa, os Estados Unidos passaram ser um dos países mais acompanhados, desde que a situação se tornou dramática, sobretudo em Nova Iorque. Donald Trump anunciou esta sexta-feira um plano de três fases para “reabrir a América outra vez”, depois de ter já garantido que o país já ultrapassou o pico da curva pandémica. Ainda assim, e segundo os números do Worldometer, os Estados Unidos registaram esta semana um aumento diário de mortes sem precedentes, uma subida de novos casos que é muito semelhante às dos últimos dias de março.
Segundo o portal que tem acompanhado a evolução da pandemia, os Estados Unidos diagnosticaram 6.185 novos óbitos na passada terça-feira e estão acima das 2 mil mortes diárias há cinco dias consecutivos. Os norte-americanos são o país com o maior número total de infetados e de vítimas mortais: mais 537 mil casos do que os registados em Espanha, mais 15 mil mortes do que em Itália. Nesta altura, os Estados Unidos somam quase 730 mil casos positivos e mais de 38.200 óbitos.
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A evolução meteórica da situação norte-americana— há um mês, o aumento diário de novos casos era inferior a 2 mil, enquanto que esta sexta-feira esse aumento foi superior a 32 mil — torna difícil perceber se, como Donald Trump indicou, o pico já terá sido ultrapassado ou se o país ainda está sob subida exponencial de novos contágios e mortes.
A situação mais problemática mantém-se no Estado de Nova Iorque, onde os números são drasticamente superiores aos das restantes regiões norte-americanas. O Estado liderado por Andrew Cuomo soma mais de 241 mil casos positivos e cerca de 17 mil vítimas mortais, 60 mil e 13 mil, respetivamente, acima de Nova Jérsia, o segundo mais atingido.
Os Estados Unidos têm nesta altura 736.790 casos positivos e 38.920 vítimas mortais.
Brasil: taxa de mortalidade acima dos 6%
Contrariamente aos cenários em vários países europeus, caso brasileiro ainda terá de piorar antes de melhorar. O Brasil registou esta sexta-feira 2.999 novos casos, o segundo maior número diário de sempre, e 194 novas mortes, o terceiro valor mais elevado.
Os aumentos das duas semanas já colocam o Brasil como o 12.º país do mundo com mais casos e a taxa de letalidade está nesta altura acima dos 6%. O secretário da Saúde brasileiro disse esta sexta-feira que as subidas dos últimos dias estão relacionadas com a transmissão comunitária do novo coronavírus mas também com a maior capacidade de testagem. José Henrique Germann disse ainda que 1.500 profissionais de saúde estão infetados e que 72% das unidades de cuidados intensivos do Rio de Janeiro estão totalmente lotadas.
O Brasil tem nesta altura 36.658 casos positivos e 2.354 vítimas mortais.
Índia: mais de 500 novos casos diários desde o início do mês
Assim como no Brasil, também na Índia a situação está ainda longe de estar controlada. Desde o início do mês que os novos casos diários naquele país são superiores a 500 e no dia 13, o pior no que toca a este indicador específico, a subida exponencial alastrou até aos 1.248 novos infetados. Nas vítimas mortais, os dados conhecidos dão conta de um contexto menos dramático, já que o maior aumento não ultrapassou os 49 óbitos e as subidas diárias têm estado normalmente entre as 20 e as 40 mortes.
Mesmo sendo expectável uma subida exponencial dos números nas próximas semanas, a verdade é que a maioria da comunicação social internacional acredita que os valores reais estão muito acima dos dados conhecidos. Numa população de 1,3 mil milhões de pessoas, ainda só foram testados cerca de 48 mil cidadãos e só existem 51 centros de testagem em todo o país. Somente 1% do PIB indiano é dedicado à saúde pública, uma das taxas mais baixas em todo o mundo e a principal preocupação está relacionada com a provável transmissão em massa nos bairros de lata, onde já começaram a surgir casos e as condições de higiene estão muito abaixo do recomendável.
Ainda assim, o governo indiano garante que o país ainda não está em transmissão comunitária e que os casos detetados até agora foram ou importados ou localizados. “Nunca dissemos que existe transmissão comunitária. Ainda estamos na transmissão localizada”, garantiu Lav Agarwal, o secretário da Saúde indiano.
A Índia tem nesta altura 15.722 casos positivos e 521 vítimas mortais.
Turquia: o país do Médio Oriente com mais casos positivos
A Turquia tornou-se este sábado o país do Médio Oriente com mais casos positivos, ultrapassando o Irão, que chegou a ser um dos focos de contágio a nível mundial. O país já tem quase os mesmos casos da China e as vítimas mortais estão agora perto das duas mil, sendo que os números ainda parecem estar longe de iniciar uma tendência de diminuição.
Desde o dia 8 de abril que o aumento diário de novos casos é superior a 4 mil e as vítimas mortais têm registado um aumento progressivo claro, com novas subidas recorde a serem registadas todos os dias durante a última semana.
As medidas de confinamento foram prolongadas por mais duas semanas e o ministro da Saúde do país demitiu-se há alguns dias, depois de anunciar uma quarentena regional para um fim de semana na noite da sexta-feira anterior. A Turquia já é mesmo o segundo país com a maior taxa de novas infeções, logo a seguir aos Estados Unidos, e é expectável que os números conhecidos e revelados pelo governo também não sejam espelho da situação completa.
A Turquia tem nesta altura 82.329 casos positivos e 1.890 vítimas mortais.