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Dinamarca tornou-se esta quarta-feira o primeiro país europeu a reabrir as escolas
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Dinamarca tornou-se esta quarta-feira o primeiro país europeu a reabrir as escolas

Ritzau Scanpix/AFP via Getty Ima

Dinamarca tornou-se esta quarta-feira o primeiro país europeu a reabrir as escolas

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Como alguns países europeus estão (com muitos cuidados) a tentar reabrir as portas

A Dinamarca abriu escolas, a República Checa já permite viagens "essenciais" além-fronteiras e a Áustria reabre os centros comerciais a 1 de maio. As diferentes estratégias para a saída da quarentena.

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Se existe algo que a população mundial, de forma generalizada e com poucas exceções, aprendeu com esta pandemia é o facto de nada acontecer de um dia para o outro. A disseminação do novo coronavírus pela China, apesar de rápida, demorou semanas; o atravessar de fronteiras, para outros países e para outros continentes, também levou tempo; o tão desejado pico, que alguns países já viveram, pode afinal ser um planalto que demora dias a ser ultrapassado; e o obrigatório achatar da curva, a ideia mais repetida desde o início da pandemia, também não acontece de um dia para o outro. Tudo demora tempo, no período especialmente crítico que vivemos. E o fim deste período especialmente crítico também irá, obrigatoriamente, demorar tempo.

Áustria, República Checa e Dinamarca foram dos países europeus que mais cedo implementaram medidas mais drásticas para a contenção do vírus — medidas que demoraram a chegar a Itália, a Espanha e ao Reino Unido e cujo atraso poderá justificar os cenários mais negros vividos nesses países. De forma lógica, é também na Áustria, na República Checa e na Dinamarca, principalmente nesses três países, que se começa a falar de um relaxamento mais alargado das restrições impostas à população há cerca de um mês.

Cidade de Wuhan, epicentro original da pandemia, reabre ao fim de 11 semanas fechada ao mundo

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Uma semana depois de Wuhan, a província chinesa onde surgiu o surto, ter reaberto depois de 11 semanas totalmente fechada ao mundo exterior, os três países europeus procuram ser os primeiros a abrir as portas das casas, a abrir as portas das lojas e a tentar um comedido regresso à normalidade. Uma normalidade que pode obrigar a um “travão de emergência” caso a curva volte a subir — mas uma normalidade que poderá servir de exemplo aos restantes países, para o bem ou para o mal.

Restaurantes e lojas com menos lotação, turmas com menos alunos, idosos em casa. O plano da UE que Costa admite aplicar em Portugal

Na semana em que a Comissão Europeia apresentou uma espécie de roteiro com recomendações para uma estratégia comum de saída das medidas de restrição, vários países europeus começam então a alinhar e a aplicar essa mesma saída. Esta quarta-feira, Ursula Von der Leyen apresentou o documento, que promove a utilização de uma aplicação para monitorizar infetados (ainda que menos invasiva do que a usada na China), a manutenção de grupos de risco, em particular idosos, em casa, e ainda uma testagem massiva que permita entender por completo a situação epidemiológica de cada país. Um plano, aliás, que António Costa garantiu ao Observador ser “exatamente” o “método” que Portugal definiu para a próxima fase de resposta à crise.

epa08338401 European Commission President Ursula von der Leyen holds a news conference detailing EU efforts to limit economic impact of the coronavirus disease (COVID-19) outbreak, in Brussels, Belgium, 02 April 2020.  EPA/FRANCOIS LENOIR / POOL

FRANCOIS LENOIR / POOL/EPA

Espanha: quase 2 milhões de regresso ao trabalho

Espanha tem nesta altura 188.068 casos positivos e 19.478 vítimas mortais. Ainda em estado de emergência, empresas, fábricas, setor da construção e outras atividades que foram consideradas não essenciais e que não funcionavam desde o dia 29 de março regressaram esta segunda-feira ao trabalho. O governo liderado por Pedro Sánchez ordenou a reabertura destas atividades, por forma a iniciar o estímulo necessário a uma economia parada há mês e meio, mas manteve o encerramento dos estabelecimentos de comércio, lazer e restauração.

No sábado, dois dias antes do regresso aos trabalho de milhares de espanhóis, o governo emitiu uma lista de regras e recomendações para os trabalhadores, por forma a reduzir o risco de ressurgimento do contágio nesta fase. Não sair para trabalhar com sintomas da Covid-19, usar transporte privado sempre que possível, usar máscara nos transportes públicos e no local de trabalho se este é partilhado com outras pessoas e criar mecanismos de entrada faseada nos edifícios são algumas das indicações dadas pelo executivo de Pedro Sánchez.

Quase 2 milhões de espanhóis regressam ao trabalho, entre receios e falta de máscaras nas empresas

O ministro da Saúde espanhol, Salvador Illa, relembrou entretanto que o reduzir de algumas medidas de restrição não significa o fim da quarentena e do confinamento social. “Não vamos suavizar o confinamento depois deste regresso ao trabalho de setores considerados não essenciais. Continuamos na fase do confinamento e temos todos de ter isso muito claro”, garantiu o ministro. Entretanto, o governo espanhol anunciou que, ao longo da semana, as forças de segurança iriam distribuir dez milhões de máscaras “exclusivamente” para quem tivesse de ir trabalhar e de se deslocar em transportes públicos.

Parlamento espanhol autoriza estado de emergência por mais duas semanas

Este reabrir de alguns setores de atividade, que terá colocado novamente na rua cerca de 1,8 milhões de espanhóis em todo o país, motivou choques de opinião entre vários especialistas. Toni Grilla, um epidemiologista que faz parte do comité científico que aconselha o governo, indica que “ninguém sabe se prolongar [o confinamento] estes cinco dias vai ter um enorme benefício ou se pesará mais o impacto económico”. “Nenhuma decisão pode ser fixa e radical”, acrescenta, citado pelo El País. Segundo Toni Grilla, mesmo com o regresso ao trabalho destes setores, o isolamento que se mantém no resto da população continua a significar uma suspensão de 70% da mobilidade urbana que acontecia antes da pandemia – ou seja, o recomeçar da atividade destes 1,8 milhões de espanhóis representa apenas 10% de toda a mobilidade nacional. Por isso, garante que o regresso ao trabalho de mais de um milhão de pessoas não pode ser interpretado como uma mudança “do branco para o preto”.

Em Espanha, mais de um milhão de pessoas regressou esta segunda-feira ao trabalho

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Por outro lado, María José Campillo, da Confederação Espanhola de Sindicatos Médicos, defende que a medida é precoce e que as autoridades competentes continuam “às escuras”. “Vai ser feita uma diminuição do confinamento sem saber quantas pessoas estão afetadas nem quantos assintomáticos há. Pode haver um foco a qualquer momento”, explicou ao El País. María José Campillo tocou precisamente num dos pontos tidos como imprescindíveis para a Organização Mundial de Saúde: a testagem massiva e a noção o mais abrangente possível da realidade epidemiológica de cada país.

Itália: lavandarias e livrarias reabriram e já se prepara o verão

Itália tem nesta altura 168.941 casos positivos e 22.170 vítimas mortais. O país foi visto, durante semanas consecutivas, como o grande foco da pandemia na Europa. Nas semanas mais recentes, o agravar da situação em Espanha e também no Reino Unido, com números recorde de novos infetados e óbitos a cada dia, acabou por afastar o protagonismo italiano. Ainda assim, continua a ser em Itália que se regista o maior número de vítimas mortais na Europa desde o início da pandemia e é também em Itália que se vive há mais tempo o período de isolamento que o mundo inteiro atravessa.

Com o recuar dos aumentos diários de novos casos e mortes, o governo italiano começou a pensar numa suavização “gradual e controlada” das restrições. A fase II desse processo, que as autoridades do país denominam de “coexistência com o vírus”, só deverá ser aplicada a partir de 16 de maio — e apenas se a curva de contágios continuar a registar uma queda continuada. Ainda assim, já esta terça-feira reabriram algumas lojas pequenas, como estabelecimentos de reparação de computadores, de roupa de bebé, lavandarias ou livrarias, onde a utilização de máscara por parte dos funcionários é obrigatória. Os restantes serviços, como cafés ou restaurantes, permanecem encerrados pelo menos até dia 4 de maio.

A ideia das autoridades italianas é ainda reforçar as redes de saúde locais, por forma a realizar uma triagem de casos positivos, conduzir essas pessoas para tratamento e ainda testar amostras significativas da população para confirmar quem está ou não imune à Covid-19. Mesmo com a certeza de que a utilização obrigatória de máscara e o “distanciamento social escrupuloso” serão regras indispensáveis, o governo italiano olha para a testagem alargada dos cidadãos como a forma de perceber em que contexto se encontra a pandemia no país e quando e onde é possível iniciar o gradual regresso à normalidade.

Com o recuar dos aumentos diários de novos casos e mortes, o governo italiano começou a pensar numa suavização "gradual e controlada" das restrições. A fase II desse processo, que as autoridades do país denominam de "coexistência com o vírus", só deverá ser aplicada a partir de 16 de maio e se a curva de contágios continuar a registar uma queda continuada.

A fase II do ressurgir da sociedade e da economia italiana inclui a circulação de transportes públicos com reduzida lotação, com funcionários a controlar as entradas e distância entre passageiros: em cada dois lugares, por exemplo, só um poderá ser ocupado. As cadeias de abastecimento alimentar e farmacêutico, assim como os estabelecimentos de reparações, deverão ser os primeiros setores a reiniciar a respetiva atividade – ainda que, segundo a imprensa italiana, sempre com limitações ao número de pessoas atendidas em simultâneo. Restaurantes, cafés, bares e recintos desportivos devem ser os últimos a reabrir e terão de garantir uma distância de segurança entre clientes e funcionários. Esta segunda fase implica ainda, numa altura em que as fronteiras forem reabertas, a quarentena de todas as pessoas que regressem a Itália.

Numa fase em que a Europa já pensa no verão – ou na possibilidade de esse verão não existir, por não ser possível –, Itália também já equaciona possibilidades para não perder por completo a temporada e tentar salvar as receitas do importante setor turístico. “Iremos ao mar, mas com segurança”, disse Lorenza Bonaccorsi, secretária de Estado do Turismo, que também assegurou que está a trabalhar para “garantir que todos possam ir à praia este verão”.

Queda nos casos e subida nas mortes. Há 24 dias que Itália se afasta do pico da pandemia

Entre as principais regras que deverão ser adiantadas estão o distanciamento social, o uso de máscaras e a manutenção da higiene e da limpeza através da utilização de desinfetantes. Ainda assim, existem empresas que estão a desenvolver produtos e protótipos que podem ser usados para garantir a segurança em destinos turísticos. Segundo o La Repubblica, a empresa Nuova Neon Group está a trabalhar em cubículos de acrílico transparente para solucionar o problema da distância nas praias: são espaços de 4,5 metros de largura e dois metros de altura que estão a ser testadas numa praia da Riviera Romagnola.

“Na nossa opinião, pode funcionar. A ideia nasceu com o duplo propósito de proteger mas também de reiniciar as atividades”, explicou o dono da empresa ao jornal italiano. O proprietário da Nuova Neon Group indica ainda que está a trabalhar em divisões de acrílico para bancos ou farmácias e até para restaurantes, para marcar a separação entre mesas.

A região da Lombardia, onde fica Milão, foi a mais fustigada pela pandemia no país

AFP via Getty Images

Áustria: máscaras obrigatórias e o primeiro estudo de prevalência do mundo

A Áustria tem nesta altura 14.568 casos positivos e 410 vítimas mortais. Um mês depois de anunciar fortes restrições à população, no início de março, o país prepara-se agora para começar a levantar algumas dessas medidas. A partir de 14 de abril, as lojas mais pequenas, como estabelecimentos de ferramentas e jardinagem, reabriram. A partir de dia 1 de maio, voltam a abrir portas as lojas maiores, os cabeleireiros e os centros comerciais, enquanto que o regresso ao funcionamentos dos restaurantes e dos hotéis está previsto para o meio do mês de maio, na melhor das hipóteses.

Quanto às escolas, só no final do presente mês de abril é que o governo austríaco vai decidir definitivamente se reabre os estabelecimentos de ensino durante o mês de maio ou se prolonga o ensino domiciliário até junho. Certo é que, precisamente até junho, todos os grandes eventos que obriguem a um largo aglomerado de pessoas vão permanecer proibidos. Esta espécie de reabertura ao mundo exterior na Áustria levou o governo a tornar obrigatória a utilização de máscara nos supermercados e nos transportes públicos, de forma a evitar uma segunda vaga de contágio.

Depois de surgir de máscara numa reunião extraordinária do Conselho Nacional Austríaco no início do mês, o chanceler Sebastian Kurz anunciou na semana passada o objetivo de alcançar uma “ressurreição” do país depois da Páscoa, garantindo que esta semana seria “decisiva”. “O nosso objetivo tem de ser eliminar a doença passo a passo. Vamos esforçar-nos todos juntos mais uma semana”, afirmou Kurz, que ressalvou ainda que aqueles que acreditam que a situação está sob controlo “estão errados” e que está preparado para “puxar um travão de emergência” caso a curva de novos infetados volte a crescer.

A meio de março, o número de casos positivos na Áustria duplicava a cada 3,6 dias. Atualmente, esse número duplica a cada 16,5 dias e o volume de pessoas infetadas com necessidade de internamento em unidades de cuidados intensivos estabilizou, estando há alguns dias ligeiramente acima das duas centenas. Terão sido estes dois fatores a levar o governo do chanceler Sebastian Kurz a optar por um ligeiro levantamento das restrições – ainda que um inédito estudo de prevalência tenha demonstrado que os números conhecidos são apenas “a ponta do icebergue”, como disse o próprio ministro da Investigação austríaco quando apresentou os resultados.

Depois de surgir de máscara numa reunião extraordinária do Conselho Nacional Austríaco no início do mês, o chanceler Sebastian Kurz anunciou na semana passada o objetivo de alcançar uma "ressurreição" do país depois da Páscoa, garantindo que a presente semana será "decisiva".

Este estudo de prevalência, o primeiro feito no mundo inteiro desde o início da pandemia, tinha como grande objetivo responder à fraca capacidade de testagem do país (desde o início da pandemia, a Áustria fez 140 mil testes a uma população superior a 10 milhões de habitantes). O Ministério da Investigação do país colocou então em curso este estudo, em colaboração com a Universidade de Viena e a Cruz Vermelha, e analisou uma amostra representativa de 1.522 pessoas. O resultado apontou para uma prevalência do vírus na população que chega aos 0,33%, ou seja, que indica que o número real de infetados na Áustria andará perto dos 28 mil, o dobro do valor oficial.

É precisamente este fator, o facto de o país ainda não ter um conhecimento total e abrangente da situação epidemiológica no território, que faz com que a Áustria não reúna por completo os elementos apontados recentemente pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como obrigatórios em cenário de relaxamento de medidas. Os seis fatores são os seguintes:

  • A transmissão está controlada;
  • O sistema de saúde consegue detetar, testar, isolar e tratar cada doente da Covid-19 e rastrear cada ligação;
  • O risco de surto está minimizado em sítios como instituições de saúde e lares;
  • Há medidas de prevenção aplicadas nos locais de trabalho, escolas e outros locais onde as pessoas têm que ir;
  • Os riscos de casos importados estão controlados;
  • A comunidade está bem informada, comprometida com a situação e com a capacidade para se ajustar à “nova norma”.

Será no segundo, no que diz respeito ao sistema de saúde, que a Áustria ainda não consegue reunir todas as condições apontadas pela OMS como imprescindíveis. Isto porque, apesar de contar com um sistema de saúde que é capaz de lidar com a situação atual, sem necessidade de medidas de crise como hospitais de campanha, ainda não tem um sistema de testagem massiva para detetar novos contágios, nem consegue realizar o acompanhamento dessas pessoas e proceder ao respetivo isolamento.

É aqui, na testagem, no acompanhamento de novos casos, no isolamento e principalmente no total conhecimento da situação epidemiológica do país, que a Áustria ainda não reúne todas as condições indicadas como necessárias para o reabrir do país. Nem a Áustria, nem a República Checa, nem a Dinamarca: os três países europeus que são os primeiros a tentar aliviar as medidas de restrição impostas para conter a pandemia.

Sebastian Kurz, o chanceler austríaco, surgiu de máscara numa reunião extraordinária do Conselho Nacional do país

APA/AFP via Getty Images

República Checa: viagens transfronteiriças “essenciais” já são permitidas

A República Checa tem nesta altura 6.499 casos positivos e 170 vítimas mortais. A 12 de março, o governo do país anunciou a implementação do estado de emergência, o encerramento de todas as lojas não essenciais e das escolas, a proibição de grandes eventos e ainda restrições a viagens dentro e fora de fronteiras. Sete dias depois, o país tornou-se mesmo um dos únicos, em contexto europeu, a tornar obrigatória a utilização de máscara ou cachecóis a tapar a boca e o nariz na rua (medida que, entretanto, foi implementada na Lombardia, a região mais fustigada pela pandemia em Itália).

Desde terça-feira da semana passada, é permitido fazer exercício físico na rua sem usar máscara. Dois dias depois, as lojas mais pequenas – de ferramentas ou de bicicletas – reabriram, assim como instalações de desportos individuais (golfe, ténis e padel), que funcionam sem mais do que duas pessoas no mesmo espaço e sem acesso aos chuveiros e balneários. O governo checo anunciou ainda que, a partir desta terça-feira, voltaram a ser permitidas as viagens transfronteiriças consideradas essenciais, por motivos de trabalho ou saúde, ainda que uma pessoa que se ausente do país esteja obrigada a cumprir um isolamento de 14 dias quando regressar. Também esta semana deveriam reabrir mais lojas, principalmente os estabelecimentos de bairro. Já as escolas, segundo o governo checo, deverão continuar encerradas até meio do mês de maio.

[A República Checa] tornou-se mesmo um dos únicos países, em contexto europeu, a tornar obrigatória a utilização de máscara ou cachecóis a tapar a boca e o nariz na rua: medida que, entretanto, foi implementada na Lombardia, a região mais fustigada pela pandemia em Itália.

Num discurso otimista, o ministro da Saúde da República Checa garantiu que é possível dizer agora que o país “está a gerir relativamente bem a pandemia” e que não é “a pandemia que está a gerir o país”. “Não estamos a ver aumentos massivos nos números de pacientes, quer identificados quer hospitalizados”, explicou Adam Vojtech. O governo do primeiro-ministro Andrej Babiš confia principalmente num sistema que apresentou como sendo uma “quarentena inteligente” e que assenta num sistema que utiliza dados dos telemóveis e dos cartões de crédito de pessoas infetadas – com a respetiva autorização – para acompanhar cidadãos com quem possam ter estado em contacto nos cinco dias anteriores.

Assim como a Áustria, o executivo de Andrej Babis planeia ainda realizar um estudo de prevalência que conclua o real impacto da pandemia na República Checa – e que permita adaptar o reabrir do país à realidade pandémica. Todas as lojas que vão reabrir terão de disponibilizar desinfetante e luvas descartáveis à entrada e garantir o distanciamento social entre os clientes no interior do estabelecimento. Ainda assim, e apesar da manutenção cautelosa de algumas restrições, o governo checo não falou em qualquer “travão de emergência” em cenário de ressurgir do número de infetados, como fez Sebastian Kurz.

Dinamarca: com cinemas, igrejas e centros comerciais fechados, escolas já voltaram às aulas

A Dinamarca tem nesta altura 7.073 casos positivos e 336 vítimas mortais. A 13 de março, há mais de um mês, o governo anunciou o encerramento de fronteiras, escolas, restaurantes e lojas. Os ajuntamentos de mais de 10 pessoas também foram proibidos e o país escandinavo foi um dos primeiros a nível europeu a decretar medidas rígidas e duras para conter a propagação do vírus.

Cerca de um mês depois, o governo dinamarquês decidiu reabrir esta quarta-feira as escolas e os jardins de infância – tornando-se o primeiro país da Europa a voltar a abrir as portas dos estabelecimentos de ensino. Ainda assim, e dos três países que se adiantaram no relaxamento das medidas de restrição, a Dinamarca é o caso mais comedido: os cinemas, as igrejas e os centros comerciais vão permanecer fechados, os aglomerados com mais de dez pessoas mantêm-se proibidos até dia 10 de maio e os festivais ou grandes ajuntamentos de pessoas não vão acontecer até agosto. Além de tudo isso, as fronteiras vão permanecer encerradas e os dinamarqueses estão impedidos de deixar o país, assim como os cidadãos estrangeiros estão proibidos de entrar na Dinamarca, e as medidas de relaxamento só se aplicam a metade dos municípios do país, sendo que a outra metade “reabre” no dia 20.

A primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, referiu que os passos seguintes serão como "andar numa corda bamba"

Ritzau Scanpix/AFP via Getty Ima

Esta decisão do governo dinamarquês, centrada maioritariamente nos estabelecimentos de ensino, enquanto que os restantes setores se mantêm encerrados, tem motivado várias críticas por parte dos pais, que consideram que as crianças estão a ser utilizadas como “porquinhos da Índia” para testar as novas medidas. No Facebook, já 35 mil pessoas se juntaram no grupo “O meu filho não vai ser uma cobaia da Covid-19”, onde é possível ler centenas de publicações de pais indecisos sobre se devem permitir que os filhos vão à escola. “Estou a tentar ficar calma – ao dizer que é ok, que as crianças não são tão afetadas… MAS, no fundo, estou mais assustada! Mas não posso mostrar isso! Tenho de ser forte. Mas a voz pequenina dentro do meu estômago pergunta-me como mãe: como é que eu posso pôr uma criança na escola, num mundo incerto em que nem nos atrevemos a sair de casa devido a essa incerteza?”, pode ler-se num dos posts, escrito por uma mãe de uma criança de 12 anos.

A reabertura das escolas, porém, não será feita de forma estanque e terá várias regras. A primeira implica que, nos jardins de infância, cada criança deve contar com um espaço pessoal de seis metros quadrados, espaço esse que é reduzido no caso das escolas primárias para quatro metros quadrados. Significa isto que as turmas terão de ser divididas e que nem todos os alunos poderão estar na mesma sala ao mesmo tempo: em Copenhaga, por exemplo, vão ser utilizados espaços como museus ou parques infantis para proporcionar mais espaço.

Apesar da incerteza gerada junto da população devido à decisão de reabrir as escolas, a verdade é que o discurso do governo da Dinamarca aproxima-se mais das cautelas austríacas do que do otimismo checo. “Isto vai ser um bocadinho como andar numa corda bamba. Se ficarmos parados durante o caminho podemos cair, se formos muito rápido podemos errar. Por isso, devemos dar um passo cauteloso de cada vez”, disse a primeira-ministra Mette Frederiksen na semana passada. “A única coisa que nos fez evitar cenários trágicos como os de Itália ou dos Estados Unidos foi o facto de termos agido rápido”, acrescentou.

Joana Lobo, portuguesa que está há cerca de dois anos e meio na Dinamarca, confirma que a população do país está “dividida” quanto à decisão da reabertura das escolas. “As opiniões dividem-se. Há pessoas que defendem que sim, as escolas devem reabrir e que pouco a pouco, devagarinho, as crianças devem voltar às escolas. Há outras pessoas que acham que não, que é um disparate e que só vai propagar mais a doença”, explica Joana ao Observador.

Ainda assim, e dos três países que se adiantaram no relaxamento das medidas de restrição, a Dinamarca é o caso mais comedido: os cinemas, as igrejas e os centros comerciais vão permanecer fechados, os aglomerados com mais de 10 pessoas mantêm-se proibidos até dia 10 de maio e os festivais ou grandes ajuntamentos de pessoas não vão acontecer até agosto.

Ao The Guardian, um investigador clínico dinamarquês no Departamento de Doenças Infecciosas do Hospital Universitário de Aarhus garantiu ser “compreensível” o receio da população mas explicou que o governo do país está a ser “conduzido pela ciência”. “Impusemos medidas fortes de distanciamento social, que funcionaram, e o sistema de saúde consegue gerir a atual carga de trabalho. Por isso, levantamos restrições no grupo da sociedade onde os dados mostram claramente que existe um risco extremamente baixo. E tentamos manter o vírus longe daqueles que seriam mais prejudicados. Não é a economia que está a ditar o que devemos abrir. É a baixa taxa de infeção e a baixa taxa de mortalidade nas faixas etárias mais novas”, afirmou Christian Wejse.

Uma ideia que a primeira-ministra Mette Frederiksen desmentiu, pelo menos em parte, quando disse na semana passada que a estratégia que será adotada é “uma escolha política”. “Todas as crises, no seu âmago, são políticas. Os líderes estão sempre atentos à forma como a própria performance vai ser encarada pelas pessoas. Vai ser um dos maiores desafios que os governos democráticos terão de enfrentar em muito tempo: encontrar esse equilíbrio dourado entre o ressurgir de uma pandemia e matar a economia. Vai ser necessária muita sabedoria e uma liderança excecional”, explica Arjen Boin, um especialista em gestão de crise da holandesa Universidade de Leiden, ao Vox.

Já Joana Lobo, que se vai manter em regime de teletrabalho pelo menos até ao dia 10 de maio, acredita que o governo está a ser “aconselhado por peritos” e defende que é necessário “acreditar que nada irá ser feito que prejudique a saúde das pessoas”. “A situação está a acalmar. Os hospitais não estão a abarrotar como noutros países. A Dinamarca foi o segundo país da Europa a anunciar medidas de restrição, logo depois de Itália, porque tínhamos muitos casos para a população que temos [cerca de cinco milhões de habitantes]. E a partir daí conseguiram gerir a situação”, indica Joana, que trabalha na área das ciências de apoio às legislações.

Apesar de considerar que “existe sempre” algum risco ao levantar medidas, Joana Lobo acredita que a Dinamarca é capaz de “gerir” a eventualidade de um ressurgimento do vírus. “As pessoas dos países nórdicos confiam muito nos políticos. Tentam sempre fazer aquilo que é aconselhado. Acho que no Sul da Europa as pessoas não têm tanta confiança e sentem que não têm de tomar as opiniões dos políticos em consideração. Aqui nunca foi proibido sair de casa, nunca chegámos a estar em estado de emergência, sempre pudemos passear, fazer caminhadas curtas, um bocadinho de desporto”, explica a portuguesa ao Observador. “No supermercado, há marcas no chão para as pessoas manterem o distanciamento. Se as coisas não correrem bem, é parar de novo. Até porque não acredito que esta reabertura seja com toda a gente a regressar ao trabalho ao mesmo tempo”, conclui Joana Lobo.

epa08291576 A man protecting himself with a mask carries shopping bags on a street of Oslo, Norway, 13 March 2020. Due to coronavirus COVID-19 outbreak it is relatively quiet in the streets of Norway's capital.  EPA/HAKON MOSVOLD LARSEN  NORWAY OUT

Na Noruega, as consultas presenciais com psicólogos e psicoterapeutas vão recomeçar na próxima semana

HAKON MOSVOLD LARSEN/EPA

Noruega: escolas reabrem dia 20, para “ansiedade” dos pais

A Noruega tem nesta altura 6.937 casos positivos e 161 vítimas mortais. A 12 de março, a primeira-ministra Erna Solberg anunciou “as medidas mais extensas que a população norueguesa conheceu em tempos de paz”. Jardins de infância, escolas e universidades encerraram, as fronteiras fecharam, as atividades e os eventos públicos foram cancelados, a larga maioria dos cidadãos ficou confinada em casa e estabeleceu-se uma política muito específica de proibição de viagens até às casas de férias, algo habitual no país.

Mais de um mês depois, a Noruega vai seguir o exemplo da Dinamarca e tornar-se o segundo país europeu a reabrir as escolas. O jardins de infância voltam a estar em funcionamento na próxima semana, dia 20, enquanto que as escolas primárias reabrem portas na semana seguinte. No comunicado em que anunciou o relaxamento de algumas medidas, o governo norueguês garantiu que o objetivo é ter todas as escolas do país a funcionar em pleno até ao verão. As únicas exceções são crianças em situações de risco – ou que vivem com adultos em que fazem parte dos grupos de risco –, cujo regresso às aulas não será obrigatório e que continuarão a receber ensino domiciliário.

Roxanne Franco, uma portuguesa que está na cidade de Bergen desde janeiro de 2019, explica que muitos dos pais estão “ansiosos” com o regresso às escolas. “Claro que as crianças são energéticas e que já estão muito fartas de estar em casa e, por isso, os pais veem benefícios na reabertura das escolas. Mas muitos admitem que pode ser precoce. A verdade é que a situação parece estar mais ou menos controlada, os novos contágios e mortes estão numa linha muito equilibrada, mas o que hoje pode estar controlado amanhã pode descambar”, diz ao Observador.

Roxanne, de 26 anos, garante ainda que os noruegueses olham para o levantar de algumas restrições com “alívio” mas explica que as cautelas vão ser mantidas mesmo num eventual regresso ao trabalho. “Eles cumprem tudo bastante à risca. Nunca saem muito à rua, só mais nos dias de sol, que aqui são poucos. E, mesmo quando saem nesses dias, saem em grupos familiares, com as pessoas com quem estão em quarentena. Mas vejo que não há visitas a outras casas, a amigos. O supermercado não está cheio de gente. Acho que se forem abrindo, a pouco e pouco, as pessoas vão continuar a ter cuidado”, acrescenta.

"Claro que as crianças são energéticas e que já estão muito fartas de estar em casa e, por isso, os pais vêem benefícios na reabertura das escolas. Mas muitos admitem que pode ser precoce".
Roxanne Franco, portuguesa que vive na Noruega

Também nas próximas duas semanas, a proibição de viajar até às casas de férias vai terminar. Muitos serviços de saúde que funcionam através de contacto próximo entre as pessoas envolvidas, como psicólogos e psicoterapeutas, também vão voltar a estar em funcionamento. Os cabeleireiros também vão reabrir, ainda que todos os estabelecimentos autorizados a regressar às funções tenham de ser avaliados pelo Instituto de Saúde Pública da Noruega, para atestar que estão a cumprir os requerimentos de controlo de infeção.

Além de tudo isto, o governo decidiu ainda que os pais que tenham de atravessar as fronteiras entre a Noruega e qualquer outro país para visitar filhos com menos de 18 anos não terão de cumprir os 14 dias de quarentena standard para todos os outros casos. Os cidadãos também poderão voltar a fazer exercício físico e outras modalidades, ainda que sempre com distanciamento social e com cautela quanto ao tamanho do grupo. Já os eventos desportivos e culturais mantêm-se cancelados, pelo menos, até ao dia 15 de junho. O executivo liderado por Erna Solberg estabeleceu ainda que os hospitais têm de estar preparados para regressar ao funcionamento normal e habitual durante esta semana.

Ao contrário dos casos da Áustria, da República Checa e da Dinamarca, a Noruega é um dos países do mundo inteiro que mais testes per capita realizou. De acordo com o governo norueguês, foram feitos mais de 100 mil testes desde o início da pandemia (o país tem cerca de 5 milhões de habitantes), um número que só fica atrás da Islândia e dos Emirados Árabes Unidos no que toca a exames por cidadão. “A Noruega conseguiu tomar o controlo do vírus. O objetivo agora é manter esse controlo. As mudanças vão ser implementadas ao longo do tempo de uma forma controlada”, explicou a primeira-ministra Erna Solberg.

A elevada taxa de testes realizados não surpreende Roxanne Franco. “O governo sempre disse que os testes, a prevenção, seriam um passo à frente da doença. Que com a prevenção estaríamos sempre um passo à frente da doença”, indica ao Observador. A portuguesa, que faz serviços de tradução para uma empresa de software mas também limpezas ao domicílio, revela que esteve desde o início da pandemia em “quarentena parcial”. “Estou em casa e só saio para trabalhos com marcação. Ainda assim, tenho tido muitas marcações canceladas, algo que não era habitual. Trabalhamos equipados e protegidos e os donos das casas perguntam sempre se não temos sintomas e se não viajámos há pouco tempo”, refere. Roxanne acrescenta ainda que a maioria dos pequenos negócios e escritórios estão “a decidir e a discutir em equipa” se regressam aos locais de trabalho na próxima semana e a desenhar medidas de distanciamento de prevenção.

Angela Merkel disse há duas semanas que era "demasiado cedo" para pensar em aliviar restrições mas reúne esta quarta-feira para preparar um plano

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Alemanha: escolas abrem “gradualmente e muito devagar” a partir de 4 de maio

A Alemanha tem nesta altura 138.456 casos positivos e 4.193 vítimas mortais. O estado de emergência que ainda se encontra em vigor só foi decretado a 22 de março – e só termina o período de vigência a 19 de abril, domingo. Ainda assim, já no início deste mês de abril, o executivo alemão reuniu um conjunto de medidas e desenhou uma proposta para “reabrir” o país o mais depressa possível. Essa proposta inclui regras como o uso obrigatório de máscara em público, a limitação de ajuntamentos de pessoas e o rastreio rápido das cadeias de infeção.

Angela Merkel reuniu esta quarta-feira com os líderes de todas as regiões do país para encontrar um plano comum e conjunto para um lento regresso à normalidade. A chanceler alemã, que há cerca de duas semanas garantiu ser “demasiado cedo” para levantar restrições, foi especialmente influenciada pelo estudo da Academia Nacional de Ciências Leopoldina, que disse ser “um dos mais importantes” para chegar a uma solução plausível. O documento, que tem 18 páginas e está assinado por 26 especialistas de várias áreas, defende um “regresso paulatino à normalidade” e sublinha a importância de subsídios de apoio para os trabalhadores e ajudas imediatas para as pequenas e médias empresas, além de um plano de inversão na política de infraestruturas para que o Estado possa ter uma margem de manobra mais ampla.

Merkel pede paciência aos alemães porque situação continua “frágil”

O documento, que também defende a utilização obrigatória de máscara nos transportes públicos, explica ainda a importância da reabertura das escolas “o mais cedo possível” e recomenda que todas as turmas tenham, no máximo, 15 alunos. A Academia Nacional de Ciências Leopoldina, porém, é mais cética quanto ao regresso ao funcionamento dos jardins de infância, por considerar que as crianças mais pequenas não sabem cumprir as regras de distanciamento social nem de utilização de máscaras. De recordar que a Alemanha foi um dos países europeus que mais retardou o encerramento das escolas, por recear o impacto da medida na economia e nos setores de produção, já que os pais teriam de ficar em casa e deixar de trabalhar para cuidar dos filhos. O ministro da Saúde, Jens Spahn, chegou a chamar a atenção para os possíveis “efeitos devastadores” para a população mais vulnerável – isto no caso de as crianças ficarem ao cuidado dos avós.

A chanceler alemã, que há cerca de duas semanas garantiu ser "demasiado cedo" para levantar restrições, foi especialmente influenciada pelo estudo da Academia Nacional de Ciências Leopoldina, que disse ser "um dos mais importantes" para chegar a uma solução plausível.

Por fim, os especialistas da Academia Nacional de Ciências Leopoldina defendem também a utilização de aplicações de telemóvel para rastrear a trajetória de pessoas infetadas, uma estratégia aplicada com sucesso em países como a Coreia do Sul e que vai agora ser replicada pela República Checa – ainda que, no caso alemão, a aplicação só fosse utilizada através do “uso voluntário” do próprio cidadão. O modelo, referem os especialistas, podia partir de “sondagens” realizadas a nível nacional e teria de garantir que os dados seriam utilizados de forma anónima.

Depois de tudo isto, esta quarta-feira foi mesmo um dia decisivo para o futuro da Alemanha. Angela Merkel analisou a situação esta terça-feira em conjunto com os ministros da Saúde, das Finanças e da Economia e reuniu esta quarta-feira com os líderes dos 16 estados federais do país. Depois da reunião, a chanceler anunciou que as medidas de distanciamento social vão continuar em vigor pelo menos até dia 3 de maio mas que as escolas vão reabrir “gradualmente e muito devagar” a partir de 4 de maio, com novas normas de segurança que serão aplicadas nos autocarros escolares e nos intervalos e prioridade para os anos com exames. “Será um grande esforço logístico e vai precisar de uma preparação muito cuidadosa”, garantiu Merkel.

A partir de dia 20, próxima segunda-feira, as lojas até 800 mpoderão reabrir, desde que tenham “planos para manter a higiene”. Stands de automóveis, lojas de bicicletas e livrarias também vão recomeçar a atividade na próxima semana, independentemente do tamanho do espaço. Já os cabeleireiros, que também vão estar obrigados a ter medidas de higiene adicionais, reabrem a partir de 4 de maio. Bares, cafés, restaurantes e cinemas permanecem encerrados e os grandes ajuntamentos públicos, incluindo cerimónias religiosas, estão cancelados até 31 de agosto. Angela Merkel sublinhou ainda a ideia de que o isolamento “ainda não acabou” e recomendou a utilização de máscara nos supermercados e nos transportes públicos, defendendo que o uso deste material “ajuda a proteger outras pessoas”. A chanceler acrescentou que o país alcançou um “intermédio e frágil sucesso” com as medidas de restrição e garantiu que a população terá de “continuar concentrada” porque não existe “muita margem de manobra”.

Suíça: três fases de uma saída que ainda tem “um longo caminho”

A Suíça tem nesta altura 27.078 casos positivos e 1.325 vítimas mortais. No início da semana, o ministro da Saúde revelou que o país estava pronto para levantar algumas das restrições impostas mas recordou que a batalha tem ainda “um longo caminho até terminar”. Alain Berset mostrou-se “satisfeito” com a resposta dos cidadãos durante o período da Páscoa e garantiu que o passado fim de semana “não correu assim tão mal”. “Como dissemos, este não é o momento para viajar ou tirar férias. E como vimos, as pessoas cumpriram as regras. Estou feliz com isso. Estamos a pedir muito às pessoas nesta altura, é preciso dizer isso”, disse o ministro.

Abrindo então a porta à possibilidade de aliviar algumas das restrições, Alain Berset explicou que o objetivo é não cair na necessidade de voltar a ter de apertar as medidas devido ao ressurgimento da curva de contágios ou ao aparecimento de uma nova vaga. Esta quinta-feira, foi a presidente Simonetta Sommaruga a anunciar um plano de três fases para a saída do confinamento generalizado.

A primeira fase de saída do confinamento na Suíça arranca a 27 de abril

AFP via Getty Images

Os estabelecimentos que prestam serviços pessoais, como cabeleireiros ou consultórios de psicólogos, poderão retomar a atividade a partir de 27 de abril — sempre com limitações quanto ao número de pessoas presente no mesmo espaço. Também a restrição que limita à família mais próxima a presença em funerais será levantada já no fim deste mês. Duas semanas depois, a partir de 11 de maio, reabrem as escolas. Bares, restaurantes, cafés, cinemas e centros comerciais estarão fechados até 8 de junho, a data marcada para o início da terceira fase. “Isto vai dar-nos a todos uma perspetiva para o futuro mais imediato e os negócios terão tempo para se preparar para reabertura das lojas sob as regras de distanciamento social e as precauções de higiene”, explicou a presidente suíça.

Ainda em estado de emergência, que estará em vigor pelo menos até dia 19 de abril, a Suíça ainda não formulou novos planos para os eventos de massas, como concertos, festivais ou atividades desportivas: todos os aglomerados de mais de cinco pessoas estão para já ainda proibidos. A ideia do governo suíço, com este plano de três fases, é adiantar-se e estabelecer normas nacionais o mais depressa possível para evitar que os governos regionais e as respetivas autoridades atuem unilateralmente.

Outros países, desde a indefinição francesa à data marcada na Grécia

  • Em França, Emmanuel Macron anunciou o prolongamento das medidas de confinamento até dia 11 de maio, ainda que “as pessoas mais vulneráveis, idosas, com doenças crónicas ou deficiência severa” devam ficar em casa mais tempo. Escolas e creches devem reabrir nessa altura, mas não as universidades, os bares, os restaurantes e as salas de espetáculo;
  • No Reino Unido, ainda sem data para o levantar das restrições, Boris Johnson voltou a realçar no início da semana a necessidade das medidas de isolamento social e disse que as mesmas serão reavaliadas nos próximos dias;
  • Na Holanda, as medidas vão manter-se pelo menos até dia 28 de abril, altura em que o governo vai anunciar os novos planos;
  • Na Grécia, o governo já anunciou a intenção de relaxar “gradualmente e por fases” as medidas a partir do dia 10 de maio;
  • Na Polónia, as medidas mantêm-se até 20 de abril e ainda não há informação sobre o que poderá acontecer a partir daí;
  • Na Irlanda, o primeiro-ministro já referiu que acredita que as medidas possam começar a ser levantadas durante o mês de maio, de forma faseada, incluindo as restrições à liberdade dos cidadãos e o encerramento das escolas;
  • Na Roménia, o Presidente estendeu o estado de emergência por mais um mês, até meio de maio;
  • Na Hungria, Viktor Orbán ainda não apontou qualquer data para o recuar das medidas, ainda que tenha garantido que o governo discute o tópico todas as semanas;
  • Na Ucrânia, o primeiro-ministro já disse que algumas das medidas poderão ser levantadas já no final de abril, incluindo o regresso de grande parte da população ao trabalho e o recomeçar do funcionamento dos transportes públicos. O governo ucraniano anunciou novas restrições a aglomerados de pessoas e à circulação da população há poucos dias, no início de abril;
  • Na Bulgária, o parlamento votou na semana passada o fim de algumas restrições e decidiu que os mercados agrícolas poderão reabrir e que as multas a algumas das atividades proibidas serão reduzidas.
epa08347768 A man wearing a protective mask reads the news about British Prime Minister Boris Johnson's condition outside St.Thomas' Hospital in London, Britain, 07 April, 2020.  According to a statement by his office, British Prime Minister Boris Johnson was admitted into St. Thomas' Intensive Care Unit (ICU) on the evening of 06 April – 11 days after first having tested positive for the pandemic COVID-19 disease caused by the SARS-CoV-2 coronavirus – due to a worsening of his symptoms. First Secretary of State Dominic Raab, who also serves as Secretary of State for Foreign and Commonwealth Affairs, will be deputizing for Johnson when needed, the statement added.  EPA/ANDY RAIN

Depois de sair do hospital, Boris Johnson já reforçou a necessidade da manutenção das medidas de distanciamento social

ANDY RAIN/EPA

OMS alerta para possibilidade de “ressurgimento letal”

A vontade de alguns países de regressar a algum tipo de normalidade tem levantado preocupações junto da OMS. Depois de no início do mês já ter alertado para o perigo de “o vírus ressurgir”, o que levaria a um “impacto económico ainda mais grave e mais prolongado”, e já após desenhar os seis elementos obrigatórios para a progressiva reabertura dos países, a organismo sublinhou a possibilidade de um “ressurgimento letal” da pandemia em cenário de levantamento prematuro das medidas de restrição.

OMS avisa: levantamento prematuro de restrições pode levar a um “ressurgimento letal” do novo coronavírus

“Sei que alguns países já estão a preparar a transição para sair das restrições do ‘Fiquem em Casa’. A OMS quer ver essas restrições levantadas, como toda a gente. Mas, ao mesmo tempo, levantar essas restrições muito rapidamente pode levar a um ressurgimento letal”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, num dos briefings diários da organização no fim de semana passado.

O líder da OMS indicou ainda que “o caminho para sair [da contenção] pode ser tão perigoso como o caminho até entrar, se não for gerido convenientemente” — e relembrou que até países com sistemas de saúde robustos estão a enfrentar dificuldades face a esta pandemia, acabando por sublinhar que “nenhum país está a salvo”.

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