Numa altura em que alguns estados norte-americanos anunciam uma retoma “gradual” da vida económica e social, começam a surgir protestos contra o confinamento social provocado pela pandemia, os quais já foram publicamente apoiados por Donald Trump.
Trump anunciou o levantamento gradual de algumas restrições no final da semana. Nos estados do Texas e de Vermont alguns negócios vão ser retomados a 20 de abril, com Montana a levantar as restrições a 24 desse mês. Já os negócios não essenciais em Ohio, Dakota do Norte e Idaho vão ser retomados de forma faseada a partir do dia 1 de maio.
Entretanto, surgem cada vez mais protestos contra as restrições impostas, explica a BBC. Também no sábado registaram-se manifestações em diferentes cidades norte-americanas, incluindo Austin, no Texas, e Huntington Beach, na Califórnia, as quais aconteceram sem o devido distanciamento social. Os protestos também se fizeram sentir em Maryland. Para domingo eram esperadas manifestações nos estados do Arizona, Colorado, Montana e Washington.
Antes disso, já Trump tinha incentivado as manifestações em três estados governados por democratas. No Twitter escreveu “Libertem o Michigan!”, “Libertem o Minnesota!” e “Libertem a Virgínia!”.
LIBERATE MICHIGAN!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) April 17, 2020
Jay Inslee, governador de Washington, avisou que o apoio de Trump aos protestos era “perigoso” e encorajador de “insubordinação”. “Ter um presidente americano a encorajar pessoas a violar a lei, não me consigo lembrar de um momento em que tenha visto uma coisa dessas”, disse este domingo à ABC. Já Nancy Pelosi, líder dos democratas na Câmara dos Representantes, acusou Trump de estar a provocar uma “distração”.
Numa mudança de tom, este domingo Trump elogiou os governadores democratas de Nova Iorque e do Michigan. “Estamos a construir hospitais. Ele trabalhou muito bem connosco”, disse o presidente sobre Andrew Cuomo, com quem tem tido desavenças públicas desde o início da pandemia. Falou ainda sobre Gretchen Whitmer, a governadora democrata do Michigan. “Honestamente, a governadora do Michigan trabalhou muito bem connosco no assunto das camas disponíveis”, afirmou.
Trump não só defendeu o regresso à normalidade, numa altura em que surgem protestos que contrariam a extensão das medidas de confinamento social, como já antes garantiu que os EUA estão a fazer mais testes que qualquer outro país. Ainda no domingo afirmou que 4,18 milhões de norte-americanos foram testados.
Enquanto governadores em diferentes estados começam a ponderar o regresso a uma normalidade possível, outras regiões do país permanecem em lockdown. É o caso da Califórnia, cujo governador Gavin Newsom foi o primeiro a emitir uma ordem de confinamento social, decretada no passado dia 19 de março. Seguiram-se Washington e Oregon, a 23 de março.
Em Nova Iorque, Andrew Cuomo já anunciou que as restrições — incluindo a obrigatoriedade de ficar em casa — estão para ficar até 15 de maio. No briefing de domingo, Cuomo disse que era preciso garantir que o “monstro” está domado e que não estavam apenas no “intervalo” da crise.
"That's just delusional, to be making statements like that," Virginia Gov. Northam says about President Trump's claim that states have enough tests to reopen. "To have no guidance to the state levels is just irresponsible because we're not there yet" #CNNSOTU pic.twitter.com/wzowhOAEUj
— CNN Politics (@CNNPolitics) April 19, 2020
Cuomo pediu mais testes e não é o único, escreve a Reuters. O governador republicano Larry Hogan, de Maryland, disse, numa entrevista à CNN, que as afirmações de Trump e de Mike Pence, vice-presidente dos EUA, sobre existirem testes suficientes nos diferentes estados eram “absolutamente falsas”. Uma versão suportada também pelo governador democrata Ralph Northam, da Virgínia, que afirmou também à CNN que essa era uma ideia “ilusória”.
A pandemia já criou 22 milhões de novos desempregados nos EUA, numa altura em que o país soma mais de 740 mil casos positivos e mais de 40 mil mortes.