Em Portugal, 40% do total de mortos registados ocorreu em lares de idosos — ainda assim abaixo de alguns países onde essa percentagem é mais de metade do total. O foco das últimas semanas tem sido a testagem em massa dos funcionários das estruturas residenciais para idosos e está a ser estudado o modelo que permita retomadar as visitas aos idosos que vivem nessas instituições. É, aliás, uma das prioridades do Presidente da República, segundo confirmaram ao Observador fontes das Misericórdias recebidas em audiência durante esta semana: arranjar uma solução para aligeirar a proibição de visitas em vigor desde março.

Mas os dados da primeira semana de maio não são animadores: nos quase dois mil novos casos que surgiram entre 1 e 7 de maio há registo de 52 surtos em estruturas residenciais para idosos. Segundo a ministra Marta Temido, foram registados na região do Norte, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Centro. A informação avançada no briefing deste domingo é completada com a indicação de que dos quase 2 mil novos casos, 17% são de pessoas da faixa etária a partir dos 80 anos.

Relativamente aos testes aos funcionários destas instituições, que arrancaram em simultâneo em todo o país, mas que segundo a ministra “tiveram ritmos diferentes” nas cinco regiões de saúde, a Norte e no Algarve estão completos, com Lisboa e Vale do Tejo e o Centro próximos de terminar e o Alentejo “mais atrasado”.

Normas para as creches estão a ser ultimadas para que possam ser “exequíveis”

O regresso das crianças às creches deverá acontecer já na próxima semana, mas mantêm-se algumas dúvidas sobre a adaptação das estruturas às novas regras definidas para evitar surtos nas instituições e conter a propagação da pandemia. E é essa adaptação à realidade que está a ser ultimada em coordenação entre as autoridades de saúde e o ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.

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“Não podemos prescindir de regras de controlo e prevenção da infeção e segurança de todos os envolvidos, mas temos de estar atentos à capacidade de implementação.”, disse Graça Freitas acrescentando que as entidades de saúde, o ministério do Trabalho Solidariedade e Segurança Social e os parceiros têm estado a ultimar os documentos para que seja encontrado “um equilíbrio entre saúde e segurança”.

Marta Temido, por sua vez, acrescentou que as “regras para creches estão praticamente concluídas, mas ainda não estão publicitadas”, estando nos “últimos detalhes no ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social”. A ministra recordou ainda o exemplo da Suécia, onde as creches nunca chegaram a ser fechadas afirmando que é necessário estar “bastante atento àquilo que é a compatibilização de um conjunto de regras de higienização de manutenção das questões possíveis”, mas sem perder a noção que dada a tenra idade das crianças têm “maior dificuldade no cumprimento de regras”.

Regresso ao futebol com limites pré-definidos? “É difícil definir linhas vermelhas no futebol”, diz Graça Freitas

Depois de terem sido conhecidos os resultados positivos a três jogadores do Vitória de Guimarães, Graça Freitas frisa que as situações serão avaliadas caso a caso e que “é difícil definir linhas vermelhas”.

“Se os testes que se preconizam sejam feitos às equipas derem um número elevado de positivos, tem que ser equacionado pelas autoridades de saúde o risco concreto e tomar medidas. Tem que haver uma uniformidade de critérios. A decisão de avaliação do risco de medidas que podem ser tomadas em concreto envolvem os três níveis das autoridade de saúde”, afirmou a diretora-Geral da Saúde acrescentando que é necessário “aguardar”.

Caberá às autoridades de saúde nos vários níveis — local, regional e nacional — avaliar caso a caso os testes positivos que possam ser registados, mas Graça Freitas não adiantou nenhum número chave ou outra estratégia que possa ditar um cancelamento da 1.ª liga de futebol, cujo regresso está previsto para junho. “Teremos de aguardar, estão criadas as regras, vão ser cumpridas, aguardamos os resultados e depois avaliaremos o risco”, disse.

Já a ministra da Saúde nota que esta será mais uma área em que Portugal poderá aprender com o exemplo dos outros, citando a Alemanha que retoma a Bundesliga já a 16 de maio. “Mantém-se a intenção do Governo de avaliar a possibilidade que temos para a retoma das competições desportivas nesta área no final deste mês. Estamos a aperfeiçoar o nosso pensamento, aprendendo com os outros”, afirmou a ministra da Saúde.

Merkel decidiu, está decidido: chanceler autoriza regresso do futebol e Bundesliga volta em maio (à porta fechada)

64% dos novos casos em maio com transmissão dentro da mesma casa

Na apresentação dos dados relativos aos 2.078 novos casos confirmados na primeira semana de maio, a ministra da Saúde Marta Temido detalhou que dos 92% do total de casos confirmados, com os dados completos inseridos no sistema, 46% tinham informação sobre o tipo de transmissão que ocorreu. Desses novos casos dos quais há  informação sobre a transmissão — que correspondem a menos de metade do total de casos — , 32% das pessoas foram infetadas “em ambiente de lar” e 32% “entre coabitantes”, ou seja 64% das transmissões entre 1 e 7 de maio ocorreram debaixo do mesmo teto.

Logo depois surgem as infeções no local de trabalho, com 19% a ser infetado no trabalho e 7% em ambiente social, “0 percentual restante refere-se a 4% de casos cuja infeção foi contraída entre profissionais em estruturas para idosos e 3% entre profissionais a trabalhar em ambiente de saúde”. Dos mais de 2 mil casos, apenas 92% foi registado no sistema que monitoriza os dados com toda a informação e desses 92% apenas 46% tinha informação sobre o tipo de transmissão, ficando assim mais de metade dos novos casos de infeção sem o registo que permite identificar qual foi o local de origem do contágio.