O secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media, Nuno Artur Silva, admitiu esta quarta-feira que os financiamentos ao setor “têm de ser reavaliados” tendo em conta o regresso a “uma nova normalidade”, por causa da Covid-19.

“Este regresso não é à normalidade, é a uma nova normalidade e exige medidas financeiras e uma reavaliação completa do tipo de cinema, séries e documentários que estamos a fazer. Têm de ser reavaliados em função do que pode ser filmado”, disse, numa audição da comissão parlamentar de Cultura e Comunicação.

Sobre o retomar de atividade, Nuno Artur Silva admitiu que o Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) possa recorrer ao saldo de gerência “no contexto das medidas de relançamento” do setor. “Estamos a refletir com as várias associações”, disse.

No final de abril, numa reunião com a tutela, a Plataforma de Cinema, que representa várias estruturas do setor, tinha proposto a possibilidade de utilização do saldo de gerência do ICA para apoiar os que viram o trabalho suspenso desde março, por causa da Covid-19.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

De acordo com o mais recente relatório de gestão disponível na página do ICA, referente a 2018, o saldo de gerência nesse ano era de 17,5 milhões de euros.

Na audição parlamentar desta quarta-feira, Nuno Artur Silva disse ainda que já está aprovado um manual com medidas de segurança e higiene “que deve ser tido em conta” pelas produtoras que querem voltar a filmar.

Aos deputados, o secretário de Estado elencou ainda “outros instrumentos” nos quais o Governo quer trabalhar “para o regresso à atividade”, nomeadamente a revisão do plano estratégico da RTP, a criação de um novo plano estratégico para o cinema e audiovisual e a “transposição da diretiva audiovisual, que vai criar obrigações para os investidores estrangeiros”.

Para Nuno Artur Silva, o setor que tutela é frágil, mas essa condição “não tem a ver só com a falta de investimento, mas com o modelo de existência do cinema e audiovisual”, porque as duas áreas “não construíram uma indústria”.

“Na televisão há um predomínio do entretenimento mais ligeiro e no cinema há um domínio do mais artesanal. Não construíram uma indústria e revela a fragilidade não só do lado dos investimentos, mas do setor que não tem capacidade de reação, até ao nível das associações”, disse.