Ainda estamos em maio, mas os Estados Unidos da América e os países que reagirem à pandemia como os EUA estão a reagir podem estar a aproximar-se do “mais sombrio inverno da história moderna”. Tal só não acontecerá se os líderes agirem de forma decisiva, para impedir um novo surto do novo coronavírus nos últimos meses de 2020.

A previstão foi feita por um imunologista norte-americano, Richard Bright, que foi recentemente removido do seu posto como chefe da Autoridade Biomédica de Investigação e Desenvolvimento, depois de ter alertado para falhas do governo federal no combate à pandemia de Covid-19. O especialista repetiu os avisos de alarme esta quinta-feira, perante o Comité de Energia da Câmara de Representantes, expressando preocupação:

Sem um planeamento claro das etapas que eu e outros especialistas delineamos, o inverno de 2020 será o mais sombrio da história moderna. A nossa janela de oportunidade está a fechar-se”, disse o especialista, que prevê um novo surto de Covid-19 já em outubro.

Durante a sua audição no Congresso dos EUA, o imunologista norte-americano reforçou as críticas à resposta à pandemia pela administração de Donald Trump, referindo que esta não foi capaz de implementar “um plano coordenado, centralizado e com práticas generalizadas” para tentar conter globalmente o contágio pelo novo coronavírus em todos os Estados norte-americanos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Ricard Bright alertou ainda que se os EUA não conseguirem “desenvolver uma resposta coordenada nacional, baseada na ciência”, há o risco de que a pandemia “piore muito e seja prolongada no tempo, causando doenças e mortes sem precedentes”, explicou o imunologista.

O alerta de Bright acontece depois de, na terça-feira, o principal conselheiro da Casa Branca para o combate à pandemia, Anthony Fauci, ter avisado o Senado dos EUA que um fim demasiado rápido do confinamento pode fazer regressar a crise sanitária a níveis alarmantes, “causando sofrimento e morte desnecessários”.

Durante a sua audição, o imunologista defendeu também que a previsão de que possa existir uma vacina disponível até meados do verão do próximo ano poderá ser otimista. O calendário previsto, apontou, é “agressivo” e acarreta um problema: “A minha preocupação é: se nos apressarmos em demasia, e equacionarmos retirar da equação passos críticos [para o desenvolvimento e aprovação de uma vacina realmente eficaz], podemos não ter uma garantia absoluta da segurança dessa vacina. Portanto, ainda deverá demorar algum tempo“, referiu, citado pela estação norte-americana CNN.

Trump reage: é só “um funcionário insatisfeito”, diz

Horas depois do aviso de Bright, o Presidente Donald Trump usou a sua conta pessoal da rede social Twitter para desvalorizar as recomendações de Bright, atribuindo-as a “um funcionário insatisfeito, não apreciado nem respeitado pelas pessoas com quem falei e que, com a sua atitude, não deveria sequer estar a trabalhar para o nosso governo”.

Donald Trump tem insistido na necessidade de reabrir rapidamente a economia dos EUA e tem pedido aos governadores estaduais para estabelecerem regras para o fim do confinamento, apesar dos receios de parte da população no regresso à normalidade.

No depoimento no Congresso, Bright alertou para os perigos futuros decorrentes da falta de cuidados no fim do confinamento.

É um facto inegável que haverá um ressurgimento (do novo coronavírus) neste outono, agravando muito os desafios da gripe sazonal e colocando uma enorme pressão no nosso sistema de saúde”, disse.

Bright, que tem um doutoramento em imunologia, traçou o caminho a seguir, numa altura em que os investigadores ainda procuram uma vacina eficaz para o novo coronavírus. O plano inclui uma estratégia nacional de testes, um maior nível de comunicação pública sobre medidas básicas de segurança, o aumento da produção de equipamentos de saúde essenciais e um sistema de distribuição eficaz desses equipamentos.

Os Estados Unidos da América são um dos países mais afetados pela pandemia de Covid-19 em termos absolutos, com cerca de 1,4 milhões de casos de contaminação e mais de 84.000 mortes.