No último sábado, cerca de 3.000 jovens juntaram-se na localidade espanhola de Tomelloso. Durante a noite, comemoraram a segunda fase do desconfinamento com bebidas, naquilo a que em Espanha se dá o nome de botellón. A região é conhecida como a Wuhan de Espanha. Segundo o El Español, esta foi a zona do país mais afetada pelo novo coronavírus e uma das mais fustigadas da Europa.
Ainda assim, os números devastadores das últimas semanas não impediu que milhares de convivas se juntassem na rua para beber com os amigos. O ajuntamento causou indignação entre os restantes moradores da cidade, que alegam a quebra da distância de segurança, a ausência de medidas de proteção individual (nas imagens não aparece praticamente ninguém com máscara) e o desrespeito pelos limites aos aglomerados de pessoas como ações que põem em risco toda a população.
Parece una fiesta de fin de exámenes del año pasado, pero son 3.000 irresponsables en un macrobotellón de este sábado en Tomelloso (Ciudad Real), todo esto en una pandemia con miles de fallecidos y cuando se empezaba a ver un poco la luz al final de este túnel… pic.twitter.com/T3VGXdg9nX
— Miguel Ángel Reinoso (@mianrey) May 31, 2020
Para além do perigo de contágio, o grupo ainda deixou a zona cheia de lixo. No dia seguinte, as imagens povoaram as redes sociais. A região conhecida como La Mancha, e que apresenta a configuração geográfica de um triângulo, tem 36.091 habitantes. Só em Tomelloso, o novo coronavírus fez 291 mortes desde o início da pandemia, ou seja, 0,8% da população não resistiu à Covid-19. A taxa de mortalidade da região autónoma de Castilla-La Mancha é a mais alta de Espanha — 143 por cada 100 mil habitantes.
Segundo um órgão da imprensa local, para evitar novos ajuntamentos, as autoridades locais proibiram a venda de bebidas alcoólicas entre as 22h e as 7h. As mesmas autoridades dão números bastantes diferentes do convívio do último sábado: falam em cerca de 500 pessoas — e não em 3.000.
No Twitter, não são apenas os locais a demonstrar indignação. Os comentários criticam a atitude irresponsável dos intervenientes, mas também a inação das autoridades, já que nada foi feito para impedir ou desmobilizar a concentração. “Parabéns ao vereador de Segurança Cidadã de Tomelloso pelo trabalho extraordinário para evitar o enorme botellón na cidade, durante esta fase”, escreve um utilizador de forma irónica.
https://twitter.com/Torronteras7/status/1267159216416010240?s=20
“Eu à espera para ir de Granada a Córdova ver os meus pais e estas 3.000 pessoas num botellón em Tomelloso”, desabafou outro utilizador desta rede social. Também o jornal espanhol ABC classificou as imagens como vergonhosas.
Questionado sobre o insólito, mas também sobre a festa em Córdova, onde pelo menos um membro da família real belga terá ficado infetado, durante a conferência de imprensa da última segunda-feira, Fernando Simón, epidemiologista ao serviço do Governo espanhol, revelou um ar de reprovação. “Temos feito um esforço muito grande para tentar controlar a evolução da pandemia. Estas situações preocupam-me”, respondeu.