O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, diz que num cenário mais otimista, em que os países desenvolvidos conseguem coordenar as suas respostas à pandemia da Covid-19, o mundo só regressará à normalidade daqui a dois ou três anos.
Numa entrevista conjunta a três jornais europeus (El País, Die Welt e La Tribune de Genève), Guterres defende ainda a atuação da Organização Mundial da Saúde (OMS) e não acredita que a organização tenha “tentado ajudar a China a esconder a realidade”. Admitiu que “em algum momento” terá de ser investigada a forma como o mundo, incluindo a OMS, respondeu à pandemia, Guterres sublinha que todos agiram “de boa fé”.
“Em algum momento teremos de investigar a origem da pandemia, como pode propagar-se tão rapidamente e como a OMS, os países e outras entidades responderam. É claro que terá de se fazer essa análise. Mas o que posso dizer é que conheço as pessoas da OMS e não estão controlados por nenhum país. Sempre agiram de boa fé para obter a melhor cooperação possível entre os Estados-membros”, disse Guterres.
“Podem ter sido cometidos erros, mas não creio que a OMS tenha tentado ajudar a China a esconder a realidade. Creio que a organização queria ter uma boa relação com a China no início da pandemia. Queriam assegurar-se de que a China cooperava”, acrescentou o secretário-geral da ONU.
António Guterres sublinhou a relevância de uma resposta coordenada entre todos os países do mundo para que a luta contra o coronavírus seja bem sucedida. Questionado sobre o mundo pós-pandemia, Guterres diz que é “demasiado cedo” para previsões, mas alerta para os diferentes cenários.
“Há um cenário otimista, em que os países desenvolvidos coordenam as suas respostas e conseguem conter o vírus para evitar uma segunda onda de contágios. Os países em desenvolvimento salvar-se-iam, pelo menos, da catástrofe. As coisas voltariam à normalidade em dois ou três anos”, diz Guterres.
“Mas também há um cenário pessimista, provocado pela falta de uma resposta coordenada, e que seria um desastre para o hemisfério sul e geraria uma importante segunda onda no norte, com consequências económicas terríveis e uma depressão global de cinco a sete anos“, acrescentou o secretário-geral da ONU.
Na entrevista, António Guterres defende ainda a importância de organizações internacionais como a própria ONU — “precisamos de uma liderança global, porque, senão, não podemos responder de forma efetiva aos desafios como os de uma pandemia” —, mas também como a União Europeia, que, considera, “deve evitar que se consolide um G2, ou seja, uma ordem global só com duas super potências, EUA e China“.