A agência Fitch Ratings cortou a notação do Banco Montepio em dois níveis, de B+ para B-, considerando que o banco entrou na crise causada pela pandemia “numa situação que o deixa com muito poucas opções estratégicas”. Além dos “baixos rácios de capital” – que só não são um problema maior porque os supervisores estão a dar maior tolerância nesta fase – “o banco tem uma capacidade limitada de geração orgânica de capital, tendo em conta o nível elevado de ativos problemáticos no seu balanço”. E, por outro lado, tem uma “rentabilidade operacional baixa”.
Em nota divulgada esta terça-feira, a Fitch “considera que a base de capital do banco é altamente vulnerável a choques, mesmo que moderados, na qualidade dos ativos, devido aos já elevados níveis de ativos problemáticos”, tanto em comparação com os outros bancos portugueses como com outros bancos comparáveis noutros países. “O banco entrou nesta crise numa situação que o deixa com muito poucas opções estratégicas”, diz a agência, comentando que “o banco terá de dar prioridade a medidas de restabelecimento do capital e uma profunda reestruturação da sua rede, para melhorar a eficiência”.
Banco Montepio fecha 31 balcões para se ajustar a “novo ciclo”
O corte de rating foi anunciado esta terça-feira, 30 de junho, e o relatório está disponível no site da agência de notação financeira, nesta ligação. A descida de dois níveis “reflete a deterioração acentuada da capitalização no primeiro trimestre, bem como das perspetivas de rentabilidade operacional”, diz a Fitch, acrescentando a isto “a expectativa de que o perfil financeiro vai deteriorar-se ainda mais nos próximos trimestres”.
O novo rating, de B-, é o sexto nível abaixo da fasquia entre “investimento de qualidade” e “investimento especulativo” (vulgo lixo). Os ratings da categoria B só são aconselhados pela agência a investidores que estejam disponíveis para correr riscos em investimentos “altamente especulativos” – abaixo disso, na fasquia dos C, já se começa a entrar em situação de “risco significativo”, “investimento extremamente especulativo” ou “incumprimento iminente”.
A Fitch acredita que, no contexto atual, apesar da fragilidade dos rácios de capital, a tolerância dos supervisores fazem com que não seja previsível “intervenção” no banco por parte dos reguladores. Por outro lado, “o Banco Montepio está atualmente a aplicar ativos de melhoria de capital, o que acreditamos poder ajudar a estabilizar ou melhor os rácios de solvência até ao final do ano”.
O banco anunciou recentemente o fecho de 31 balcões mas a Fitch acredita que “mais esforços de reestruturação poderão estar na calha, para aumentar as poupanças a médio prazo”.
Problemas de governance na acionista, a Mutualista Montepio
A agência Fitch acrescenta, também, que as “dinâmicas de governance empresarial” na acionista do Banco Montepio, a Associação Mutualista Montepio Geral, geram “riscos significativos” para os credores do banco, isto é, os investidores em dívida a quem se dirige esta nota de risco.
O Montepio e a Associação Mutualista Montepio Geral, o topo do grupo, vão esta terça-feira votar, em assembleia-geral, entre outros pontos, as contas de 2019 e a proposta de aplicação de resultados. A Mutualista vai votar o relatório do Conselho de Administração, as contas individuais e o parecer do conselho fiscal relativo a 2019, bem como as propostas de aplicação de resultados.
Adicionalmente, vão ser apreciadas as propostas de aplicação de resultados, o relatório da atividade do conselho geral e a proposta de modificações do regulamento de benefícios. O topo do grupo Montepio vai, ainda, eleger uma comissão de cinco membros para dar parecer e preparar a versão final da proposta de modificações do regulamento de benefícios a apresentar à assembleia-geral.
A Associação Mutualista Montepio Geral teve prejuízos de 408,8 milhões de euros em 2019, sobretudo devido ao reforço das imparidades para o banco Montepio, que comparam com lucros de 1,6 milhões de euros de 2018.
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