A Vogue Portugal está a ser criticada por uma das quatro capas da mais recente edição de julho/agosto e o caso chegou mesmo à imprensa internacional. Em causa está uma imagem com o título “The Madness Issue” [A edição da Loucura] em que a modelo Simona Kirchnerova está agachada numa banheira, aparentemente num manicómio, rodeada por duas enfermeiras. A revista está a ser acusada de “estigmatizar” e tratar de forma insensível a saúde mental, precisamente por usar a palavra “madness” (loucura), fazendo referência a práticas antigas, como as lobotomias e os choques elétricos, que eram aplicadas a pessoas com doença mental.
A modelo portuguesa Sara Sampaio tem sido das vozes mais críticas. “Este tipo de imagens não deveria representar uma discussão sobre saúde mental. Acho que é de muito mau gosto”, disse, no Instagram.
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A capa está também a gerar polémica lá fora, com o jornal britânico The Guardian a dedicar-lhe um artigo intitulado “Vogue Portugal debaixo de fogo por capa sobre a saúde mental de ‘muito mau gosto’”, citando Sara Sampaio. Nas redes sociais, várias pessoas estão a apelidar a capa como “ofensiva”.
Uma das críticas veio da organização britânica Time to Change, dedicada a “mudar a forma como olhamos para a saúde mental”.
“Evocar o estigma desta forma pode enviar uma mensagem poderosa para o mundo — de que estigmatizar os problemas de saúde mental nunca é aceitável”, lê-se numa publicação no Twitter.
Jo Loughran, diretora do programa, disse ao The Independent que a capa é “dececionante” e “desatualizada”. “Hoje, numa altura em que há indiscutivelmente mais consciência dos problemas de saúde mental do que nunca, é dececionante ver esta representação desatualizada de um hospital psiquiátrico — especialmente na capa de uma revista de alto perfil”. E considera que “embora seja ótimo ver que a Vogue Portugal está tentar chamar a atenção sobre a saúde mental nesta edição, fazê-lo através desta capa não é aceitável. ”
Vogue Portugal defende-se: a ideia foi “abrir o tópico da saúde mental”
No Instagram, a Vogue Portugal veio defender a capa, que, diz, em conjunto com as restantes três, tem como objetivo “abordar diferentes dimensões do comportamento humano, numa altura em que a pandemia global colocou as pessoas em confinamento”. A revista garante que a idea foi “abrir o tópico da saúde mental” e trazer o tema para a discussão.
“Uma das capas mostra um cenário de hospital onde a modelo está a ser cuidada pela sua mãe e avó, na vida real, fotografadas pelo fotógrafo Branislav Simoncik. A nossa intenção é abrir o tópico da saúde mental e trazer para a mesa de discussão as instituições, a ciência e as pessoas que estão envolvidas com a saúde mental nos tempos que correm”, justifica.
A Vogue Portugal refere ainda que a capa faz referência a um “contexto histórico da saúde mental” e pretende “refletir histórias autênticas e da vida real, inspirado por uma pesquisa profunda de centenas de imagens de reportagem retiradas dos mais relevantes e famosos documentários que captaram este género de instituições”. No interior da edição, há “entrevistas e contributos de psiquiatras, sociólogos, psicólogos e outros especialistas na área”. “A saúde mental é apenas um dos tópicos abordados nesta edição e nunca é confundido com o tema “loucura”, é antes abordado como um lado do comportamento humano.”
A justificação não convenceu Sara Sampaio. “Pensava que não podia ficar mais desapontada (…). É por respostas e capas destas que mt [muita] gente ainda tem vergonha de pedir ajuda psicológica”. A apresentadora Rita Ferro Rodrigues apelidou, também no Instagram, a capa como “lamentável”, defendendo que “estigmatiza a saúde mental”.
“Remete para os tempos horríficos das lobotomias e dos choques elétricos. A doença mental não se romantiza, nem se glamoriza.” Para a apresentadora, a justificação é “ofensiva”.