O petróleo é um recurso finito e não renovável, pelo menos em tempo útil. Mas as notícias da sua morte têm sido — recorrendo à célebre citação de Mark Twain — manifestamente exageradas. Isto porque os diferentes modelos e teorias gizados ao longo do século XX sobre a duração estimada das reservas de petróleo do planeta não previram, entre outros acontecimentos, as crises petrolíferas dos anos 70, os cortes à produção decididos pela OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), as quebras no consumo decorrentes de crises económicas e sanitárias ou pela crescente utilização de energias alternativas e de equipamentos mais eficientes, que consomem menos, nem a evolução tecnológica que hoje permite extrair petróleo a partir de xistos e areias betuminosas e a profundidades que jamais se pensara possível.

E se deixássemos de comer carne de vaca?

Nada disso altera, porém, a frase de abertura deste texto: o petróleo é finito. Mais do que uma possibilidade, o seu fim é uma certeza. Não acontecerá amanhã: se acontecesse, seria uma grande notícia para o ambiente, para o fim dos conflitos amrados que o chamado ouro negro tem provocado e justificado ao longo dos últimos séculos, mas uma péssima notícia para a sociedade em geral, pelo menos no curto prazo. Isto porque apesar do crescente recurso a energias alternativas e renováveis, ainda não estamos prontos — longe disso — para viver sem petróleo.

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Se a última gota fosse extraída amanhã, sem aviso prévio, o mundo entraria num caos absoluto, tal a dependência dos transportes, pessoais e coletivos e das redes de distribuição de produtos, alimentares e não só, dos combustíveis fabricados a partir petróleo refinado. Haveria falhas imediatas no stock de produtos essenciais. Os serviços mais básicos ficariam em risco de colapso iminente e nem o Estado ou as forças de segurança poderiam intervir porque os seus serviços também não estão preparados para viver sem petróleo — a título de exemplo, só uma pequena parte da frota da PSP é composta por veículos elétricos.

A somar a tudo isto há ainda a questão do plástico, fabricado maioritariamente a partir do petróleo —é, aliás, o destino de 8% da produção mundial de petróleo e estima-se que essa percentagem duplique nos próximos anos. Pese os gravíssimos problemas ambientais causados pelos seus resíduos, não só ele não é reciclado e reutilizado o suficiente como as alternativas renováveis e biodegradáveis, os chamados biopolímeros, ainda estão longe de dar resposta às necessidades de áreas como a medicina, a indústria alimentar ou até a construção. Sem petróleo, não há plástico e sem plástico não há medicamentos, seringas, sacos de soro ou os tão preciosos ventiladores.

E se todos os veículos fossem elétricos?

Há especialistas que acreditam que o petróleo não chegará a desaparecer mas que perderá protagonismo nas nossas vidas. Num mundo ideal, a transição para as energias renováveis e a opção por alternativas ao plástico tradicional tornarão o petróleo desnecessário. E esse será o melhor cenário possível: deixarmos de precisar dele antes que ele nos falte.

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