A indignação espalhou-se como gasolina por causa do caso, a cidade de Ferguson (estado do Missouri) tornou-se epicentro dos protestos contra a violência policial e o racismo, mas volvidos seis anos e após nova avaliação a decisão vai no mesmo sentido: Darren Wilson, o polícia branco que há seis anos matou a tiro Michael Brown, um negro de 18 anos, não vai mesmo ser acusado de quaisquer crimes pela justiça norte-americana.
A decisão e o seu anúncio ficaram a cargo do novo procurador de justiça do condado de St. Louis, no estado do Missouri.
Wesley Bell, um procurador de Justiça negro que assumiu funções em 2019, volta assim a confirmar a validade de uma decisão judicial de 2015, após consulta de um grande júri e dos investigadores que se debruçaram sobre o caso logo na sequência da morte a tiro de Michael Brown, em agosto de 2014. Para a reconfirmação da decisão contribuíram cinco meses de nova avaliação do caso, com revisão de declarações das testemunhas, relatórios forenses e outras provas recolhidas à época.
Explicando a decisão agora tomada, Wesley Bell afirmou em conferência de imprensa e citado pelo The New York Times: “A questão aqui é: podemos provar sem margem razoável de dúvida que ocorreu um crime? A resposta a isso é: não”.
Como lembra o jornal norte-americano, Michael Brown tinha 18 anos e tinha acabado de terminar o ensino secundário quando teve uma altercação com Darren Wilson, numa rua tranquila e residencial dos subúrbios de St Louis. Algumas testemunhas garantiam que o jovem tinha as mãos no ar quando foi alvejado, o que causou indignação na opinião pública e motivou protestos, mas os investigadores locais e federais que voltaram a olhar para o caso dizem que os indícios sugerem o oposto.
Embora este caso represente um dos momentos mais significativos da história de St. Louis, a questão no que respeita a este polícia era realmente simples: podemos provar sem margem razoável de dúvida que quando Darren Wilson alvejou Michael Brown cometeu homicídio ou crime negligente, de acordo com as leis do Missouri? Não podemos provar que o fez”, apontou o novo Procurador, referindo que esta “é uma das coisas mais difíceis que já tive de fazer”.
Esta nova decisão, feita após o que a Associated Press descreve como uma revisão do caso feita sem grande alarido (“quiet investigation”) deverá “pôr um fim à saga legal de um caso que iniciou o crescimento global do movimento Black Lives Matter”, escreve o jornal The New York Times. Porém, também “pode reabrir velhas feridas num momento em que há uma discussão nacional intensa sobre injustiça racial e tratamento policial de minorias”, segundo a agência de notícias Associated Press.
Os protestos que aconteceram na sequência da morte de Michael Brown em Ferguson deram origem ao movimento Black Lives Matter, que, lembra o The New York Times, já “provocou grandes alterações nas forças de policiamento da América e que forçou uma discussão renovada sobre o racismo”. Por exemplo, uma investigação anterior liderada pelo Departamento de Justiça dos EUA concluiu que as forças de segurança em Ferguson e nas comunidades circundantes regularmente violavam os direitos dos cidadãos negros no exercício das suas funções.
Este ano, os contornos da morte do cidadão negro e norte-americano George Floyd por um polícia branco, Derek Chauvin — que o asfixiou com o joelho durante quase oito minutos quando este já estava algemado, a suplicar pela vida e a dizer que não conseguia respirar —, motivaram um desfecho distinto. Duas autópsias concluíram que a morte de George Floyd fora um homicídio e Derek Chavuin foi acusado (em tempo recorde, apenas quatro dias depois do caso) dos crimes de homicídio em segundo e terceiro grau e homicídio negligente em segundo grau.
Minneapolis está a arder (e o Presidente está a deitar mais gasolina na fogueira)