Os idosos e a capacidade de resposta aos doentes continuam a estar no centro das preocupações da Direção-Geral da Saúde e do Ministério da Saúde. A situação mais preocupante, neste momento, é o surto no lar de Torres Vedras, mas a diminuição do número de novos casos ao longo das semanas permite pensar em abrir os centros de dia.
Sobre os riscos de transmissão com a abertura destes espaços, o subdiretor-geral da Saúde afirma que “é tão importante o isolamento e a garantia de não transmissão de doença para pessoas que frequentam centros de dia como, possivelmente, também é importante restaurar os momentos de afetos para essas mesmas pessoas”.
Risco zero não existe, diz Rui Portugal, o que é preciso é encontrar um equilíbrio entre o risco de contágio com o novo coronavírus e a manutenção da saúde mental desta comunidade.
72 casos positivos no lar de Torres Vedras
Portugal tem, neste momento, 178 surtos ativos. A maioria resultaram de encontros familiares ou de ajuntamentos de lazer propícios nesta época do ano, mas não inspiram preocupação, afirma Rui Portugal. O surto que inspira mais cuidados é o do lar de Torres Vedras, cujos utentes e profissionais começaram a apresentar sintomas na segunda-feira, mas cuja transmissão já se terá iniciado antes de 27 de julho.
Número de casos positivos em lar de Torres Vedras aumenta para 72
Depois dos primeiros casos positivos, todos os utentes e profissionais do Lar de Nossa Senhora da Luz, em Paradas, no concelho de Torres Vedras, foram testados e voltarão a ser nos dias 12 e 19 de agosto. Dos 80 utentes, 48 testaram positivo e 17 foram internados por causa da infeção com SARS-CoV-2. Entre os 78 profissionais do lar, 24 testaram positivo e estão todos a cumprir o período de quarentena.
Lares são da responsabilidade das autoridades locais e regionais
Apesar de estar a acompanhar a situação com preocupação, o subdiretor-geral da Saúde diz que quem deve prestar apoio aos lares e fazer a vigilância em termos de saúde são as autoridades regionais de saúde (ARS) e as autoridades locais. Neste caso, falava concretamente do lar de Reguengos, no Alentejo.
Rui Portugal diz que pode haver revisão dos procedimentos propostos pela DGS e agradece o inquérito realizado pela Ordem dos Médicos — “é bem vindo e deve ser analisado com cuidado” —, mas lembra que as intervenções da DGS estão bem explícitas em termos de governança e que os lares não são da sua responsabilidade direta.
Lar de Reguengos não cumpria as orientações da DGS. Caso enviado para o Ministério Público
Para Purificação Gandra, coordenadora Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI), os lares fazem o melhor que podem e sabem e lembra que a situação que temos nesta altura não é comparável com a do pico da pandemia, em abril. Atualmente, existem 76 estruturas residenciais para idosos com 500 pessoas infetadas com o SARS-CoV-2, quando em abril eram 365 estruturas e 2.500 doentes.
Purificação Gandra reconhece ainda as dificuldades dos lares e as limitações quando comparados com a RNCCI. Com um total de 9.300 pessoas internadas e 15.000 profissionais de saúde, a rede atingiu um máximo de 110 infetados com SARS-CoV-2 na segunda quinzena de abril. Destes, 16 foram internados. Foram realizados 14.400 testes aos profissionais de saúde, dos quais 167 estavam infetados com o novo coronavírus. Atualmente, há 12 profissionais infetados a fazer quarentena em casa e apenas um utente infetado nas 383 unidades da rede.
Desde o início da pandemia, morreram 15 pessoas na RNCCI devido à Covid-19, mas não é registado nenhum óbito deste abril, lembra o secretário de Estado da Saúde. António Lacerda Sales destaca ainda a importância da rede no acolhimento de doentes que saíram dos hospitais.
“A libertação de camas hospitalares foi uma das prioridades a que tivémos de responder, sendo a rede o local mais adequado para quem necessita ainda de cuidados de saúde”, diz a coordenadora. Foram admitidos, desde março, 7.600 doentes dos hospitais.
Ministério da Saúde reforça SNS com 4.300 profissionais de saúde
António Lacerda Sales anuncia o reforço nível dos recursos humanos no Serviço Nacional de Saúde com a contratação de 4.300 profissionais de saúde: dos quais mais de 1.800 assistentes operacionais, 1.300 enfermeiros, cerca de 170 médicos, entre outros. Neste momento, com 30.085 médicos, Portugal tem mais 4.756 do que em dezembro de 2015.
O secretário de Estado da Saúde acrescenta que foram abertos 435 postos de trabalho na especialidade de Medicina Geral e Familiar. “O maior número de vagas para médicos de família dos últimos tempos”, afirma o secretário de Estado da Saúde. E foram abertas 2.400 vagas para a formação no internato geral.
Foi também aberto “o maior número de sempre” de vagas para zonas do país que mais dela necessitam (185): Algarve, Beiras e Trás-os-Montes. Os profissionais de saúde que se candidatarem a estas vagas terão um conjunto de incentivos, como um acréscimo de 40% da remuneração base, mais dois dias de férias, uma carreira mais atrativa com possibilidade de investigação clínica e uma maior mobilidade dos cônjuges.
Lacerda Sales diz que o Ministério da Saúde está empenhado em criar carreiras para os profissionais de saúde “cada vez mais atrativas e reter cada vez mais profissionais no Serviço Nacional de Saúde”.