A juíza do Supremo Tribunal norte americano que não teve problemas em lançar críticas a Trump na campanha de 2016 (ainda que mais tarde reconhecesse ter sido um erro fazê-lo em público), a mais velha da ala liberal, Ruth Bader Ginsburg, morreu esta sexta-feira aos 87 anos.

Os vários sustos que o cancro (enfrentou cinco tipos da doença) lhe pregou nos últimos anos não a fizeram nunca baixar os braços e ainda em julho Ruth dava conta de que estava a vencer mais uma batalha, desta vez a que começou com uma biópsia que lhe detetara células cancerígenas no fígado: “Disse sempre que ficaria no tribunal enquanto pudesse fazer o meu trabalho a todo o gás”. E ali estava.

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Em 2018, os médicos retiraram-lhe dois nódulos malignos do pulmão esquerdo. No ano de 2009, a juíza teve um primeiro diagnóstico de cancro pancreático e foi submetida a uma cirurgia. Dez anos antes, em 1999, foi tratada a um cancro do cólon sem nunca tirar um dia de folga.

Foram histórias como estas, assim como o seu empenho em todos os dias praticar exercício físico de forma a manter-se apta para o cargo, que nos últimos anos lhe garantiram uma atenção mediática sem precedentes. Até a sua figura frágil — de cabelo apanhado num carrapito, toga e óculos de aros pretos, bem como alguns pormenores na forma como se vestia, como as luvas de renda — saltou para as montras das lojas de máscaras no Halloween de 2018, competindo em popularidade com os super heróis ou qualquer outro ícone pop.

Judia, conhecida por ser defensora dos direitos das mulheres (dizia-se uma “feminista orgulhosa”), ficou também conhecida como a notorious RBG — uma brincadeira em alusão ao rapper Notorious B.I.G.. E foi, por exemplo, o primeiro membro do Supremo a manifestar-se a favor da legalização do aborto.

Por diversos momentos, porém, alguns magistrados e políticos, incluindo Donald Trump, usaram palavras como “bruxa”, “monstro” e “antiamericana” para se referirem a Ginsburg.

Nomeada em 1993 por Bill Clinton, Ruth Ginsburg foi hoje lembrada pelo presidente do Supremo americano, John G. Roberts Jr., como uma jurista “de dimensão histórica”: “A nossa Nação perdeu uma colega querida. Lamentamos a sua morte, mas com a confiança de que as próximas gerações se lembrarão da Ruth Ginsburg que conhecemos”.

Com a sua morte, Donald Trump fica com a possibilidade de nomear o seu sucessor. Segundo o New York Times, no Senado os Republicanos tentarão que o lugar seja preenchido em breve, exatamente para acautelar que ainda aconteça nos últimos dias do atual mandato — uma decisão que a acontecer certamente será muito questionada nos próximos tempos.

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O New York Times lembra ainda que, depois da nomeação dos juízes Neil M. Gorsuch e Brett M. Kavanaugh por Donald Trump, o tribunal estava já desequilibrado, com mais membros na ala conservadora. Caso Trump tenha a hipótese de mais uma nomeação o fosso entre as duas alas poderá crescer, com os conservadores a ficarem com seis dos nove lugares da mais alta instância da Justiça norte americana.

Ginsburg nasceu em Brooklyn em 1933, tendo estudado Direito em Harvard e concluindo a sua formação na área em Columbia.