As percentagens mudam ligeiramente mas a ideia é a mesma: a maioria dos portugueses não quer uma crise política a juntar-se a uma crise pandémica e entende que António Costa deve negociar o Orçamento do Estado para 2021 de forma a que ele seja aprovado. A preferência dos inquiridos aponta para uma negociação à esquerda (de preferência com PCP e BE no mesmo barco), mas há também muitos que querem uma negociação do Orçamento com o PSD. Em todo o caso, o cenário de crise política é o que todos querem evitar a todo o custo.

São estas as principais conclusões de duas sondagens feitas este mês: a da Aximage para a TSF/JN e DN, realizada entre os dias 12 e 15 de setembro, e a da Intercampus para o Jornal de Negócios, cujos dados foram recolhidos entre 4 e 9 de setembro. Assim, de acordo com a sondagem da Aximage, 65% dos portugueses defende que “não é tempo de abrir uma crise política” e, paralelamente, de acordo com a sondagem da Intercampus, 60% dos inquiridos acha que António Costa não tem razão para se demitir se as negociações do Orçamento do Estado falharem (à esquerda ou à direita). De resto, 83% dos inquiridos pela Intercampus entendem que a legislatura vai durar até ao fim, até 2023, e só 9% antecipam que acabe antes do tempo.

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Apenas 14% dos inquiridos pela Aximage alinham na dramatização de António Costa quando diz que, caso os partidos da esquerda não viabilizarem o OE2021, o Governo não negociará com os partidos de direita, abrindo uma crise política em cima de uma crise sanitária.

Ou seja, o mandato é para Costa negociar. Mas com quem? É aqui que os portugueses inquiridos têm opiniões mais divididas. A sondagem da Aximage para a TSF/JN/DN mostra que 26,1% defendem uma negociação com a chamada “geringonça” mas 24,3% escolhem o PSD como interlocutor do Governo. Percentagens muitos aproximadas.

É aqui que os cidadãos inquiridos parecem contrariar mais António Costa. É que a negociação com o PSD aparece nas duas sondagens não só como uma hipótese viável em primeira instância, como também com um plano B caso as negociações à esquerda não cheguem a bom porto. O que os portugueses inquiridos não querem é um cenário de crise política. Na sondagem da Aximage, a hipótese de negociação com o PSD colhe o apoio de quase metade dos inquiridos do PSD (48%) e de quase um terço dos inquiridos do PS (27%), mas há também 27% dos inquiridos que afirmam não ter opinião sobre isso.

É certo que o eleitorado socialista privilegia a negociação à esquerda (59% dos inquiridos no barómetro da Aximage), sendo que 43% diz que quer BE e PCP no mesmo barco dessas negociações. Também junto dos eleitores do PCP e do Bloco é encarada com mais agrado a possibilidade de um compromisso conjunto, envolvendo todas as partes da chamada geringonça, em vez de negociações isoladas. No PCP, 78% dos inquiridos pela Aximage mostram-se a favor de um acordo a três, e no BE, 58% dos inquiridos mostra preferência por uma negociação com todos os parceiros da esquerda, enquanto 22% defende uma negociação de um para um.

A sondagem da Intercampus para o Jornal de Negócios mostra uma realidade idêntica: 56% dos inquiridos defende que Costa se deve virar para os antigos parceiros da geringonça para negociar o Orçamento do Estado para 2021, enquanto 25% acha “mal” a preferência pela esquerda. Dos que querem acordos à esquerda, 28% acha que o acordo deve ser conjunto (PS, PCP e BE), enquanto 18% prefere que seja apenas PS-BE. Mas há no entanto 33,2% dos inquiridos que preferiam que o acordo para o OE2021 fosse feito com o PSD e Rui Rio. 

Quando questionados sobre o que deve António Costa fazer se as negociações à esquerda falharem, os inquiridos pelo barómetro da Intercampus são claros na preferência: 56% diz que nessas circunstâncias o PS deve olhar para o PSD, e 28% dizem que não o deve fazer.