O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa diz que o agravamento da situação da pandemia “preocupa todos”, mas que as medidas tomadas pelo Governo são “claramente excessivas” e “incapazes de dar resposta ao problema de fundo”.

Em entrevista ao programa Sob Escuta da Rádio Observador, Jerónimo de Sousa acrescenta que “o carácter excessivo das medidas em termos de uma conceção mais ou menos limitadora-repressiva não responde ao que é fundamental” e diz que se devia estar a discutir problemas como “se há mais camas nos hospitais”. O líder comunista mostra-se bastante crítico do recolher obrigatório: “Essa medida serve para quê?

Sobre o Orçamento do Estado, Jerónimo de Sousa, diz que não quis “desistir da luta antes de a travar” e que por isso deu a oportunidade, com a abstenção na generalidade, ao Governo emendar a mão na especialidade. O secretário-geral do PCP diz que a pandemia é um problema grave, mas “a pandemia tem as costas largas”, já que o país já teria vários dos problemas. Jerónimo avisa que a abstenção na votação final global não está garantida: “Se a resposta fosse nula em relação às propostas [na especialidade] não vejo outra solução que reclamar outro orçamento que não este”. Neste momento, avisa Jerónimo ainda há “muita ausência de resposta aos problemas do país“. E diz: “Não dizemos não porque não, ou sim porque sim, mas votaremos em virtude daquilo que for a evolução das nossas propostas”.

Sobre se admite chumbar o Orçamento, Jerónimo de Sousa é claro: “Nenhuma hipótese está excluída“. Sobre um eventual cenário de chumbo, o líder do PCP diz que “há sempre opção: os duodécimos são uma solução de recurso, mas também pode ser apresentado um novo orçamento”. O que o PCP não pode, explica, “é vender gato por lebre aos portugueses”. Jerónimo não entra em “precipitações”, mas pede para ser respeitada a autonomia do PCP.

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Quanto ao facto de o Bloco de Esquerda votar contra o Orçamento, o PCP diz que “não faz o juízo de valor” que fez o Governo de “desertar da esquerda” e diz que há que respeitar a opção dos bloquistas. Jerónimo de Sousa não se preocupa de ter ficado sozinho: “Nós nunca ficamos à espera do que os outros dizem ou vão ou não fazer. Às vezes dizem que o Governo se dá melhor com o PCP. Não, o que o Governo tem de reconhecer é a frontalidade e a seriedade com que o PCP apresenta as propostas. E isso exige respeito por parte do Governo. Não temos uma posição de catavento”. Sobre se se referia ao BE, o líder comunista diz que “o Bloco não precisa de promoção”.

O líder do PCP não teme que o facto de dar a mão ao Governo no Orçamento seja prejudicial nas eleições autárquicas que se avizinham. Jerónimo Sousa admite que há quebras eleitorais, mas um partido com 100 anos não se deixa afetar por “um recuo”. Lembrou que, durante o Estado Novo, por várias vezes a polícia política anunciou: “Liquidámos o PCP”. E diz que, enquanto houve uma raiz de ligação entre o PCP e os trabalhadores, o partido irá sobreviver e terá força.

Sobre o Congresso do PCP, que se realiza nos dias 26,27 e 28 de novembro, Jerónimo de Sousa diz que não pensa desmarcar a reunião do órgão máximo do partido, pois o partido “garante que haverá condições de segurança”. O secretário-geral do PCP diz que seria uma “proposta inaceitável” o Governo exigir o adiamento do Congresso do PCP, já que esta “não é uma atividade qualquer, são direitos políticos”. “Não se arredem os comandos constitucionais. Em primeiro lugar, é preciso cumprir a constituição”, diz o secretário-geral do PCP. Jerónimo de Sousa diz que “só se houvesse uma desgraça na direção do partido” é que seria ponderada a hipótese de adiar o Congresso”, o que acredita que não acontecerá. O líder comunista lembra que na Festa do Avante! foi garantida toda a segurança, embora dias antes de lembre de ver “sete televisões a malhar na Festa do Avante”.

Jerónimo de Sousa diz ainda que  “o Chega e a IL são dois sucedâneos do PSD e do CDS”, já que, como “acontece um pouco por toda a Europa, em que os partidos ditos tradicionais têm sofrido uma erosão e de onde emerge particularmente as forças de extrema-direita”. Neste processo de “rearrumação de forças”, diz Jerónimo, o “Chega volta à barriga da mãe”. “Lá o deputado do Chega diz: isto é um vergonha!. E depois dizem, o homem fala bem, porque aquilo é tudo uma vergonha. Mas ele diz isto para esconder a sua agenda. Vamos ver a evolução. Nos Açores as coisas hão-de clarificar-se”, diz o secretário-geral do PCP.

Sobre a liderança do PCP que sairá do Congresso, secretário-geral do PCP diz que houve “um processo de auscultação muito largo em relação a todos os membros do Comité Central que opinaram sobre a questão do secretário-geral” e acrescenta que “não vai ser um problema a questão do secretário-geral no Congresso”. Jerónimo sugere que vai ficar, mas diz que a decisão é do Comité Central no Congresso e afirma: “O partido não está prisioneiro de uma solução única”.

Jerónimo de Sousa diz que a escolha de João Ferreira para várias batalhas eleitorais, incluindo as Presidenciais, “só valoriza” o “camarada João Ferreira”. Diz que o mesmo aconteceu com ele que participou em diversas batalhas eleitorais. “O que é importante é que um homem com os valores de abril vai dar uma contribuição inestimável de valorização das próprias presidenciais”, acrescenta.

Sobre uma escolha entre Marcelo e André Ventura na segunda volta, o PCP teve sempre uma posição fundamental que é: “O que melhor serve a democracia“.