O coronel Taciano Correia que dirigia a Investigação Criminal da GNR, à data do assalto a Tancos, recusou esta terça-feira no Tribunal de Santarém ter aderido a um “pacto de silêncio” ou a um acordo criminoso com o então diretor da Polícia Judiciária Militar, Luís Vieira, para a recuperação das armas de Tancos, como acusa o Ministério Público. “É uma mentira rebuscada”, respondeu ao coletivo de juízes. “Como é que eu vou fazer um pacto com uma pessoa que eu não conheço ou com 15 ou 16?”, interrogou.

O oficial da GNR baliza a sua intervenção no processo em duas chamadas telefónicas que, embora não saiba precisar, terão ocorrido antes de agosto de 2017, o ano do furto. Não que tenha “uma memória prodigiosa”, mas porque naquele mês de agosto era a primeira vez que tinha tantos dias de férias na sua carreira.

As duas chamadas foram feitas para o seu telefone fixo por Luís Vieira, o então diretor da PJM que ele até desconhecia e com quem nunca tinha estado. No primeiro contacto o coronel Vieira pediu colaboração da GNR de Loulé. “Penso que referiu o nome do sargento ajudante Liam Santos”, recorda num tom de voz calmo. Como não tinha competência para autorizar, reencaminhou o pedido para o Luís Sequeira, responsável pela Investigação Criminal de Faro que também já prestou declarações e tribunal. Taciano Correia ficou convencido que podia ser uma vigilância.

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O juiz quis saber se tinha elaborado algum documento com esse pedido e se tinha perguntado qual o processo e qual os seus guardas iriam colaborar. “Eu era diretor de investigação criminal e estava a receber uma chamada do diretor da PJM, não lhe ia pedir o NUIPC. Não faz sentido”, respondeu o arguido.

Já numa segunda chamada telefónica, Luís Vieira volta a pedir-lhe colaboração, mas desta vez diz que os militares estão com dificuldades em sair do Algarve. “No final ele muito telegráfico diz: senhor coronel isto tem a ver com o processo de Tancos”, lembrou. O que o levou depois a reportar aos seus superiores.

O militar não conseguiu explicar como é que os restantes militares que já prestaram depoimento no processo — como Bruno Ataíde e José Gonçalves (que negociaram com João Paulino a entrega de armas) — localizam esta colaboração em finais de agosto e durante setembro de 2020.

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Antes de entrar de férias, prosseguiu Amândio Marques, passou “o serviço” ao coronel Amândio Marques — que começou a ser ouvido segunda-feira e terminou esta terça-feira. Marques, por seu turno, diz que nunca soube que os guardas estavam a colaborar na investigação ao assalto a Tancos, mas sim a um caso de tráfico de armas. Só a 23 de outubro, depois de ser chamado a uma reunião no Departamento Central de Investigação e Ação penal no dia do achamento das armas, soube pelos seus homens que o processo que estavam a investigar era um de tráfico de armas “dos ciganos”, e que por acaso estavam no local quando lhes pediram para ir à Chamusca na sequência de uma chamada anónima.

“Não sou mais verdadeiro que os outros”, afirma Taciano Correia que mostrou confiar nos seus militares. No entanto, na sua cabeça, quando passou o serviço a Marques desconhece se falou sobre Tacos. “Se eu tinha dito uma semana antes ao meu general [Pires da Silva] de Tancos, porque não falei ao Marques? Mas ele diz que não. Eu não tenho a certeza. Eu não me lembro, e portanto não vou afirmar que disse”, respondeu.