Um relatório sobre crime financeiro indicou esta terça-feira que a taxa de fraude financeira disparou 60,5% desde março, quando começaram os períodos de confinamento devido à pandemia da Covid-19.

De acordo com o documento, agora divulgado pela empresa tecnológica portuguesa Feedzai, o aumento repentino das compras e transações ‘online’ foi acompanhado por uma grande subida não só das taxas de fraude, como também do valor monetário das fraudes, com um aumento de 5,5%

“A Covid criou uma grande disrupção nos setores da banca, pagamentos e comércio eletrónico, com múltiplos impactos por todo o mundo”, disse o diretor sénior de Global Data Science da Feedzai, Jaime Ferreira.

Segundo o responsável, a tecnológica analisou mais de quatro mil milhões de transações em todas as grandes indústrias, a nível mundial, para perceber as tendências de fraude desde o início da pandemia.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Nos serviços financeiros, um dos maiores indicadores de fraude foi a clonagem de cartões de crédito e débito, que subiu 34%.

O relatório apontou também um aumento na utilização de ‘bots’ para gerar encomendas em alta velocidade, que fazem “adicionar ao carrinho” cinco vezes mais rapidamente que consumidores humanos, e da utilização de códigos suspeitos de comerciante de alto risco (MCC, na sigla inglesa).

No comércio eletrónico, os maiores indicadores de fraude foram, além da clonagem de cartões, o ataque ATO (“account takeover”), em que o atacante ganha controlo sobre a conta legítima de um consumidor, e esquemas com endereços de email suspeitos.

“A Covid-19 deu início a confinamentos e diretrizes de distanciamento social anteriormente impensáveis e, em última análise, acelerou a transformação digital mais radical que se podia ter imaginado”, salientou o relatório.

“Tudo aconteceu em questão de semanas”, sublinhou.

Na banca, 30% dos consumidores abriram novas contas durante a pandemia e 45% dos consumidores em todas as faixas etárias indicaram usar canais ‘online’ e móveis para acesso a serviços bancários em quase todas as ocasiões.

De acordo com a análise da Feedzai, 75% dos clientes planeiam manter os hábitos de banca digital entretanto criados.

Outro indicador relevante foi o declínio de 22% do número de transações em que o cartão estava fisicamente presente, em comparação com o primeiro trimestre de 2020, e um aumento entre 30% e 37% de transações sem cartão presente.

Em termos de consumo, é referida uma queda de 36% na aquisição de combustíveis, de 89% nas transações no setor dos transportes e um aumento de 13% nas compras de produtos desportivos.

Para mitigar a atividade fraudulenta, o relatório aconselhou as instituições financeiras a usarem técnicas antifraude em transações em que o cartão não está fisicamente presente, monitorizarem domínios de email suspeitos e desenvolverem perfis de risco para detetar fraudes ATO.

Esta é a edição do quarto trimestre de 2020 do relatório da Feedzai, cuja plataforma usa inteligência artificial para prevenir crimes financeiros e de lavagem de dinheiro. A empresa tem sede oficial em San Mateo, na Califórnia (costa oeste dos Estados Unidos), com a base de desenvolvimento em Lisboa.

A pandemia de Covid-19 provocou pelo menos 1.388.590 mortos resultantes de mais de 58,6 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 3.971 pessoas dos 264.802 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.