A agência de notação financeira Moody’s considerou esta quarta-feira que a recuperação lenta e desigual na África subsaariana coloca riscos para o setor financeiro, destacando que as seguradoras estão mais protegidas que os bancos.

As recuperações económicas moderadas e desiguais no seguimento da pandemia do novo coronavírus, bem como as incertezas comerciais e políticas, colocam riscos para as instituições financeiras nos mercados emergentes”, incluindo África, em 2021, lê-se num comentário divulgado esta quarta-feira em Londres.

A perspetiva de evolução dos bancos é negativa, e as seguradoras são mais estáveis, já que o confinamento decorrente das medidas de combate à propagação da pandemia resultou num aumento do lucro, mas as pressões sobre o capital estão a intensificar-se”, acrescentam os analistas.

A incerteza sobre a trajetória da qualidade dos ativos está entre os maiores riscos para os bancos, destaca a Moody’s, apontando que “as condições de operação continuam frágeis num contexto de preocupações sanitárias” e notando que as provisões feitas pelos bancos no início da pandemia aumentaram significativamente, pelo que 2021 “será um ano crucial para determinar se serão necessárias mais reservas”.

O crescimento do lucro será modesto num contexto de taxas de juro baixas e empréstimos abaixo da capacidade, e as pressões do país onde os bancos operam também podem enfraquecer o perfil de crédito dos bancos analisados pela Moody’s na África subsaariana, mas também noutras geografias, como a Ásia ou a América Latina.

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Em África, as condições de funcionamento são desafiantes, com a qualidade dos ativos, o lucro e a liquidez em moeda estrangeira a continuarem a ser os principais pontos de pressão para os bancos”, notam os analistas.

A atividade económica em abrandamento, a despesa das famílias e as finanças públicas fragilizadas são algumas das consequências da pandemia no continente, “o que enfraquece o desempenho financeiro geral dos bancos, mas afeta também indiretamente o perfil de crédito destas instituições financeiras, uma vez que detêm grandes ativos do Governo e, por isso, qualquer degradação ou pressão sobre o soberano vai enfraquecer o perfil de crédito dos bancos”.

A ligação entre o banco e o país onde opera fica particularmente visível porque “90% das ações de ‘rating’ relativas aos bancos em África foram tomadas no seguimento de uma ação de ‘rating’ relativamente ao país soberano onde operam”, como aconteceu em Angola, onde a Moody’s desceu o ‘rating’ de dois bancos dias depois de ter descido a avaliação sobre a qualidade do crédito soberano do país.

Apesar deste contexto, conclui a Moody’s, a estabilidade financeira será mantida, já que “as almofadas de capital, o financiamento estável em moeda local e as melhorias na gestão e na supervisão bancária vão parcialmente equilibrar os riscos”.

A África registou 316 mortes devido à Covid-19 e mais 13.366 novos casos de infeção nas últimas 24 horas, contabilizando agora 52.231 óbitos causados pelo novo coronavírus, segundo dados oficiais.

De acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), o continente africano conta agora com 2.184.209 casos de pessoas infetadas nos 55 membros da União Africana.

O primeiro caso de Covid-19 em África surgiu no Egito, em 14 de fevereiro, e a Nigéria foi o primeiro país da África subsariana a registar casos de infeção, em 28 de fevereiro.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

A pandemia de Covid-19 provocou pelo menos 1.482.240 mortos resultantes de mais de 63,8 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.