O presidente do PSD, Rui Rio, afirmou esta sexta-feira ter a convicção que Francisco Sá Carneiro, se não tivesse morrido em 1980, teria voltado à política ativa perante a atual “degradação do regime”, e elogiou a sua coragem e frontalidade.

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“A minha convicção é que esta sexta-feira, perante essa degradação do regime, que era o tema dele, acabaria por voltar à política e Portugal acabaria por voltar a ter esse ativo”, afirmou Rui Rio, numa intervenção na apresentação do livro “40 anos, 40 testemunhos sobre Sá Carneiro”, no Grémio Literário, em Lisboa.

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A iniciativa contou igualmente com a presença do Presidente da República e antigo líder do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa.

“Penso que hoje [esta sexta-feira] estão aqui na prática duas pessoas: o Presidente da República e o professor Marcelo Rebelo de Sousa. Hoje [esta sexta-feira] é até mais importante o professor Marcelo Rebelo de Sousa pelo seu trajeto com Sá Carneiro”, referiu Rui Rio.

No dia em que passam 40 anos da morte do fundador do PSD Francisco Sá Carneiro, marcaram presença os ex-primeiro-ministros Pedro Passos Coelho e Pedro Santana Lopes (que já saiu do PSD) e antigos líderes do partido como Rui Machete, Luís Marques Mendes e Manuela Ferreira Leite.

Os ex-líderes do CDS-PP Paulo Portas e José Ribeiro e Castro foram outras das figuras presentes, bem como o filho de Francisco Sá Carneiro.

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O presidente do PSD, o primeiro a discursar na cerimónia por ter de sair para votar no parlamento a renovação do estado de emergência, começou por reiterar que aderiu ao partido de Sá Carneiro mais do que ao então PPD.

“Eu em maio de 1974, fui com Francisco Sá Carneiro e iria com ele para onde ele fosse”, frisou.

O presidente do PSD salientou que a “vida curta, mas intensa” de Sá Carneiro, que morreu aos 46 anos, foi sempre de “luta contra a ditadura”, primeiro de direita contra Salazar e Marcello Caetano, e depois de esquerda, contra o PCP.

“Muitas vezes coloco a questão se o dr. Sá Carneiro continuaria na política”, disse, recordando que faleceu dias antes de umas eleições presidenciais em que o seu candidato, o general Soares Carneiro, seria derrotado.

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Se a tragédia de Camarate não tivesse acontecido, teorizou depois Rui Rio, Francisco Sá Carneiro “ter-se-ia demitido de primeiro-ministro, como disse que faria”, o que o obrigaria a “não estar na política durante muitos anos”.

“Mas, depois da adesão à então CEE [em 1986] veria Sá Carneiro como uma reserva da política nacional pelo menos durante o fim dos anos 80 e o início dos anos 90”, afirmou.

E voltaria à política ativa, questionou-se e respondeu Rui Rio: “A minha convicção é que ele voltaria, se olharmos à situação para o qual o regime evoluiu, pelo desgaste que o tempo infligiu no regime, em vivemos numa democracia formal, mas muito empobrecida do ponto de vista substantivo”.

Para Rio, “o descrédito das instituições, a degradação dos princípio éticos, a força dos poderes fáticos – da preponderância das minorias face à maioria –, a crescente hipocrisia do politicamente correto, a degradação da justiça” são temas que “atraíam Sá Carneiro para a política”.

“Sá Carneiro tinha coragem, era frontal, tinha convicção, era coerente e era rigoroso. E tinha credibilidade, que para mim é o somatório de três fatores: coragem, seriedade e competência”, afirmou.

Tal como já tinha referido esta semana na apresentação de um outro livro com discursos de Sá Carneiro, Rui Rio apontou o fundador do PSD como o seu “farol antes do 25 de Abril”, pelo trabalho que desenvolveu enquanto deputado, ainda no tempo da chamada ala liberal da União Nacional, então partido único.

“Eu acho que foi mais relevante a ação de Sá Carneiro na ala liberal na sensibilização da sociedade portuguesa para a democracia do que outros oposicionistas, até mais pesados, mas que estavam no exílio e não interagiam assim tanto com o povo português”, defendeu.

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O líder da JSD, Alexandre Poço, que organizou a recolha e compilação dos 40 testemunhos em livro, destacou o “respeito que todos os líderes do PSD sempre tiveram pelo legado” de Sá Carneiro.

“Foi um militante inigualável, um estadista que marcou para sempre a democracia em que vivemos”, referiu.

O também deputado explicou que esta homenagem “espelha a vontade que as ideias” do fundador do PSD “inspirem uma nova geração em Portugal”

Como seria Portugal se a tragédia de Camarate não tivesse levado Francisco Sá Carneiro? (…) A revolta imaginada por mim em Francisco Sá Carneiro perante a situação presente deve ser o mote para a nossa ação. Sejamos capazes de mobilizar a nossa geração para os desafios do futuro, em todas as áreas, a começar pela política”, apelou Alexandre Poço.

Em 4 de dezembro de 1980, Francisco Sá Carneiro, então primeiro-ministro, e Adelino Amaro da Costa, ministro da Defesa, morreram na queda do avião Cessna quando partiram de Lisboa para um comício de campanha no Porto, assim como a tripulação e restante comitiva: Snu Abecassis, Manuela Amaro da Costa, António Patrício Gouveia, Jorge Albuquerque e Alfredo de Sousa.

Chega lembra Sá Carneiro como “político visionário” e “símbolo inatacável de integridade”

O Chega recordou esta sexta-feira o fundador do PSD Francisco Sá Carneiro como um “político visionário” e um “símbolo inatacável de integridade” e defendeu que o país precisa de “políticos que promovam unidade à direita”.

“Quando se assinalam 40 anos da morte do primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro, mentor da Aliança Democrática ainda hoje [esta sexta-feira] tão presente no espírito dos portugueses, o Chega não quer deixar de prestar a sua sentida homenagem ao homem, ao político visionário e ao símbolo inatacável de integridade que ainda hoje [esta sexta-feira] se projeta no imaginário nacional”, refere o partido em comunicado.

O partido liderado por André Ventura (que já integrou o PSD) “presta a sua sentida homenagem a Francisco Sá Carneiro” e refere também esperar que “o seu espírito volte a projetar-se na alma da direita portuguesa sem medos, sem receios e com o incontornável objetivo de melhorar a vida dos portugueses e devolver dignidade à nação”, advogando que “seria esse mesmo o desejo de Sá Carneiro”.

Na ótica do Chega, volvidos 40 anos da queda, em Camarate, do avião em que seguiam Francisco Sá Carneiro e o fundador do CDS Adelino Amaro da Costa, “Portugal precisa tanto ou mais do que naquele tempo de políticos que promovam unidade à direita, alternativas democráticas sólidas e credíveis e que promovam um enorme inconformismo capaz de romper o politicamente correto”.

Atualizado com as declarações do Chega às 17h50