Marcelo Rebelo de Sousa apresentou a recandidatura à Presidência da República e passados quatro dias deu a primeira entrevista (à SIC) que começou pela morte do cidadão ucraniano, Ihor Homeniúk, que foi morto no aeroporto de Lisboa e sobre a falta de uma palavra à família e diz que isso aconteceu porque havia um processo judicial em curso. A entrevista de menos de um hora ficou marcada pela admissão de Marcelo dar posse a um Governo apoiado pelo Chega.

Questionado sobre acordos de governação, Marcelo disse que “não exigiu” nem vai exigir “acordo escrito para formação de qualquer Governo”. Mas sobre um acordo concreto de governação com o Chega admite que não o impedirá. “Não vejo razão constitucional para dizer que um partido não pode” fazer um acordo, referindo-se especificamente sobre o partido de André Ventura. Sem que lhe fosse perguntado sobre a questão da ilegalização do Chega, o candidato presidencial remeteu para o Tribunal Constitucional. No entanto, Marcelo sugere que o faria contrariado: “Se fosse líder partidário… mas sou Presidente e como Presidente há coisas que tenho de fazer que gosto e outras que não gosto”.

Sobre o surgimento de uma nova direita no país, a do Chega, Marcelo foi confrontado com as suas responsabilidade uma vez que ocupou muito o espaço do centro político. “Não sou um Presidente de fação, não fui eleito para ser o presidente da direita contra a esquerda nem para ser o Presidente que protege a esquerda contra a direita”. E diz-se preocupado “sempre” com “a alternativa a direita”, para “equilibrar o sistema mas a alternativa à direita começou a esboroar-se quando houve uma divisão de estratégia entre o PSD e o CSD em 2016 e 2017” — já estava a “geringonça” a funcionar e o PSD e CDS separaram-se na oposição. Lembra também que no 25 de Abril de 2018 chamou a atenção para o surgimento de “movimento inorgânicos mas também formações política antissistémicas” já que o sistema não está a cobrir as áreas todas.

Marcelo garantiu que foi sempre conversando com os “partidos da oposição, à direita e à esquerda sobre esse perigo” e avisou que a crise quando surge num “hemisfério contagia o outro”, lembrando que “hoje na Europa mais de um dúzia de países têm partidos anti-sistema no Governo”.

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“O Presidente da República não pode esquecer-se que o é quando é candidato” e com isto recusa-se a classificar André Ventura. A resposta a esta direita, assumiu, depende dos outros partidos, “à direita e à esquerda, que podem maximizar o peso desse partido se o converterem no centro do sistema das suas estratégias e depende do próprio partido”, avisa. Já quando foi questionado sobre a liderança do PSD, Marcelo recusou-se a dizer se considera que Rui Rio tem condições chegar a primeiro-ministro.

Marcelo garantiu que “falou inúmeras vezes” com Costa sobre caso do cidadão ucraniano morto no aeroporto de Lisboa

Sobre o homicídio de Ihor Homeniúk, Marcelo garantiu que “em privado nunca” contactou com “vítimas nem com familiares de vítimas” porque é um princípio “não tomar posição sobre um processo judicial em curso” para não ser acusado de intromissão: “Entendi que o Presidente não devia abrir uma exceção ao seu procedimento em Portugal”. Mas diz que em falou “inúmeras vezes em privado” com o primeiro-ministro e que a comunicação social não lhe fizeram perguntas sobre o assunto: “O mais espantoso é que falei da matéria ainda em abril e depois nenhum jornalista me perguntou sobre a matéria”. E disse ainda que se tivesse sido questionado teria dito que estava em contacto com o primeiro-ministro.

Questionado sobre se quer um novo ministro ou um novo SEF, o candidato presidencial e Presidente da República responde que quer um novo SEF e reencaminha a questão do ministro da Administração Interna para as declarações desta sexta-feira de António Costa que manifestou “confiança total” no ministro Eduardo Cabrita.

A entrevista à SIC prosseguiu pela reestruturação da TAP e o atual Presidente da República defendeu a manutenção da companhia aérea. “Tem de se fazer uma reestruturação e tem de se pagar o preço dessa reestruturação”, disse atirando também à intenção que chegou a ser proposta pelo ministro das Infraestruturas de levar o plano a debate no Parlamento. Marcelo discordou de Pedro Nuno Santos dizendo que é o Governo que decide.

Sobre o Novo Banco, o candidato presidencial foi questionado sobre a competência do Tribunal de Contas para fazer uma auditoria à instituição bancária, mas recusou-se a dizer o que pensa. E voltou a protestar pela demora (9 meses) da auditoria da Deloitte. “Houve tempo demais”, disse o Presidente em relação a esse assunto.

“Há vacinas [Covid] atrasadas não contemos com elas no início de janeiro”

No caso das vacinas da gripe, Marcelo diz que tem a garantia da ministra da Saúde que “há vacinas até dezembro” e que esse foi “um compromisso público que a ministra assumiu”, disse atirando para Marta Temido essa responsabilidade. Mas logo de seguida afirmou que ele mesmo assumiu essa  responsabilidade e também que foi ele “quem tomou a iniciativa do primeiro estado de emergência” e “não foi pacífico”, revelou agora sobre a decisão de março deste ano.

Mas logo de seguida também acrescentou que, como Presidente, pediu informação às farmacêuticas sobre a chegada das vacinas a Portugal e avisa que “há vacinas que estão atrasadas, não contemos com ela no início de janeiro”.

Não sou burro”, comparado com Soares “levo uma abada”

Com as presidenciais marcadas para 24 de janeiro e a sua recandidatura já lançada, Marcelo foi questionado sobre as suas expectativa quanto ao resultado eleitoral. Espera ter como Soares, em 1991, 70,35%? “Tenho vários defeitos mas não sou burro nem louco”, respondeu de imediato Marcelo que disse ainda que na comparação com Soares “leva uma abada”, nomeadamente com alguns fatores em jogo como a luta contra a ditadura protagonizada por Soares e a pandemia que agora existe. Quanto ao resultado que espera ter não se compromete: “É o que for”.

Já na reta final da entrevista, o candidato presidencial foi confrontado com a demora do julgamento do ex-primeiro-ministro José Sócrates e disse que foi por questões como esta “que promoveu um pacto de justiça que foi aprovado mas não foi aplicado”, fugindo à questão concreta.

Terminou a entrevista defender que todos os candidatos presidenciais deviam ser convidados a assistir às reuniões do Infarmed sobre a situação epidemiológica.