Marisa Matias, candidata presidencial apoiada pelo Bloco de Esquerda, entende que o “Serviço Nacional de Saúde está em perigo” e que Marcelo Rebelo de Sousa teve uma influência negativa na preservação da excessiva dependência do sistema público face aos privados.

A bloquista esteve esta terça-feira num “Sob Escuta” especial, entrevista transmitida em direto no site do Observador, na rádio e também através das redes sociais.

No contexto particular do combate à pandemia, Marisa Matias critica os operadores privados que fecharam portas e pede controlo público destes hospitais. “Os privados continuam com uma lógica de negócio. Não podemos admitir unidades que se comprometem a ajudar mas que estão a tratar clientes e não doentes. Os privados devem estar sob controlo do SNS”, diz.

Marisa Matias critica ainda a falta de empenho do Governo socialista no reforço do SNS e lamenta que o PS não tenha estado à altura dos compromissos firmados com o Bloco durante o Orçamento Retificativo. Ainda assim, a candidata presidencial deixou uma garantia: “O PS não deixou de ser de confiança, nem o Bloco cortou relações de forma definitiva com o PS“.

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Sobre o facto de o apoio de Francisco Ramos, coordenador do plano de vacinação contra a covid-19, ser ou não entendido como uma forma de aproveitamento político por parte do Bloco de Esquerda, a candidata bloquista garante que não há confusões e que o ex-secretário de Estado da Saúde não está na campanha de Marisa Matias “na qualidade” de coordenador, mas de “cidadão” — isto apesar de o Francisco Ramos ter sido apresentado como coordenador do plano de vacinação contra a covid-19 num comício de Marisa Matias.

Quanto às críticas de António Costa, que, também em entrevista ao Observador, acusou o Bloco de Esquerda de se ter posto “ao fresco” durante as negociações do Orçamento do Estado para 2021, Marisa Matias devolve as acusações: “Quem não está a responder às exigências do momento é o Governo, não o Bloco de Esquerda.”

Já depois de o primeiro-ministro ter acusado o Bloco de ter rompido por puro “oportunismo” e para não fazer parte de uma solução que venha a ser impopular, Marisa Matias garante: “Prefiro fazer parte desta decisão do que de um partido que não assume as suas decisões por medo da perda eleitoral que pode vir a ter.”

Ainda assim, a bloquista volta a dizer que não há, nem pode haver portas fechadas: “Não estamos a falar de birras, estamos a falar de políticas, de defender direitos.”

“Estou aqui a trabalhar para surpresas”

Sobre a campanha presidencial, Marisa Matias diz acreditar que será possível fazer uma “surpresa” nestas eleições e que, apesar de Marcelo ser um claro favorito, não há vencedores antecipados.

Quanto ao risco de haver divisões do eleitorado à esquerda em torno de três candidatos — Ana Gomes, Marisa Matias e João Ferreira –, a candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda afasta qualquer risco.

“Estamos falar de três candidaturas de esquerda, diferentes e que se complementam. É uma forma de mobilizar o eleitorado de esquerda para que participe nestas eleições e que não se demita”, diz.

Não dar posse a Ventura? “Seria o Presidente a cumprir a Constituição”

Confrontada com as declarações recentes de que não daria posse a André Ventura se fosse Presidente, e se isso não seria ultrapassar os poderes presidenciais, Marisa Matias mantém a sua posição. “Seria o Presidente a cumprir a Constituição“, argumenta.

A esse propósito, a bloquista lembra o exemplo de Angela Merkel na Alemanha, que tem traçado um cordão sanitário entre o seu partido — a CDU — e forças de extrema-direita. “Essa postura é de profundo respeito pela democracia“, elogia.

Em 2012, o Bloco de Equerda organizou um protesto em que eram exibidos dois bonecos de Angela Merkel com uma camisola com uma cruz suástica e as palavras “Adolf Merkel”. E havia cartazes que diziam “Merkel nazi rua”.

Perante este episódio, Marisa Matias começa por dizer que é “redutor” responsabilizar os dirigentes do Bloco por todo o tipo de mensagens que são usadas em manifestações e demarca-se. “Não gostaria de estar naquelas companhias“, sublinha.

Caso SEF: “É vergonhoso e de uma gravidade extrema”

Sobre a morte de um cidadão ucraniano às mãos de agentes do SEF no aeroporto de Lisboa, Marisa Matias classifica o caso de “vergonhoso” e de “uma gravidade extrema”, e responsabiliza o Governo por não ter feito tudo ao seu alcance para apurar todas as responsabilidades.

Já quanto ao futuro do SEF, numa altura em que se discute a extinção ou fusão daquela polícia, a bloquista prefere não avançar com soluções concretas, mas sugere uma transformação daquela polícia. “Não podemos tratar a questão das fronteiras sempre como um caso de polícia“, remata.