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No primeiro dia do confinamento, Ana Gomes saiu à rua. "É essa a minha obrigação", diz

Este artigo tem mais de 3 anos

Ana Gomes troca instituições por rua e mercado no primeiro dia de confinamento e ouve críticas. "Obrigação" de candidata ou culpa dos media? Luísa Salgueiro, anfitriã em Matosinhos, escolhe a segunda.

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DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Artigo em atualização ao longo do dia

“Distância! Distância! Fecham os restaurantes e depois é isto”. À porta do mercado de Matosinhos, uma mulher critica o aparato de jornalistas em torno de Ana Gomes. No primeiro dia de confinamento generalizado, a candidata trocou as reuniões e visitas institucionais e foi a um mercado — praticamente sem clientes — para estar “junto de quem trabalha”. É que, para uns estarem em casa a cadeia de distribuição não pode parar. Pelo meio, contudo, aceitou a sugestão da presidente da câmara de Matosinhos, a socialista Luísa Salgueiro, e fez um percurso a pé com contactos de rua com a população.

Foi o primeiro contacto de rua em seis dias de estrada, e logo no primeiro dia de confinamento. “O percurso a pé foi sugestão da presidente da câmara”, diz ao Observador o assessor de campanha quando questionado sobre o motivo de fazer um contacto de maior proximidade com a população justamente no dia em que a generalidade dos portugueses foi para casa com regras apertadas. O desconforto era evidente, de ambos os lados. “Não podemos parar aqui todos senão a imagem que passa é de que não estamos a cumprir o distanciamento”, comentava baixinho uma assessora da autarca no caminho. É que a cada paragem para trocar impressões com eleitores, a bolha mediática adensava-se e a enchente era evidente. O mal estava feito.

Foram mais de 15 minutos de um ponto ao outro, a pé, que deu para falar, à porta de um talho, sobre o encerramento da refinaria de Matosinhos e as implicações para os trabalhadores, deu para apelar à ida às urnas para combater a abstenção, que é “má para a democracia”, e deu sobretudo para falar de problemas locais, visto que a presidente da câmara era automaticamente reconhecida na rua, cabendo-lhe a ela depois a tarefa de apresentar a candidata presidencial que tinha ao lado. Parecia uma campanha à antiga.

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

No mercado, os clientes eram poucos ou nenhuns, mas as vendedoras de peixe ou hortaliça chegavam para fazer a festa. “Ontem ainda tivemos muita gente, até para se virem abastecer, mas hoje não, quase ninguém”, comentava ao Observador uma das peixeiras do mercado. O objetivo de Ana Gomes também não era esse, era estar com os trabalhadores (ou trabalhadoras, que isto são “mulheres que trabalham e vão à luta”), porque é aí que acredita que tem de estar. “Estou aqui no meu trabalho de candidata política ao pé dos portugueses que estão a trabalhar, e minha obrigação é estar ao pé dos portugueses”, disse quando confrontada com o aglomerado provocado pela sua ação de campanha, sublinhando que as comerciantes estavam protegidas e “não houve contacto físico para lá da habitual cotovelada”.

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Houve, isso sim, uma miragem do que seria uma campanha sem Covid. A vendedora de hortaliças que já é conhecida por chamar a atenção quando lá vão as televisões, fez o seu espetáculo habitual: cantou para a candidata, falou de corrupção, disse que estava indecisa em quem votar mas que, só pela visita, já tinha decidido. Ana Gomes fez as habituais metáforas que estão a jeito quando vê um cherne (nome pelo qual era conhecido Durão Barroso), ou um polvo (que “asfixia” a democracia). Recebeu umas sementes de cravo de uma jovem que foi lá só para a ver e não se escapou a ouvir críticas pela aglomeração em pleno estado de emergência.

[Ouça aqui a reportagem da Rádio Observador]

Ana Gomes em “trabalho de politica” sai à rua em Matosinhos

Ao seu lado estava Luísa Salgueiro, autarca de Matosinhos e presidente da concelhia do PS, que fazia de anfitriã, juntamente com alguns vereadores e diretores municipais, e um grupo de não mais do que cinco membros da Juventude Socialista. Do lado de Ana Gomes, apenas dois assessores e um fotógrafo. O resto, jornalistas. “Temos de dar o exemplo, e evitar que se passe a mensagem errada, mas de facto a grande dificuldade tem a ver com a vossa presença”, sugeria Luísa Salgueiro aos jornalistas perante as críticas.

Sem uma máquina por trás — “propositadamente”, explica um assessor, Ana Gomes vai contando com o apoio mais ou menos indireto de socialistas. Neste caso, esclareceu Luísa Salgueiro, o apoio é “institucional”. “Estou a acompanhar Ana Gomes como acompanharia outro candidato se marcasse uma visita”, disse a autarca que é também dirigente e ex-deputada socialista, admitindo no entanto que não recebeu mais pedidos de outras candidaturas. Luísa Salgueiro sabe em quem vai votar, só não o diz enquanto presidente da câmara. E enquanto Luísa Salgueiro? Guarda para si.

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Ana Gomes vai aproveitando. Elogia a autarca enquanto “mulher” que “faz a diferença”, e diz que não “desvaloriza” o apoio de socialistas. Antes pelo contrário. Pior são os dirigentes socialistas que “dão indicações de voto em candidatos apoiados por partidos que são contra a Europa”, disse, referindo-se à deputada Isabel Moreira que ontem apareceu na campanha do candidato do PCP João Ferreira. João Ferreira não, mas Marisa Matias, isso já é outra história.

O batom vermelho da brigada anti-Ventura

A promessa vinha da véspera. Desafiada, no Twitter, a juntar-se a Marisa Matias na frente anti-Ventura do batom vermelho, Ana Gomes começou o sexto dia de campanha eleitoral a cumprir o prometido. Ia a caminho de Matosinhos, para uma reunião na câmara municipal, quando, no carro, publicou um vídeo a pôr batom, com a hashtag do momento: #VermelhoemBelem. Sem mais palavras.

O gesto ficou viral no Twitter depois de André Ventura ter feito um discurso inflamado com insultos contra os candidatos a Belém. A Ana Gomes chamou “contrabandista”, e sobre Marisa Matias disse que “não estava bem em termos de imagem” e que “pintava os lábios como se fosse uma coisa de brincar”. Foi o suficiente para iniciar uma frente unida anti-Ventura nas redes sociais, com várias personalidades — homens e mulheres, políticos e anónimos — a publicar fotografias com os lábios pintados.

Ana Gomes, que é de resto amiga de Marisa Matias, e que tem focado muito a sua campanha na valorização das mulheres e na igualdade de direitos, acedeu de imediato. “Prometo”, disse em resposta ao desafio que lhe foi lançado no Twitter. E assim, de lábios pintados de vermelho, juntou-se aos muitos deputados e dirigentes bloquistas que já tinham feito o mesmo, e também ao líder da JS, Miguel Costa Matos, que acrescentou na publicação um apelo: “Diz não ao machismo! Nenhum homem deve comentar as escolhas estéticas de uma mulher para a denegrir, muito menos para denegrir as suas ideias por associação”.

A “explicação estapafúrdia” de Marcelo

Marcelo Rebelo de Sousa pôs hoje o pé na estrada, e, à saída de uma reunião na reitoria da Universidade do Porto, Ana Gomes não deixou o momento passar despercebido e voltou a criticar o facto de o PR incumbente estar há uma semana a “fugir ao escrutínio” agindo apenas como Presidente e não como candidato. Para Ana Gomes, a explicação que deu para isso foi “estapafúrdia”.

“Penso que o papel de qualquer candidato, inclusivamente do incumbente, é de se sujeitar ao escrutínio. Foi esse o exemplo de outros Presidente da República Mário Soares e Jorge Sampaio quando se recandidataram. Era completamente estapafúrdia a explicação que o PR estava a dar para desvalorizar este processo que é a razão pela qual existe campanha”, disse, referindo-se ao facto de Marcelo ter dito que era o único PR-candidato a participar em debates em plena campanha, quando, afinal, Jorge Sampaio e Mário Soares também terão debateram.

“Não é verdade que anteriores Presidentes não se tenham disponibilizado para fazer campanha. Não era verdade. Há muitas faltas à verdade no discurso de Marcelo Rebelo de Sousa”, acusou, dizendo que a campanha não é só os debates, e é preciso “assumir compromissos” e ser “alvo de escrutínio”. Marcelo Rebelo de Sousa, contudo, tem-se escudado sobretudo na pandemia, e no facto de as autoridades de saúde terem dito para evitar ajuntamentos, bem como nas obrigações de Presidente.

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