O ministro da Saúde alemão, Jens Spahn, admitiu esta terça-feira ser favorável à restrição da exportação de vacinas produzidas na União Europeia, já que há cada vez mais atrasos na entrega de medicação contra a Covid-19.
As vacinas que saem da União Europeia (UE) precisam de uma licença para que, pelo menos, saibamos o que foi produzido e o que saiu da Europa. E que quando saem da Europa, têm uma distribuição justa”, disse Spahn.
Depois da norte-americana Pfizer ter anunciado atrasos nas entregas das suas vacinas, a farmacêutica AstraZeneca admitiu, no final da semana passada, que o número de doses de vacinas que poderia entregar seria muito menor do que o previsto, já que tinha registado uma “queda do rendimento” na fábrica europeia.
Esta declaração causou preocupação na Europa, que está a correr contra o tempo devido ao aparecimento de novas e mais perigosas variantes do coronavírus que provoca a Covid-19.
A vacina da AstraZeneca/Oxford tem a vantagem de ser mais barata de produzir do que as das suas concorrentes e também mais fácil de armazenar e transportar, especialmente em relação à vacina da Pfizer/BioNTech, que tem de ser armazenada a uma temperatura muito baixa (-70° C).
O ministro alemão da Saúde reconheceu esta terça-feira que num “processo tão complexo como a produção de vacinas, às vezes acontecem problemas”, mas defendeu que isso deve ser uma preocupação igual para todos, o que não acontece com o Reino Unido, onde não se regista qualquer atraso nos fornecimentos.
Não se trata “de pôr a UE primeiro, mas de ter direito à quota da Europa”, disse, lembrando que a UE celebrou contratos com o grupo sueco-britânico AstraZeneca e já pré-financiou a construção de novas capacidades de produção.
Os atrasos nas entregas da vacina da AstraZeneca despertaram a raiva da comissária Europeia para a Saúde, Stella Kyriakides, que propôs, na segunda-feira, um “mecanismo de transparência” nas exportações para fora da UE de vacinas produzidas no seu território.
O Governo britânico garantiu esta terça-feira que a vacinação no Reino Unido não será afetada por atrasos nas entregas na Europa e alertou para as consequências de um “nacionalismo de vacinas” após a ameaça de Bruxelas de controlar as suas exportações.
“Estou confiante de que a AstraZeneca e a Pfizer nos fornecerão as quantidades de que precisamos para atingir a nossa meta em meados de fevereiro”, disse o secretário de Estado encarregado da campanha de vacinação, Nadhim Zahawi.
“Tenho certeza de que vão abastecer a União Europeia, o Reino Unido e o resto do mundo”, acrescentou.
A Comissão Europeia reservou cerca de 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca, que já está a ser usada no Reino Unido.
A Agência Europeia dos Medicamentos (EMA, na sigla em inglês) recebeu no passado dia 12 de janeiro um pedido para autorização desta vacina e deverá, até final do mês, dar ‘luz verde’ à comercialização de emergência na UE.
Esta questão de dar prioridade aos países europeus na utilização de vacinas produzidas na UE suscitou um debate sobre a distribuição justa de vacinas no mundo, onde mais de dois milhões de pessoas morreram, no último ano, devido à Covid-19.
Em meados de janeiro, o diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, avisou que o mundo ia enfrentar um “fracasso moral catastrófico” se os países ricos monopolizassem as vacinas à custa dos países pobres.
A OMS e a Vaccine Alliance (Gavi) criaram o mecanismo Covax para distribuir vacinas anti-Covid a países desfavorecidos, mas o sistema sofre uma tendência de cada um por si e tem falta de financiamento.