A Sanofi vai enfrascar e acondicionar as vacinas contra a Covid-19 dos seus concorrentes Pfizer e BioNTech, anunciou esta terça-feira o diretor-geral daquela farmacêutica francesa, Paul Hudson. A Sanofi irá ceder à BioNTech o acesso às suas infraestruturas de produção e à reconhecida experiência em vacinas para produzir mais de 125 milhões de doses na Europa, informou a empresa em comunicado de imprensa.

Sem ter ainda uma vacina própria, o laboratório vai ajudar a embalar mais de 120 milhões de doses da rival norte-americana, destinadas à União Europeia, após o Governo francês lhe ter pedido, várias vezes, para disponibilizar as suas linhas de produção aos concorrentes. As primeiras doses da vacina vão sair das instalações de produção da Sanofi a partir do verão de 2021.

Numa entrevista ao jornal Le Figaro, Paul Hudson explicou que a Sanofi vai utilizar a sua fábrica na Alemanha, em Frankfurt, para embalar a vacina que lhe será fornecida pela Pfizer e BioNTech a partir de julho.

“Estando este local de produção localizado perto da sede da BioNTech [em Mainz], isso vai facilitar o processo”, defendeu o diretor executivo do grupo francês.

O acordo é alcançado num momento em que vários laboratórios estão em dificuldades para manter as cadências de produção elevadas de forma a respeitar os contratos de distribuição que assinaram.

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“Estamos totalmente conscientes que, quanto mais cedo estiverem disponíveis doses da vacina, mais vidas poderão ser potencialmente salvas. O anúncio feito hoje [quarta-feira] é um passo fundamental para dar resposta ao objetivo conjunto da indústria farmacêutica, que é focar todo o nosso esforço em ultrapassar esta pandemia”, disse Paul Hudson, diretor executivo da Sanofi, em comunicado de imprensa. “Como sempre, a nossa prioridade principal é focarmos os nossos esforços e capacidades na luta contra esta pandemia mundial. Mas, acima de tudo, iremos também consegui-lo continuando a desenvolver as nossas próprias vacinas candidatas para a COVID-19, em paralelo com esta colaboração industrial.”

O grupo americano Pfizer e a empresa de biotecnologia alemã BioNTech foram os primeiros a advertir, este mês, que não conseguiriam cumprir a calendarização inicialmente acordada com a União Europeia, antes de dizer que podiam limitar a uma semana o atraso nas entregas.

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Na semana passada, foi a vez da britânica AstraZeneca, cuja vacina ainda não foi aprovada pela Agência Europeia do Medicamento (EMA), indicar que as suas entregas seriam inferiores ao previsto no primeiro trimestre, causando a indignação da União Europeia.

Esta quarta-feira a presidente da Comissão Europeia (CE), Ursula von der Leyen, pressionou os fabricantes ao dizer que devem “honrar as suas obrigações”.

“A Europa investiu milhares de milhões [de euros] para desenvolver as primeiras vacinas e criar um verdadeiro bem comum a nível mundial. Agora é a vez de as empresas cumprirem as suas promessas”, defendeu a presidente da CE.

Em resposta, o diretor-geral da AstraZeneca, Pascal Soriot, garantiu ao Le Figaro que o seu grupo “com certeza não tira vacinas aos europeus para vendê-las com lucro noutros locais”, mas falou em preocupações relacionadas com a produção que têm de ser resolvidas.

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A pandemia de Covid-19 provocou, pelo menos, 2.149.818 mortos resultantes de mais de 100 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço da Universidade Johns Hopkins, dos EUA.

Em Portugal, morreram 11.012 pessoas dos 653.878 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.