O secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação disse que Portugal defende que uma parte das 2,3 mil milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 encomendadas pela União Europeia seja doada a países africanos.

“Até agora, a União Europeia recebeu alguns milhões de vacinas contra a Covid-19 para uma população de 450 milhões, o que não é muito […] Mas a União Europeia comprou antecipadamente 2,3 biliões de doses, com a possibilidade de doar parte dessas vacinas a outros países. Portugal apoia os esforços para um mecanismo em cadeia e, nesse contexto, precisamos de ajudar África em particular“, referiu Francisco André.

O governante interveio na conferência de alto nível organizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) sobre o tema “Igualdade na vacinação e resiliência: dois testes para a solidariedade global”. A participação do secretário de Estado aconteceu no âmbito da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia.

“Nenhuma região pode estar a salvo até que todo o mundo esteja protegido contra o vírus e é por isso que as vacinas têm de ser disponibilizadas para os nossos parceiros, especialmente nos países em desenvolvimento”, defendeu Francisco André.

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Nesta sessão virtual participou também Angel Gurría, secretário-geral da OCDE, opondo-se à nacionalização das vacinas pelos países ricos em detrimento dos países em vias de desenvolvimento. “Cabe-nos a todos fazer um esforço comum para conseguirmos o nível mais alto possível de imunidade em todo o mundo e isso significa ter um acesso equitativo à vacina contra a Covid-19”, defendeu o líder da organização. O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) partilhou da mesma opinião.

“Claro que cada governo quer vacinar em primeiro lugar os seus cidadãos, mas não é correto vacinar jovens adultos saudáveis em países ricos antes de pessoal hospitalar e pessoas mais velhos nos países mais pobres”, defendeu Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Segundo a OMS, 94% dos países que estão a vacinar as suas populações são considerados ricos e 75% das doses existentes vão apenas para 10 países no mundo. Uma discrepância demonstrada por Jorge Moreira da Silva, diretor-geral de Desenvolvimento e Cooperação da OCDE, que produziu dois relatórios sobre os impactos do vírus e os obstáculos no acesso às vacinas por parte dos países em vias de desenvolvimento.

“Apesar de os países estarem a enfrentar a mesma ameaça, a sua capacidade de resposta é definida pela realidade existente antes da pandemia e alguns países estão a enfrentar este inimigo silencioso com as mãos atadas atrás das costas”, sublinhou o antigo ministro português na sua intervenção.