Na fotografia que ilustra a capa está um homem, porque Nick Cave continua a ser Nick Cave: o grande profeta do pop-rock, um dos poucos estetas da canção que várias décadas depois de começar carreira (nos anos 70) e de ganhar proeminência como autor e compositor celebrado (nos anos 80 e 90) continua com uma inspiração criativa fulgurante, editando discos novos com regularidade para gáudio dos fãs e da crítica.

Mas o mês de fevereiro de 2021 foi um mês sobretudo das mulheres, o mês em que cantoras e compositoras femininas voltaram a provar — ou talvez tenham provado como nunca antes — que os tempos em que estavam relegadas a segundo plano na indústria musical pertencem ao passado.

Esta playlist, que inclui 30 canções de discos que nos chamaram a atenção no último mês, prova a qualidade da produção feminina. Por aqui ouvem-se temas dos álbuns novos lançados pela nova-iorquina Cassandra Jenkins (uma das revelações do mês com o disco An Overview on Phenomenal Nature), pela canadiana Tamara Lindeman, mais conhecida pelo nome artístico The Weather Station (de quem falámos aqui), pela portuguesa Beatriz Pessoa (que lançou o seu primeiro álbum, Primaveras), pela australiana Tash Sultana, pela neozelandesa (mora na Austrália) Sarah Mary Chadwick e pelas norte-americanas Julien Baker e Lael Neale. Tratam-se de sete discos muito distintos entre si e que, não tendo sido obviamente escolhidos pelo género dos seus autores, mostram que no ofício de fazer canções ouvem-se cada vez mais vozes de mulheres que se afirmam como autoras.

A estas escolhas somam-se outros destaques, como a liturgia das canções de Nick Cave e Warren Ellis (no novo disco CARNAGE), a revisão da história do samba mais politizado feita por um músico e cantor brasileiro radicado no Porto, Luca Argel, e as diferentes abordagens ao rock apresentadas nos novos discos de Mogwai, Cloud Nothings, TV Priest e Black Country, New Road, estes últimos uma das novas sensações do indie e aqui mencionados no início do ano.

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As variantes jazzísticas dos portugueses Dada Garbeck (Rui Souza) e Luís Figueiredo também figuram, tal como as do veterano músico (baterista, mas também pianista e vibrafonista) Joe Chambers, da poderosa dupla composta por Archie Shepp e Jason Moran e dos ecléticos e modernamente inclusivos (por misturarem o jazz com estéticas mais recentes da música negra como o hip-hop e o funk) R+R = Now.

Destacamos ainda a synth-pop inspirada na folk turca dos Altin Gun, o hip-hop de Slowthai mas também de Ghetts, DJ Muggs & Rome Streetz e Curren$y, as explorações psicadélicas e de guitarra do álbum colaborativo que juntou o norte-americano Ryley Walker aos japoneses Kikagaku Moyo e as interessantes mesclas de estilos presentes em dois álbuns portugueses: Bem Bonda, dos Criatura, e Técnicas de Combate, do projeto musical social e politicamente mordaz Luta Livre.

Não faltam álbuns novos para descobrir através das canções aqui incluídas, numa lista que procura incorporar discos que nos chamaram a atenção em vários ritmos, géneros estilísticos, latitudes geográficas e abordagens musicais. Acompanhe-nos nesta viagem musical pelas novidades discográficas deste último mês (e recorde aqui a playlist de janeiro).