A pandemia não revolucionou o setor, mas acelerou a migração, bem como o investimento, de lojas e marcas de moda rumo ao online. Depois de semanas a fio em casa, com centros comerciais fechados e um apelo extra ao consumo via digital, negócios e clientes não vão regressar inteiramente aos hábitos pré-Covid. Quando o vírus der tréguas, comprar com um clique será uma sensação demasiado familiar para voltar a se substituída, por completo, por uma experiência presencial.
Do lado de marcas e lojas, o e-commerce tem sido o grande desafio do último ano. Penetrar no mercado online e tornar o processo de compra o mais simples e seguro possível exige investimento de tempo e dinheiro, mas também de experiência. É aí que entra a Minty Lab. “Ter um site não é sinónimo de estar presente no digital”, começa por refletir João Figueiredo, um dos fundadores da empresa que nasceu em 2019 para apoiar marcas e negócios, sobretudo na área da moda, a realizar a tão badalada transição digital.
No final do primeiro trimestre de 2020, a necessidade de ter uma estratégia para o online transformou-se numa questão de sobrevivência para dezenas de empresas do setor. Uma urgência que fez com que estruturas de apoio como esta ganhassem um papel fulcral na minimização do impacto económico da pandemia. “As marcas já queriam estar no online antes, sabiam que era esse o caminho. A pandemia fê-las perceber que era para ontem”, continua João.
A verdade é que o ano de 2020 foi generoso — a empresa portuguesa aumentou o lucro e triplicou o portefólio. A dupla fala em dez clientes, entre os quais estão as marcas portuguesas Rufel, Ambitious, Kaoa e Patachou, mas também a loja multimarca Sneakers Delight. O crescimento chegou aos 100%, no caso dos clientes presentes no online há menos de um ano. Nos restantes, o salto nas vendas está na ordem dos 62%. Na última semana, a Minty Lab anunciou o seu primeiro cliente internacional, que é também o primeiro na área da cosmética, a marca sueca Skin689.
“Depois, com os pontos de venda físicos fechados, todas as empresas que adiavam a digitalização perceberam que tinham de o fazer depressa e bem. Mas o facto de terem um site não significa que vão conseguir vender. É preciso criar uma estratégia digital em torno do negócio”, explica Ana Cravo, também ela fundadora. Da construção de uma plataforma apelativa e que sirva de montra online para o produto em questão ao serviço de pós-venda, passando pela adaptação da empresa ao canal, pelo serviço prestado ao cliente e pela logística, o apoio prestado pela Minty Lab acompanha todas as fases da digitalização de uma marca ou negócio.
Uma história que, em bom rigor, começa em 2015, com a criação da Minty Square, uma plataforma online multimarca que ainda hoje concentra várias marcas portuguesas de moda e desenvolve parcerias com designers nacionais. “A partir desse contacto com as marcas, através da Minty Square, começámos a perceber que elas tinham necessidade brutal de ter mais apoio no digital. Apareceram os marketplaces, mas continuavam a precisar de trabalhar o canal. Víamos isso no Portugal Fashion, por exemplo. Depois do desfile, o site de um designer não aguentava com a sobrecarga de acessos”, recorda João.
“Num único contacto, temos uma série de departamentos à disposição de uma marca”, refere Ana. Construção do site, conteúdos, fotografia, logótipo, logística, métodos de pagamento, questões legais, faturação, guias de transporte, relação com o cliente — a lista é extensa e uma novidade para as tais empresas que adiavam a transição digital. Para garantir o apoio necessário, a Minty Lab conta já com uma equipa de 20 pessoas. “Um dos grandes problemas é as marcas terem a perceção de que, internamente, conseguem fazer as coisas. Até podem conseguir arrancar, mas depois não crescem. O nosso objetivo é que as vendas apareçam”, refere João.
O portefólio continua a ser maioritariamente nacional e dedicado à moda, mas os dois sócios querem diversificar o alvo. A cosmética é uma indústria “bastante interessante”, mas o setor dos vinhos também está debaixo de olho. “Queremos transportar o lado sexy da moda para outras indústrias, onde é preciso renovação. Vamos tentar torná-las mais atrativas”, resume Ana Cravo.
No processo de lançar marcas no num mercado tão competitivo e global, a resistência na hora de investir continua a ser um dos principais entraves. “Por vezes, ainda não existe esse respeito pelo online. Há marcas que estão disponíveis a investir 50 mil euros — 100 mil euros até — numa loja física e que não têm essa disponibilidade para investir numa loja online, onde o raio de alcance é muito mais efetivo. Mas como não é palpável, há reservas”, assinala João.
Por outro lado, não há dúvidas quanto à resposta do consumidor: “está a mudar os seus hábitos”. “Mesmo as pessoas que estavam céticas, já se converteram. Não na totalidade, é certo, mas ganharam confiança suficiente”, conclui.