Dezoito organizações da sociedade civil moçambicana exigiram esta terça-feira ao Presidente da República, Filipe Nyusi, que “acione” pedidos de apoio internacional para combater os grupos armados no norte do país, considerando que a situação atingiu “proporções inaceitáveis“.
A posição das organizações da sociedade civil (OSC) surge numa carta aberta dirigida a Filipe Nyusi e que os subscritores encaminharam à Presidência da República.
Na carta, as referidas entidades querem que o chefe de Estado “acione apoio da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral [SADC], União Africana (UA) e outros parceiros internacionais” para o combate aos grupos armados que protagonizam ataques na província de Cabo Delgado.
Face ao ataque de grupos armados à vila de Palma, que se iniciou na quarta-feira, aquelas organizações defendem o resgate de crianças, raparigas e mulheres que se encontram nas mãos de insurgentes. Por outro lado, que sejam empreendidos esforços para a retirada de crianças, raparigas e mulheres de locais inseguros para lugares onde possa ser assegurada proteção contra a ação de grupos armados.
Exigimos informação regular e atempada pelo chefe de Estado sobre a situação de Cabo Delgado, informação exata e desagregada por género e faixa etária das populações afetadas, entre deslocadas, assassinadas e raptadas”, lê-se no documento.
A sociedade civil moçambicana quer também informação regular do governo sobre as condições nos locais de acolhimento das populações vítimas de violência armada. Deve ainda ser criado um espaço de diálogo com a sociedade civil visando a coordenação de ações de resposta à crise humanitária provocada pelos grupos armados. Aquelas organizações advogam igualmente a valorização e reconhecimentos dos jovens militares que tentam a todo o custo travar ação dos grupos armados.
Entre as organizações que subscrevem a carta inclui-se a Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC), que tem como presidente Graça Machel, uma das vozes mais influentes da sociedade moçambicana e membro ativo da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder.
No ataque do passado dia 24, em Palma, dezenas de civis foram mortos, segundo o Ministério da Defesa moçambicano. A violência está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes. O movimento terrorista Estado Islâmico reivindicou na segunda-feira o controlo da vila de Palma, junto à fronteira com a Tanzânia.
Vários países têm oferecido apoio militar no terreno a Maputo para combater estes insurgentes, cujas ações já foram reivindicadas pelo autoproclamado Estado Islâmico, mas, até ao momento, ainda não existiu abertura para isso, embora haja relatos e testemunhos que apontam para a existência de empresas de segurança e de mercenários na zona.