Israel e o Chile são dois dos países com maior taxa de vacinação contra a Covid-19 no mundo, mas o impacto no número de novos casos e de internamentos nas unidades de cuidados intensivos não podia seguir caminhos mais distintos.
Israel, que registou mais de 8.600 casos diários em meados de janeiro (média a sete dias), está agora com pouco mais de 300 (em média). O Chile, pelo contrário, enfrenta a pior fase da pandemia e já ultrapassou o número máximo de casos diários da primeira vaga (6.727 em média a sete dias).
Os dois países, ainda que lançados no processo de vacinação, começaram em momentos distintos e atingiram também etapas distintas. Enquanto Israel já tem mais de 56% da população totalmente vacinada (com as duas doses), no Chile só 22% da população recebeu a vacinação completa.
[Percentagem da população em Israel, Chile, Estados Unidos e Reino Unido que já receberam as duas doses da vacina contra a Covid-19]
A campanha de vacinação no Chile só arrancou em fevereiro, quando Israel já tinha administrado quase 60 doses por cada 100 pessoas no país. A 6 de abril, o Chile chegava perto desta marca (59 doses por cada 100 pessoas), mas Israel já vai nas 117 doses por 100 pessoas. Ainda assim, o Chile consegue estar à frente do Reino Unido e Estados Unidos que começaram a campanha de vacinação mais cedo.
Com tantas doses distribuídas porque é que o Chile atravessa uma fase tão grave da pandemia?
Todos os países e organizações internacionais têm apontado a vacinação contra a Covid-19 como uma etapa essencial para se controlar a pandemia, mas o que não pode deixar de se dizer é que os países precisam de manter as medidas de prevenção da transmissão do vírus, pelo menos, até que se atinja a imunidade de grupo — e isto considerando que as novas variantes não vão escapar completamente à resposta imunitária desenvolvida.
O Chile, no entanto, terá passado uma mensagem errada à população ou, no mínimo, incompleta, reporta o jornal El País: enalteceu-se demasiado o sucesso da campanha de vacinação, sem reforçar os riscos que ainda estavam presentes.
Depois do verão, em março, as atividades começaram praticamente sem restrições, as quarentenas nunca foram eficazes e a mobilidade da população aumentou consideravelmente”, conta um médico da plataforma ICovid Chile citado pelo jornal espanhol.
Os problemas, no entanto, já vinham de trás, em novembro o Chile abriu as fronteiras e em janeiro permitiu que os chilenos viajassem de férias, destaca o jornal The Guardian. Aliado a isto, o facto de não haver qualquer controlo sobre as viagens ou rastreio de quem chegava ao país vindos das férias, que pode justificar a presença das variantes britânica e brasileira no país, refere o jornal The New York Times.
Quando a vacinação teve início no Chile, os casos estavam a descer, mas nunca ficaram abaixo dos 3.500 por dia (média a sete dias) e, a 24 de fevereiro, ainda antes de se arrancar com a administração das segundas doses, o número de casos começou a subir a pique.
[Média de casos diário, a sete dias, no Chile e Israel.]
Sem a imunidade desenvolvida, apesar do esforço de vacinação, o Chile tem agora quase 2.900 doentes Covid-19 nas unidades de cuidados intensivos, e menos de 200 camas disponíveis para receber mais doentes.
O número de mortes diárias, no país sul-americano, também não é encorajador. Se, na primeira vaga, a maior parte das pessoas que chegavam aos cuidados intensivos e que morriam eram os idosos com mais de 70 anos, agora há mais internados entre os 40 e os 49 anos e a taxa de letalidade permanece igual.
Ou seja, a percentagem de pessoas que morre de uma infeção com SARS-CoV-2 mantém-se, mas morrem pessoas mais novas. Em Israel, pelo contrário, na última semana houve, em média, menos de uma morte por milhão de habitantes (o país tem cerca de nove milhões).
Os números não deixam margem para dúvidas, Israel teve uma quebra muito significativa no número de novos casos de infeção, internamentos e mortes desde que iniciou a campanha de vacinação massiva contra a Covid-19. A vida praticamente voltou ao normal pré-pandemia, mas as máscaras ainda são obrigatórias fora de casa e os ajuntamentos em espaços fechados estão limitados, noticia o jornal The Guardian.
O Chile, por sua vez, vai ter de voltar ao confinamento se quiser controlar a nova vaga que assola o país, escreve o jornal The New York Times.