O ministro dos Negócios Estrangeiros e o presidente do Comité da Cruz Vermelha Internacional (CCVI) acertaram esta segunda-feira estratégias de levar a “agenda da União Europeia a dar mais atenção” à “delicada” situação em Moçambique, revelou à Lusa o presidente da organização.

“Olhámos em conjunto para a delicadeza da situação e para a forma como a CCVI, enquanto organização, e Portugal enquanto membro importante [presidente em exercício do Conselho] da UE poderiam levar a agenda da União Europeia a dar mais atenção à situação em Moçambique”, revelou Peter Mauer, no final de uma audiência com Augusto Santos Silva no Palácio das Necessidades em Lisboa.

Portugal é uma das principais forças de apoio à resposta do governo moçambicano aos desafios [colocados pelo conflito em Cabo Delgado], a ICRC preocupa-se com o impacto humanitário, é óbvio que há pontos de contacto e coisas para discutir e, nesse sentido, foi útil para o ministro perceber o que fazemos e para nós perceber como Portugal está a conseguir apoiar o governo de Moçambique”, acrescentou o líder daquela organização humanitária.

O encontro de carácter protocolar — “faz parte dos procedimentos diplomáticos da CCVI, enquanto organização, consultarmos com a presidência [do Conselho] e olharmos para a agenda da [UE], para vermos como estimular o apoio ao trabalho humanitário neutral e imparcial”, na explicação de Mauer — foi largamente preenchido com a questão de Cabo Delgado.

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Outros interesses bilaterais de Portugal em regiões ou países “nos quais a CCVI está particularmente focada“, como os conflitos na região do Sahel ou na República Centro Africana (RCA) foram igualmente debatidos.

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Santos Silva e Peter Mauer discutiram ainda a “situação singular em que os assuntos humanitários ganharam importância em consequência da pandemia de Covid-19, que se somou a muitos outros problemas”, revelou o presidente da CCVI.

“Muitos estados e organizações humanitárias interrogam-se sobre o que podem fazer diferente, sobre como fazer mais para levar a comunidade internacional a ter mais impacto e relevância em relação a alguns assuntos humanitários importantes, como o combate à pandemia, o impacto de conflitos ou a interrelação entre as alterações climáticas e conflitos e muitos outros assuntos”, disse.

No “topo da agenda“, porém, esteve o “compromisso” de Portugal “com África e, em particular, com Moçambique”, disse Mauer. “Portugal tem interesses históricos fortes em Moçambique e analisámos a degradação da situação, em particular, em Cabo Delgado”.

A situação em Cabo Delgado exige muitas competências, abordagens, visões diferentes sobre as dinâmicas em causa e isto foi uma parte importante da discussão que tive com o ministro dos Negócios Estrangeiros”, esclareceu.

Mauer reconheceu que a CCVI não tem estado “envolvida no país de forma proeminente“, mas os desastres naturais provocados pela passagem dos ciclones Idai e Kenneth em 2019, e mais recentemente a “deterioração da situação” em Cabo Delgado, levou a um “incremento das atividades” Cruz Vermelha Internacional em Moçambique.

A exposição particular de Moçambique a desastres naturais, em particular a ciclones há dois anos, levou-nos a vir em auxílio humanitário. Estas duas as situações, os desastres naturais há dois anos e a acentuação da violência e os deslocados nos últimos dois meses desafiaram-nos consideravelmente enquanto organização humanitária, e foram os pontos que despoletaram o aumento do nosso envolvimento”, explicou Peter Mauer.

“No último par de meses o aumento da violência em Cabo Delgado provocou centenas de milhares de pessoas deslocadas e isto é um desafio humanitário. As cidades com Pemba em Cabo Delgado viram a sua população mais do que duplicar, em resultado das deslocações provocadas pelo aumento da violência em zonas remotas de Cabo Delgado”, descreveu o responsável.

“Isto desafiou-nos, enquanto organização humanitária, a encontrar uma resposta através da Cruz Vermelha de Moçambique. A CCVI aumentou consideravelmente as suas atividades” no país, acrescentou, sem especificar.