O vice-presidente da Confederação Empresarial da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CE-CPLP) considerou nesta terça-feira que Portugal “não tem agenda” para a comunidade lusófona, lamentando a falta de representação governamental na cimeira de negócios na Guiné Equatorial.

“Portugal não tem agenda para a CPLP. A CPLP é algo que não diz muito a Portugal”, disse Mário Simões, lamentando o que classificou como desinteresse do Governo português relativamente à componente económica e empresarial da comunidade.

O vice-presidente da Comissão Executiva da CE-CPLP falava à agência Lusa em Malabo, na Guiné Equatorial, onde na quarta-feira começa a primeira cimeira de negócios promovida pela organização e que contará com a presença de 250 empresas de Portugal, Angola, Moçambique e Cabo Verde, além da participação, presencial ou online, de chefes de Estado e ministros de vários países lusófonos. “De Portugal, infelizmente não temos a presença de nenhum membro do Governo”, disse Mário Simões, relacionando a ausência com a realização da cimeira na Guiné Equatorial. “A Guiné Equatorial é um país de pleno direito da CPLP. O argumento maior é que é a Guiné Equatorial, o que até do ponto de vista diplomático não é entendível”, disse, adiantando que gostaria de ter “uma explicação formal” para esta ausência.

O responsável considerou que “o desinteresse é notório, é óbvio”.

Admitindo que o Governo não tem estado representado em outras iniciativas da confederação, Mário Simões considerou que esta é uma atitude que contrasta com as declarações do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, sobre a necessidade de haver estratégias de proximidade com as populações.

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“Se não tivermos essa estratégia de tornar a CPLP mais robusta, a CPLP não faz sentido”, disse.

Mário Simões considerou que “a CPLP hoje não é uma verdadeira organização internacional, é uma espécie de federação de Estados unidos pela língua e por questões histórico culturais. Nada mais”, sustentando que “Portugal não lidera a agenda” na comunidade lusófona. Nesse sentido, assinalou a realização da recente reunião do Fórum PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), considerando que representa um reforço destes países que, segundo disse, estão como “uma agenda fortíssima no pilar económico”.

Estamos em vésperas da cimeira de Chefes de Estado e de Governo [da CPLP] de Luanda, onde vai ser introduzido formalmente o pilar económico, a CE-CPLP promove uma iniciativa destas na Guiné Equatorial e o Governo de Portugal não se faz representar? Acho muito estranho”, disse.

A Guiné Equatorial tornou-se em 2014 o nono país-membro da CPLP, juntando-se a Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

Cimeira de negócios junta 250 empresários lusófonos na Guiné Equatorial

Cerca de 250 empresários de Portugal, Moçambique, Angola e Cabo Verde reúnem-se, entre quarta e sexta-feira, na capital da Guiné Equatorial, Malabo, na primeira cimeira de negócios promovida pela CE-CPLP.

O vice-presidente da Comissão Executiva da CE-CPLP explicou, em declarações à Lusa, que o evento contará com a participação de “cerca de duas centenas e meia de empresários”, além de vários representantes institucionais dos países lusófonos.

“Estão empresários de Portugal, Moçambique, Angola e Cabo Verde”, disse, adiantando que a maior delegação é a portuguesa, com cerca de 70 empresas. Angola participará com perto de 30 empresas e Moçambique com mais de 20. Cabo Verde terá presente uma missão com “quatro ou cinco empresas e com a maior câmara de comércio do país”, adiantou.

O chefe de Estado de Cabo Verde e presidente em exercício da CPLP, Jorge Carlos Fonseca, deverá intervir online no encontro, enquanto o ministro da Indústria, Comércio e Energia, Alexandre Monteiro, estará em Malabo. A anunciada participação do Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, não deverá concretizar-se. São Tomé e Príncipe estará representado ao mais alto nível com a presença do Presidente da República, Evaristo Carvalho, que com o anfitrião, Teodoro Obiang, serão os únicos chefes de Estado a participar presencialmente na cimeira. De Angola, está prevista a participação de uma delegação liderada pelo ministro da Indústria e do Comércio, Victor Fernandes, enquanto a representação de Portugal deverá ser assegurada pelo representante em Malabo, Frederico Silva.

A iniciativa será oficialmente aberta pelo Presidente da República da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, estando igualmente previstas, durante os três dias do encontro, intervenções do ministro das Minas e Hidrocarbonetos, Gabriel Mbega Obiang Lima, e da ministra das Pescas e dos Recursos Hídricos, Adoración Salas Chonco, do presidente da CE-CPLP, Salimo Abdula, ou do diretor-geral da CPLP, Armindo de Brito Fernandes.

O encontro de empresários tem como objetivos “consolidar a integração” da Guiné Equatorial na CPLP e “demonstrar o potencial, enquanto país de recursos e oportunidades, colocando-o na rota do investimento estrangeiro”, segundo a organização.

“A ideia é fazer cimeiras económicas nos países da CPLP e a Guiné Equatorial foi o primeiro país a disponibilizar-se”, disse Mário Simões, adiantando que estão já marcadas cimeiras para Angola, em julho, e Guiné-Bissau, em novembro. “O que pretendemos é levar a todos os países da CPLP, um conjunto de empresas que querem apostar neste mercado”, acrescentou.

Gás, turismo, agricultura, pescas, valorização de ativos, banca, formação são alguns dos setores das empresas portuguesas que participam na cimeira de negócios, a maioria das quais visita o país pela primeira vez à procura de oportunidades de investimento.

Devido à pandemia de Covid-19, a Guiné Equatorial tem em vigor um conjunto de medidas restritivas, incluindo o uso obrigatório de máscara, a limitação a um voo internacional por semana, a apresentação de testes PCR negativos ou prova de vacinação para entrada no país, bem como a proibição de circulação entre regiões ou a limitação da participação em atividades de culto ou casamentos.

Fontes ouvidas pela agência Lusa apontam que a vigência do decreto com as restrições terminou a 30 de abril, mas que não foram divulgadas ainda novas medidas, mas acreditam no anúncio do alívio de restrições nos próximos dias para enquadrar a realização da cimeira.

“As empresas não podem continuar fechadas em casa e nos seus escritórios. Esta abertura do mercado da CPLP é para ajudar as empresas, ao fim de um ano confinadas, a poderem voltar a sair e a abrir portas para outras oportunidades de negócios”, disse, por seu lado, Mário Simões.

A cimeira, que decorre no Centro Internacional de Conferências do Simpopo, inclui ainda uma exposição de empresas e vários momentos culturais, incluindo uma homenagem ao fado e à morna, classificados como Património Imaterial da Humanidade.

A Guiné Equatorial é o terceiro país produtor de petróleo da África subsaariana, a seguir à Nigéria e a Angola, e possui importantes reservas de gás natural, numa economia fortemente dependente do setor dos hidrocarbonetos, que em 2016 representava cerca de 60% do Produto Interno Bruto (PIB).

A economia do país está em terreno negativo há vários anos, devendo retomar o crescimento em 2021. De acordo com as estimativas do Instituto Nacional de Estatísticas da Guiné Equatorial (INEGE), esse crescimento deverá ser de 2,8%. A Guiné Equatorial acordou com o FMI um programa de resgate financeiro de 282,8 milhões de dólares, cerca de 231 milhões de euros, no final de 2019, recebendo apenas nessa altura 40 milhões de dólares, menos de 33 milhões de euros.

A Agência Lusa viajou para a Guiné Equatorial a convite da Confederação Empresarial da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa