Das quatro vacinas contra a Covid-19 autorizadas para uso em Portugal (ou na União Europeia), apenas uma pode ser usada em menores de 18 anos, a Comirnaty da farmacêutica Pfizer. E, mesmo assim, não muito menos — podem ter 16 ou 17 anos. Entretanto, esta e outras farmacêuticas já iniciaram os ensaios clínicos para os mais jovens, mas ainda nenhuma foi aprovada abaixo dos 15 anos.

Mesmo Israel, que lidera a campanha de vacinação em todo o mundo — com cerca de 60% da população totalmente vacinada (segundo dados do Our World Data) — ainda tem cerca de 2,6 milhões de crianças abaixo dos 16 anos por vacinar por falta de aprovação de uma vacina contra a Covid-19 nestas faixas etárias.

O plano de vacinação em Israel poderá, no entanto, vir ser alargado a estas idades em breve, depois de a agência do medicamento norte-americana (FDA, Food and Drug Administration) aprovar o uso da vacina da Pfizer/BioNTech dos 12 aos 15 anos, refere a Reuters. Por agora, e até ao início de março, já tinham sido vacinadas 600 crianças destas idades, fora de um ensaio clínico, por sofrerem de doenças que as tornavam mais vulneráveis ao coronavírus SARS-CoV-2, noticiou o jornal The Guardian na altura.

Israel já vacinou 600 crianças até aos 16 anos e não registou efeitos secundários graves

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O jornal The New York Times avança que a autorização para uso de emergência da vacina da Pfizer/BioNTech em jovens entre os 12 e os 15 anos pode ser dada pela FDA já na próxima semana. No fundo, será uma adenda à autorização já existente para maiores de 16 anos e apoiada nos dados divulgados no final de março.

Dos 1.131 jovens norte-americanos vacinados nestas idades, nenhum adoeceu com Covid-19 — contra 18 em 1.129 no grupo placebo (que tomou uma vacina não-Covid) — e todos os vacinados desenvolveram uma boa quantidade de anticorpos contra o SARS-CoV-2, refere um comunicado da empresa, sobre os dados que ainda não foram publicados numa revista científica.

[A vacina] foi bem tolerada, com efeitos secundários, na generalidade, consistentes com os que tinham sido observados nos participantes dos 16 aos 25 anos”, refere o comunicado da Pfizer.

No final de março, a empresa deu início também ao ensaio clínico com crianças entre os 6 meses e os 11 anos (começando pelas faixas etárias mais velhas) e espera poder ter resultados na segunda metade de 2021. Mas a vacinação deste grupo não deverá começar antes de 2022, escreve o jornal The New York Times. A Pfizer/BioNTech planeia também um ensaio clínico com crianças com menos de seis meses.

A Moderna também deu início aos ensaios clínicos com crianças dos seis meses aos 11 anos em meados de março.

Já a Universidade de Oxford, em conjunto com a AstraZeneca, começaram os ensaios clínicos com crianças em fevereiro e pretendiam incluir 300 crianças a partir dos seis anos (começando pelos mais velhos, dos 12 aos 17 anos), mas o plano foi suspenso no início de abril, por causa dos relatos de coágulos sanguíneos em alguns adultos após a vacinação.

Certo é que os ensaios clínicos com crianças ainda vão demorar tempo até ficarem concluídos. Os planos apresentados à Agência Europeia de Medicamentos não antecipam estar finalizados antes de março de 2024 — isto, no caso da Janssen. No extremo oposto, com data de término em março de 2025, está o plano da Novavax, cuja autorização de entrada no mercado da vacina ainda está a ser avaliada pela EMA.

Precisamos mesmo de vacinar as crianças?

Um dos problemas que tem sido levantado pelos especialistas é que será impossível atingir a imunidade de grupo se os jovens abaixo dos 16 anos não forem vacinados — só nos Estados Unidos correspondem a mais de 20% da população. Mas também não se sabe se será possível atingir a imunidade de grupo ou sequer se esse deverá ser o objetivo das campanhas de vacinação.

Por outro lado, ainda não se sabe que papel têm as crianças na disseminação do vírus e que risco constituem para os adultos não vacinados. Além disso, a larga maioria das crianças não sofre de doença grave ou chega sequer a ser hospitalizado — ainda assim, há algumas crianças a sofrerem de sintomas graves devido à infeção.

O que se sabe sobre a síndrome inflamatória que pode afetar as crianças depois de terem Covid?

“Acho que ainda é uma questão em aberto até onde teremos de ir com este programa [de vacinação] para colocar as coisas sob controlo”, disse Adam Finn, envolvido nos testes de vacinas pediátricas contra a Covid-19 na Universidade de Bristol, citado pelo The Guardian. “[Imunizar crianças] precisa ser feito ou não? Se não for preciso, então não se deve fazer.”

Rinn Song, pediatra e investigador no Grupo de Vacinas de Oxford, também deu ao jornal britânico um argumento para que a vacinação dos mais novos não aconteça num futuro próximo: enquanto houver escassez de vacinas e os grupos de risco nos países de baixo e médio rendimento não estiverem vacinados.

Israel, por sua vez, está mais preocupado com a campanha de promoção da vacina que terá de fazer junto dos pais das crianças a vacinar, isto porque uma sondagem de uma televisão local verificou que apenas 41% dos pais israelitas planeiam vacinar os seus filhos contra a Covid-19.