Está desfeito o tabu: o PSD não vai apoiar a candidatura independente de Isaltino Morais a Oeiras. Alexandre Poço, líder da JSD, será o candidato de Rui Rio à Câmara Municipal de Oeiras. A decisão vai ser anunciada em breve.

Os sociais-democratas estavam dispostos a apoiar a candidatura independente de Isaltino Morais, mas as divisões internas na direção de Rui Rio e, sobretudo, os recentes desenvolvimentos na Operação Marquês abalaram as convicções da cúpula, como explicava na quinta-feira o Observador.

Tal como pode acontecer com José Sócrates, também o crime de corrupção de que era acusado Isaltino Morais prescreveu — facto que não passou despercebido quando o jornal “Público” deu destaque à semelhança entre os dois casos e explicou que José Sócrates pode beneficiar do mesmo regime de prescrições que foi aplicado a Isaltino Morais.

Se o caso já era delicado, um eventual apoio à candidatura independente de Isaltino neste contexto colocava um problema de narrativa ao PSD: o partido teria dificuldades em abençoar a corrida de Isaltino Morais e, ao mesmo tempo, condenar publicamente o estado da Justiça à boleia das decisões tomadas no âmbito da Operação Marquês (“o povo não entende esta decisão [de Ivo Rosa]”; “o regime está doente”; “a justiça já demonstrou não estar capaz de se credibilizar”; “o país vive na impunidade”, Rui Rio dixit).

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O autarca foi condenado pelos crimes de fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais e cumpriu pena de prisão efetiva. Em entrevista ao Observador, a 18 de fevereiro, Rui Rio arrumou a questão da seguinte forma:

“Civicamente, alguém que efetivamente é condenado, cumpre pena de prisão e depois sai, essa pessoa não pode estar condenada à prisão perpétua. Em Portugal, não há prisão perpétua. Não sou favorável a que alguém que teve uma penalização grave como essa deva ser excomungado da sociedade, perseguido e deva estar numa situação limite até ao fim da sua vida.”

Na direção de Rui Rio, no entanto, David Justino e Isabel Meirelles, ambos ‘vices’ do partido, sempre manifestaram muitas reservas em relação ao apoio a Isaltino Morais. O líder social-democrata acabou por ceder e abdicar de um vitória que, mesmo sendo sempre de Isaltino, devolveria o PSD ao centro do poder político de Oeiras.

As estruturas locais, do PSD, queriam Isaltino e Rio estava, inicialmente, disposto a aceitar a decisão. Armando Soares, presidente do PSD/Oeiras, formalizou o apoio à candidatura independente de Isaltino Morais e esteve ao lado do autarca no dia em que apresentou a candidatura. Também a distrital do PSD/Lisboa estava disposta a abençoar a decisão.

O plano, aliás, estava gizado há muito: Isaltino Morais abdicava de apresentar candidatos a determinadas juntas de freguesia para permitir ao PSD que entrasse nesse espaço. Arredado do poder desde 2013, seria uma forma de os sociais-democratas reconquistarem influência numa das principais autarquias do país.

Aliás, Isaltino Morais já deu a entender que, vencendo estas eleições, o próximo ciclo será o último como autarca. Se o PSD recuperasse peso na Câmara, estaria na pole position para, em 2025, tentar ganhar em definitivo a autarquia de Oeiras. Acabou por não acontecer.

Apoio do PSD a Isaltino em Oeiras em risco

Um jotinha não alinhado com Rio

Alexandre Poço, de 28 anos, natural de Oeiras e consultor de profissão, é líder da JSD desde 2020, sucedendo a Margarida Balseiro Lopes. Nessas eleições, derrotou Sofia Matos, a grande favorita da atual direção do PSD.

Deputado eleito nas legislativas, Poço apoiou Miguel Pinto Luz nas últimas eleições internas do partido. Na segunda volta, esteve com Luís Montenegro.

Como deputado, chegou a votar contra o fim dos debates quinzenais com o primeiro-ministro no Parlamento, ao contrário da indicação da bancada social-democrata.

Menos de dois meses depois de ter sido eleito líder da JSD, escreveu uma carta aberta aos líderes dos três partidos da direita — PSD, CDS e Iniciativa Liberal — para que se juntassem numa grande coligação nacional de direita nas próximas eleições autárquicas.

A relação entre os dois acabou por estabilizar. O líder social-democrata chegou a usar um Conselho Nacional para elogiar a seriedade do líder da jota até por oposição à sua antecessora, Balseiro Lopes, que Rio sempre responsabilizou pelas fugas de informação do que se passava na direção mais restrita do PSD.

Alexandre Poço, deputado que votou contra fim dos quinzenais, é o novo presidente da JSD