Depois de dois meses de transmissão, a primeira temporada da versão portuguesa de “Hell’s Kitchen”, encabeçada pelo chef estrelado Ljubomir Stanisic, tem a sua semifinal este domingo, dia 23. Alguns concorrentes do formato televisivo não despiram a jaleca e aproveitaram a boleia da sua participação no programa para criar negócios e marcas próprias, que vão além dos pratos que cozinharam para aprovação de Ljubomir e dos espectadores.

Muitos trouxeram bagagem do concurso, outros que ainda estão em jogo pouco podem adiantar sobre o tema, mas o que é certo é que estes participantes da versão portuguesa do programa— que se tornou icónico lá fora pelas mãos de Gordon Ramsay — acabaram por tirar do papel alguns negócios que estavam pensados aproveitando agora a alavanca da sua participação para os lançar.

Os temperos e os molhos têm peso na balança desta vida além do programa, com Francisca Dias e Rafael Ribeiro e as suas respetivas marcas, mas também houve quem quisesse dedicar-se à pastelaria — foi o caso de Hélder Guimarães e Daniela Silva. Cândida Batista ficou-se pelo serviço de chef em casa, mas em Viena, na Áustria.

Está para nascer um restaurante filho do formato televisivo, ainda que Lucas Fernandes, António Pedro Magalhães e Diogo Filipe estejam a deixar a semente para que isso aconteça. A famosa Dona Ana, a concorrente da Mealhada cozinheira num refeitório, revelou num direto de Instagram do canal de Carnaxide que tem o desejo de abrir um boteco “para tratar as miudezas e fazer petiscos”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A grande semifinal do programa vai para o ar este domingo às 21h45, na SIC, e coloca frente a frente os quatro finalistas: Francisca Dias, Lucas Fernandes, Rute Palas e Cândida Batista. Até lá, é navegar pela vida paralela dos concorrentes.

Hell’s Table

Lucas Fernandes, António Pedro Magalhães e Diogo Filipe

Lucas, António e Diogo encabeçam o projeto ao qual não querem chamar de restaurante. O Hell’s Table é antes uma estrutura que o trio de concorrentes montou para proporcionar “uma experiência com menus de degustação aos clientes”, palavras de Lucas, que acolheu na sua terra, Vila Verde, em Braga, o projeto recente. Uma mesa, seis lugares e um menu rotativo— é disto que é feito o Hell’s Table.

“Foi sobretudo pela situação atual pela qual o Diogo estava a passar, quisemos criar oportunidades já que nós os três nos tornámos amigos durante as gravações do programa”, conta Lucas. “Queríamos também criar de alguma forma um conceito de referência com comida nacional e ingredientes de qualidade”.

Os três admitem que neste projeto não há grandes limites na criação, enquanto que no programa estavam reduzidos às criações que lhes eram impostas para a execução das tarefas de forma igual. Aqui é diferente, há mais liberdade. O menu vai mudando regularmente, consoante o que está disponível no que diz respeito aos produtos frescos e está também diretamente ligado às empresas que Lucas já detinha, a Finesseleague, que se dedica à venda de carne maturada (com processos naturais), e a Vintage Sequence, uma quinta com criação de bovinos Wagyu  e porcos Mangalitsa. “A garantia que existe qualidade no que se come no Hell’s Table passa também pelo produto que escolhemos apresentar, não só pela confeção — até porque nós já tínhamos os três experiência em cozinha”, refere Lucas.

Começaram a servir apenas há duas semanas, mas as marcações vão de vento em popa — até novembro têm calendário cheio, uma vez que servem apenas às sextas e sábados. O mês de Dezembro vão deixar em aberto para “estarem mais flexíveis e disponíveis para outros clientes”.

Assim que é feita a reserva através do Instagram, os cozinheiros entram em contacto com as pessoas, sobretudo para perceber se “há restrições alimentares para que possa haver adaptações de menu”, explica António. Numa mesa de seis lugares, o trio admite que já teve reservas de grupos onde todos se conheciam ou o contrário, em que juntaram várias pessoas que não estavam juntas — neste caso, o cliente é sempre informado. Os preços, à cabeça, variam entre os 70 e os 90 euros, sem bebidas. Está ainda disponível um pairing de bebidas não alcoólicas feito por António, que realça também que quando um cliente volta ao Hell’s Table “nunca irá comer o mesmo que já comeu noutra refeição ali”.

“Apesar do protagonismo que o programa nos deu a todos, não podemos negá-lo e sabemos que parte da visibilidade vem do Hell’s Kitchen, o nosso objetivo não é fazer render essa fama ao máximo, queremos antes deixar uma semente agora para conseguirmos colher os frutos depois”, confessa o jovem de Vila Verde. “O investimento aqui é grande e queremos ter uma infraestrutura que nos permita crescer e continuar a fazer o nosso trabalho, que é aquilo que gostamos. Estou grato pelo António e o Diogo terem tido a disponibilidade de calçar os meus sapatos e terem-se juntado”.

A experiência é vivida nesta mesa com apenas seis lugares e consoante reserva ©SinopseAgencia

Cisca Massala

Francisca Dias

Antes de integrar a equipa do Hell’s Kitchen, Francisca Dias já tinha dado cartas na cozinha e no fine dining, tendo passado pelo Feitoria e depois pelo Rossio Gastrobar, ambos restaurantes do chef João Rodrigues. Mas entre tachos, panelas e câmaras de televisão, Francisca, juntamente com a sua mulher Tânia Semedo, deu nome a uma marca de temperos, molhos e conservas: a Cisca Massala.

“Sempre quisemos ter um projeto nosso, algo em que pudéssemos trabalhar as duas. Quase todos os produtos do Cisca Massala são coisas que sempre usamos e comemos cá em casa, e perguntei à Francisca o que ela achava da ideia, de fazermos chegar a outras cozinhas as conservas e os temperos que fazem parte do nosso dia a dia”, conta Tânia. Dito e feito. Começaram apenas com conservas e temperos, mas rapidamente perceberam que os molhos seriam uma adição necessária à equação, até porque, segundo palavras de Tânia“tudo o que pode ser enfrascado, pode existir no Cisca Massala”.

Francisca já tinha experiência em alta cozinha antes de entrar no Hell’s Kitchen. Agora juntou-se à mulher para criar a própria marca ©DR

A visibilidade que o programa tem dado a Francisca ao longo da competição de cozinha, ajudou a impulsionar o negócio. As vendas têm “superado todas as expectativas” que o casal tinha no início, notando que as pessoas assim que experimentam acabam por se tornar fiéis clientes da comodidade que é ter tudo concentrado num frasquinho e pronto a usar.

Nos molhos estão na lista o de mostarda caseira e mel (110gr, 3,50 euros), o de hummus com beringela queimada (120gr, 3,50 euros), o Massala BBQ (110gr, 4 euros), molho de vinagrete caseiro (120 ml, 4 euros), o molho romanesco à base de pimento, tomates assados e avelãs (110gr, 5 euros) e ainda o pesto de manjericão e amêndoa (110 gr, 5 euros).

No que diz respeito aos temperos, crescem as opções a começar com o Citrus, com citronela, tomilho e gengibre (100gr, 3,50 euros), o Pau p/ toda a obra, com pimenton de la vera, alho e salsa (100gr, 3,50 euros), a pasta de alho com ervas aromáticas (100gr, 3,50 euros), o tempero do Raul com massa de pimentão caseira (100 gr, 4 euros), o Machu Picchu também com massa de pimentão mas com vinagre e cominhos (100 gr, 4 euros) e ainda o Massala Hot, um piri-piri com especiarias caseiro (120 ml, 4,50 euros).

As conservas estão pensadas sobretudo para a partilha. Nesse campo é ver novamente a lista crescer com pickles de cebola roxa (100gr, 3,5 euros), alho confitado em azeite (100gr, 4 euros), ovos de codorniz em conserva (12 unidades, 6 euros), orelhas e rabo de porco avinagradas (260 gr, 8 euros), carapau em conserva (120gr, 8 euros), escabeche de coelho (230 gr, 10 euros), codorniz confitada (180gr, 11 euros), bochechas guisadas com molho coreano (200gr, 11 euros), ovas de pescada (100 gr, 13 euros) e polvo em conversa (150gr, 13 euros).

E há ainda uma nota a acrescentar que pode interessar a quem põe de parte a proteína animal: à exceção das conservas que têm carne e peixe todos os outros produtos são vegan. As encomendas podem ser feitas no Instagram, email (ciscamassala@gmail.com) ou página do Facebook, sendo que os envios chegam a todo o país via transportadora.

A marca de Francisca Dias divide-se entre molhos, temperos e conservas ©DR

Go Nuts

Hélder Guimarães

Logo a seguir a ter gravado o programa, Hélder percebeu que queria aventurar-se nos doces — a pastelaria nunca tinha sido uma área explorada ao longo da sua carreira até aqui e, uma vez que o seu trabalho em Londres está pendente, atirou-se de cabeça para a GoNuts. A marca criada pelo ex-concorrente dedica-se exclusivamente ao fabrico de cronuts, uma especialidade que nasceu em 2013 numa pastelaria nova iorquina e que casa dois bolos conhecidos: o croissant e o dónute.

Enquanto está suspensa o seu regresso a Londres, Hélder quer consolidar a sua marca de cronuts ©DR

“Depois do programa, comecei a fazer testes, a aperfeiçoar receitas até conseguir ter uma minha, que estivesse como eu queria”, conta Hélder. “Cá em Portugal não havia quase nada sobre este doce, então decidi aventuar-me”. A GoNuts tem seis sabores fixos (3,5 euros) que variam entre o Coffee Break, com recheio de caramelo e espuma de café; o New York New York com recheio de morango e crumble de brownie; o  B&W com caramelo salgado e brigadeiro negro e branco; o Coco-bueno com baunilha, chocolate e coco; o Romeu e Julieta com recheio de frutos vermelhos; O Pistacho e Manga com os respectivos. Além disso, tem sempre disponível o cronut simples (2,50 euros) e duas novidades a entrar: o cronut de Oreo e o Chocolate Lovers.

Hélder faz entregas de quarta a sábado em Lisboa e na Margem Sul, sendo que a taxa de entrega varia consoante a distância. As encomendas, com um mínimo de três cronuts, são feitas por WhatsApp (928 118 686) ou mensagem de Instagram com uma antecedência mínima de 24 horas. “A pastelaria dá-me muito gozo e faço isto com muita dedicação — dou o melhor de mim e não admito falhas comigo mesmo”, refere o ex-concorrente que admite ter aprendido novas técnicas no programa que contribuíram para o seu crescimento pessoal. “Um dos meus objetivos é tornar-me num chef cada vez melhor e sinto que a parte da pastelaria deixava-me mais limitado e agora tenho mais bases e posso dá-las a provar às pessoas”.

Apesar de estar em Portugal por agora, Hélder planeia voltar às cozinhas em Londres, onde tem o seu trabalho fixo. Lá já trabalhou no catering de eventos da BAFTA (British Academy Film Awards) e agora é sous-chef no novo espaço da academia. Quando voar para terras de Sua Majestade, o jovem quer continuar com o GoNuts, deixando por cá alguém formado e responsável pelos cronuts e que mantenha o negócio a correr.

Este é um dos novos cronuts, o de Oreo, que passa a estar disponível no menu ©DR

Brilha com Segredo

Rafael Ribeiro

Trabalhar para outros “não é tão lucrativo quanto gostaria e nem se tem o mérito que devia” — é Rafael quem o diz, um dos concorrentes mais jovens que passou pelo Hell’s Kitchen. Diz que sempre pensou em ter o próprio negócio, algo que “não fosse tão intenso e que pudesse ser útil às pessoas”, mas sobretudo que conseguisse exportar sem perder a qualidade. Foi nos temperos que encontrou essa janela de oportunidade para criar o Brilha com Segredo.

Rafael estava habituado à comida bem temperada feita pela sua família, daí ter optado pelos temperos na hora de criar uma marca ©Cátia Barbosa

“Os meus pais e os meus avós sempre cozinharam muito e a comida era sempre muito saborosa, muito bem temperada”, conta. “Comecei a perceber que muita gente não sabia que juntar esta com aquela especiaria dava sabor, ou que quantidades usar de determinadas ervas”, diz. Perante a lacuna que achava existir, Rafael pôs mãos à obra e começou a encher frasquinhos de molhos, doces e temperos que pudessem ser usados de forma exclusiva, sem que, durante o cozinhado, fosse necessário acrescentar qualquer outro tempero além das suas misturas Brilha com Segredo. “A cozinha tem de ser simples e há coisas que podem ajudar a simplificar tudo, é o caso destes temperos”, refere o ex-concorrente que já tinha pensado na marca antes de entrar para o concurso televisivo.

Os frascos aumentaram a sua capacidade desde o lançamento da marca, para que “ficassem mais em conta”, diz. Para juntar a panquecas, a bolinhos ou ao iogurte, Rafael sugere o Dcce de Fava Tonka (7,10 euros/200ml), uma mistura de especiarias e mel, com textura mais consistente. Se estivermos a falar de grelhados ou pratos de forno o ex-concorrente diz que o Doce e Picante (7 euros/200ml) é o tempero ideal para conseguir uma boa caramelização, enquanto que a Massa de Pimentão (5,25 euros/200ml) fica para os refogados ou para envolver a carne. Além destes, existem ainda os temperos Segredo para Carnes (5 euros/80gr) e o Segredo Para Peixes, Legumes e Sopas (5,25 euros/60gr), estando disponível o pack experiência com os cinco temperos por 15 euros (100ml e 40gr). As encomendas fazem-se através do Instagram ou por telefone (919 585 518).

“É um pouco de tudo, eu quero ter o meu próprio restaurante, quero errar, quero crescer, e se estiver a trabalhar para outro não vou ter. O que eu gosto é de cozinhar e não vou parar — o Brilha com Segredo é um extra na minha vida que quero manter e fazer crescer”. Além da marca, Rafael continua a dar formações de cozinha e é chef num novo restaurante em Loures, o Petisc’Art, depois de ter saído do Monsantos Open Air.

Existem cinco temperos e doces diferentes, cuja utilização na cozinha deve ser exclusiva, defende Rafael ©NoLimits

Miss Blueberry Catering

Daniela Silva

Era comum no programa ver Daniela quase sempre de volta das sobremesas, até porque a pastelaria é, de facto, o seu mar de navegação dentro da cozinha. Apesar da pouca experiência neste mundo, até porque a jovem é formada em comunicação empresarial e marketing, Daniela criou há cerca de dois anos a própria empresa de catering de eventos, a Miss Blueberry Catering, que opera na zona do Grande Porto.

Daniela abandonou o programa devido a um problema de saúde, mas continuou com o seu projeto de catering ©DR

A partir dela, Daniela continua, mesmo após o programa, a fazer festas de aniversário, almoços e jantares, brunches, piqueniques, e tudo o que sejam eventos de empresas — para orçamentos basta enviar email (missblueberrycatering@gmail.com ou WhatsApp 915777137). Além disso, aceita também encomendas de bolos, sobremesas e petiscos a título individual, e faz entregas de boxes especiais de brunch ao domicílio. No site da empresa é possível agendar o catering de um piquenique (35 euros) ou agendar uma experiência chef em casa — que faz parte do pacote de experiências Airbnb — a partir de 72 euros por pessoa.

Além do serviço de catering, Daniela aceita também encomendas de salgados ou doces a título individual ©DR

Cândida Batista – Private chef

Cândida Batista

A passagem de Cândida pelo programa tem sido marcada pela sua frontalidade na cozinha e para com os concorrentes do formato. Vive em Viena, na Áustria, e quando chegou a Portugal para gravar o Hell’s Kitchen já trazia consigo uma pesada bagagem por ter passado por cozinhas chefiadas por Gordon Ramsay ou Konstantin Filippou. Na cidade austríaca continua a prestar serviço de chef em casa e em eventos, sendo possível agendar refeições preparadas por Cândida através do seu site. Além de cozinheira, a brasileira é também modelo e já foi capa da revista Playboy, e partilha regularmente numa outra conta de Instagram fotografias mais ousadas, deixando algum conteúdo exclusivo para a plataforma OnlyFans e para o Patreon. “Tenha em mente de que não ‘paga para me ver nua’, está apenas a entrar numa área mais exclusiva (que por acaso é bem mais sensual do que minha conta pública normal). Por favor, não espere encontrar aqui material pornográfico, mas sim imagens de bastidores, conteúdo exclusivo, fotos sem censura e autorretratos”, avisa a concorrente natural do Rio de Janeiro para notar a diferença da sua conta de Instagram pessoal, onde publica sobretudo comida e como a confecionar.

Cândida equilibra, sem tabus, a sua vida de cozinheira e de playmate. ©DR