João Cotrim Figueiredo, líder da Iniciativa Liberal, considera que existe um clima de “medo” que tolda a participação pública e cívica daqueles que não se identificam com o PS. Para o deputado, existe uma “sensação de que o PS em tudo manda”, o que não é mais do que um sintoma, disse, do controlo que os socialistas fizeram e estão a fazer “do aparelho do Estado”.
No primeiro dia da terceira edição do congresso do Movimento Europa e Liberdade (MEL), o deputado e presidente da IL apontou vários casos em que, no seu entender, o PS se tem comportado como dono do país.
Desde a nomeação de Mário Centeno como governador do Banco de Portugal, transitando diretamente do Ministério das Finanças, ao afastamento do ex-presidente do Tribunal de Contas, Vítor Caldeira, da não recondução de Joana Marques Vidal, antiga Procuradora-Geral da República, Teodora Cardoso, do Conselho das Finanças Públicas, passando pela “nomeação de boys” para Segurança Social, o novo modelo das CCDR ou fim dos debates quinzenais, tudo, para Cotrim Figueiredo, são sinais desse excesso de poder.
“Estamos a caminhar para uma sociedade receosa“, denunciou Cotrim, dizendo mesmo que há gente com “medo de dar a cara” contra a dominação do PS. “O Estado está refém de um único partido, o PS”. Para o liberal, o “nó do desalento social” é um dos quatro nós de que Portugal se tem de libertar se quiser ser um “país melhor”.
O nó da “estagnação económica” é o outro fator de entropia denunciado por Cotrim. Para o deputado, o Governo continua sem dar respostas em áreas como a fiscalidade, a produtividade, os salários, a competitividade e o investimento estratégico.
Cotrim Figueiredo alertou ainda para os riscos de uma má execução dos fundos europeus. “O Governo prepara-se para se agarrar a uma tábua de salvação, a bazuca europeia, que acentua o fenómeno de dependência face à UE e que é feito nas costas dos portuguesas”, disse.
Em particular, o líder da IL questinou as decisões que o Governo tomou na TAP. “O Estado não tem nada que ser dono de uma companhia aérea. A TAP levou mais de metade dos apoios que levaram todas as outras empresas vítimas deste fenómeno. É uma desproporcionalidade quase imoral”, disse, denunciando aqulio que considera ser a “incompetência”, a falta de “transparência” e de “verdade” do Governo em todo o processo.
“A TAP não vale 2% do PIB, qualquer aluno do primeiro ano de economia que dissesse isto seria chumbado”, sugeriu.
O deputado defendeu também o fim da “cultura de desresponsabilização” que funciona igualmente como “nó” ao desenvolvimento do país. “Ninguém é responsável por nada em Portugal“, criticou Cotrim.
O liberal referiu-se depois aos exemplos do ministro do Ambiente e das polémicas barragens da EDP, às raspadinhas do património criadas pela ministra da Cultura, Graça Fonseca, e, claro, do “campeão da inimputabilidade“, o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita.
Cotrim Figueiredo elegeu ainda o “nó da inexistência de ambição” como quarto e último fator que explica um país ultrapassado pelos seus pares europeus.
As linhas vermelhas e o caderno de encargos da IL
Antes mesmo de terminar, o presidente da Iniciativa Liberal reservou uma parte do discurso para definir a posição do partido em qualquer futura aliança de direita. Mesmo sem concretizar esse plano, Cotrim Figueiredo elencou os princípios de que o partido nunca abdicará e as exigências que fará para fazer parte de qualquer solução de poder.
O deputado deixou claro que a IL jamais alinhará num “discurso da desvalorização das pessoas“, apontando críticas às decisões tomadas por Rui Rio, seja sobre o fim dos debates quinzenais, seja sobre o discurso assumido em relação ao Novo Banco.
Por outro lado, salvaguardou Cotrim referindo-se implicitamente a André Ventura, a Iniciativa Liberal não contribuirá para alimentar “visões populistas” e “não liberais da sociedade”. “Não contem connosco”, disse.
Quanto às possíveis convergências, o presidente da IL definiu o seu caderno de encargos: qualquer aliança que queira contar com os liberais terá de encontrar respostas de “simplificação e desagravamento fiscal”, na garantia da “liberdade de escolha dos serviços públicos“, nomeadamente na Educação e na Saúde, para um projeto de “descentralização” e no desenho de mecanismos de maior “transparência“. “Temos de ter um país muito mais transparente”, rematou.
Passos sobre Rio: “Terei muito gosto em ouvi-lo”
A presença de Pedro Passos Coelho na III Convenção do Movimento Europa e Liberdade (MEL) já ia sendo anunciada nos bastidores a poucas horas do arranque dos trabalhos.
O antigo primeiro-ministro tornou-se, naturalmente, o centro das atenções da comunicação social ali presente. Durante o intervalo da manhã, e para evitar que andassem “atrás” de si, Pedro Passos Coelho aceitou fazer uma curta declaração aos jornalistas durante o intervalo da manhã.
“Vim assistir com muito interesse a esta convenção como de resto fiz nas duas anteriores. Julgo que há um espaço de debate e de liberdade que é muito importante de estimular e promover no país “, afirmou ex-primeiro-ministro.
Questionado sobre se vai assistir aos dois dias de trabalhos e se vai ouvir Rui Rio na quarta-feira, o Pedro Passos Coelho garantiu que fará gosto em estar presente. “No caso de Rui Rio, presidente do PSD, terei muito gosto em ouvi-lo”, disse.